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'Nova pobreza'

Simone de Mello20 de outubro de 2006

Políticos alemães se confrontam com um antigo problema que até então não tinha este nome: a pobreza de uma nova classe baixa completamente excluída do mercado de trabalho.

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Muitos alemães dependem de instituições de caridade para comerFoto: dpa

A Alemanha está envolvida num amplo debate sobre a pobreza no país. Casos recentes de maus tratos e assassinatos de crianças em famílias pobres atribuíram cores mais vivas aos números revelados por recentes estatísticas. Após a divulgação de uma pesquisa da Fundação Friedrich-Ebert, ligada ao Partido Social-Democrata, sobre o surgimento de uma nova classe baixa na Alemanha, o tema foi debatido pelo Parlamento em Berlim, por requerimento do Partido de Esquerda e dos verdes.

A discussão parlamentar em torno do problema até agora aparentemente relevado levou, num primeiro momento, a uma troca de acusações entre os partidos e à controvérsia sobre a pertinência do termo "classe baixa" para a camada empobrecida da sociedade alemã.

Pobreza: uma questão terminológica?

A esquerda e os conservadores social-cristãos atribuíram à política de cortes sociais do governo Schröder a culpa pelo atual quadro de pobreza. O Partido de Esquerda acusou o antigo governo de conceder privilégios fiscais a empresários e ricos, fomentando a concentração de renda. Os social-democratas, por sua vez, qualificaram de ultrapassada a fórmula esquerdista de tentar resolver a pobreza por meio de benefícios sociais exclusivamente bancados pelo Estado.

Segundo a estatística da Fundação Friedrich Ebert, 8% dos alemães são pobres. Se esta camada da população deve ser denominada "classe baixa", "novos pobres" ou "precariado" (Prekariat) – aqui as opiniões divergem. Mas para políticos alemães de todos os partidos, o termo "classe baixa" soa a combate político e, longe de apontar para uma solução do problema, apenas discrimina ainda mais a parte da população afetada pela pobreza.

Comodismo ou exclusão social?

O presidente do Partido Social Democrata, Kurt Beck, acirrou ainda mais a polêmica numa entrevista recente, declarando que uma classe baixa cada vez mais representativa estaria se conformando de forma letárgica com sua situação, sem revelar qualquer vontade de ascensão.

Enquanto o debate político dos últimos anos na Alemanha foi dominado pelo fracasso das estratégias governamentais de combate ao desemprego, a criação de um novo sistema social que integra ajuda social e seguro-desemprego mudou o enfoque do debate.

Cresce cada vez mais a pressão do governo para que desempregados não se "acomodem" em sua situação e se mantenham dependentes da ajuda do Estado. E cada vez mais se fala em combater – nem tanto o desemprego, mas sim – o pretenso "comodismo" do desempregado.

No debate parlamentar em torno da "nova pobreza", o Partido Verde acusou a coalizão de governo democrata-cristã e social-democrata de exigir demais da população, sem lhe propiciar chances de ascensão.

Alemanha, um país dividido

Uma pesquisa da Fundação Hans Böckler, ligada aos sindicatos, revelou que existem milhões de pobres ignorados pelo sistema social. Um milhão e novecentas mil pessoas, entre as quais um milhão de crianças, que teriam direito a receber ajuda social e/ou seguro-desemprego não requerem nenhum tipo de auxílio do Estado. São pessoas que vivem numa pobreza escamoteada pelas estatísticas.

As novas pesquisas reiteram problemas existentes desde a reunificação do país, para os quais, no entanto, nem o governo conservador-liberal de Helmut Kohl e nem a coalizão de centro-esquerda sob Gerhard Schröder conseguiram solucionar.

Por um lado, trata-se do abismo que separa o Oeste do Leste do país: a "nova pobreza" atinge 20% da população dos Estados da antiga Alemanha Oriental e 4% no Oeste do país. Todas as medidas de recuperação da infra-estrutura do Leste custaram enormes investimentos e não propiciaram uma transição satisfatória da economia planificada para a economia de mercado.

Pobreza a longo prazo

Por outro lado, o problema é a sedimentação da carência econômica em alguns segmentos da sociedade. Mais de cinco milhões de alemães correm o risco de ficar para sempre na pobreza. Trata-se, sobretudo, de desempregados, mães solteiras e estrangeiros.

Social-democratas e verdes exigem medidas governamentais especiais para esses grupos. Uma proposta seria criar um setor público de empregos para desempregados de longo prazo que não têm chance nenhuma no mercado de trabalho. A Agência Federal de Trabalho estima que haja 400 mil pessoas nesta situação.