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Nova York vai às urnas após campanha focada em justiça social

Monika Griebeler, de Nova York (av)4 de novembro de 2013

Favorito nas pesquisas, democrata Bill de Blasio defende moradias acessíveis e taxação de fortunas. O adversário dele, o republicano Joseph Lhota, fala em reduzir impostos para empresas e proprietários de imóveis.

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Foto: DW/M. Griebeler

Num grande quadro no escritório da organização humanitária Coalition for the Homeless, sem-teto nova-iorquinos deixaram suas mensagens ao ainda prefeito Michael Bloomberg – que qualificou os abrigos para eles como "mais confortáveis do que nunca".

Eles são a outra Nova York, menos visível do que os cintilantes arranha-céus de Manhattan ou a cena criativa jovem do Brooklyn. Eles amargam uma vida de privações, lá nos limites extremos da cidade. E estão furiosos: "Você acha agradável comer comida mofada?" ,questiona um deles.

"A política de Bloomberg para os desabrigados é, no geral, um desastre", critica Patrick Markee, da "Coalizão". "A carência de moradia cresceu 65% nos 12 anos de mandato dele, nunca houve tanta gente sem casa como agora."

Segundo estatísticas da municipalidade, mais de 51 mil pessoas buscam abrigo a cada noite, entre elas cerca de 21 mil menores. "De fato, famílias e crianças formam grande parte dos sem-teto de Nova York", informa Markee. "E cada vez elas passam mais tempo nos abrigos; em média, 13,5 meses."

Mais do que um problema nova-iorquino

Injustiça crescente; aluguéis astronômicos, com tendência ascendente; poucos ricos que, no entanto, mantêm a economia em movimento; e muitos pobres, que também querem viver: problemas semelhantes existem em várias outras metrópoles. E isso leva o interesse pelas eleições municipais desta terça-feira (05/11) para além das fronteiras dos Estados Unidos.

"Não há dúvida, Nova York é uma cidade em que é muito melhor viver hoje do que há 10, 20, 30 anos", afirma o repórter Sam Roberts, do New York Times. No fim da década de 1970, a cidade estava quase falida.

Michael Bloomberg
Michael Bloomberg: Nova York para os ricosFoto: picture alliance / AP Photo

"A criminalidade grassava, por toda a parte havia favelas e casas abandonadas." A classe média se refugiou nos subúrbios, e a metrópole procurou sua cura no neoliberalismo: menos verbas para fins sociais, mais atrativos para as grandes empresas, resume Roberts.

Na figura do republicano Bloomberg, em 2002 um desses grandes empresários assumiu o poder. Um prefeito autocrático, dizem seus críticos. E no entanto, sob sua administração Nova York se tornou mais segura, mais limpa e mais abastada.

A taxa de criminalidade bate recordes negativos; há mais ciclovias, mais parques e áreas verdes; e os 8,3 milhões de nova-iorquinos vivem mais tempo e mais saudáveis do que uma década atrás.

No entanto, há um grande "senão": "Não é uma cidade onde o custo de vida seja acessível", comenta o jornalista Roberts. Segundo as estatísticas da prefeitura, 45% vivem abaixo do limite da pobreza ou apenas um pouco acima. "Mas para isso, Bloomberg não tem ouvidos."

Bill de Blasio und Joe Lhota
Candidatos a prefeito Bill de Blasio (d) e Joe LhotaFoto: Reuters/Peter Foley

Aluguel suado

No leste do distrito de Manhattan, Howard Brandstein está sentado diante de uma antiga sinagoga, mordendo uma couve-de-bruxelas crua. Aqui fica o 6th Street Community Center, do qual ele é diretor.

Brandstein veio para o Lower East Side no fim dos anos 70, "quando o governo ainda fazia algo pelas pessoas". Antes, esta parte de Manhattan era uma zona operária. Hoje em dia, ela lembra, antes, o bairro berlinense de Kreuzberg: supermercados de produtos naturais ao lado de cafés da moda, intercalados por pequenos jardins comunitários.

"A aristocratização [gentrification] desde meados de 1980 é realmente espantosa", comenta Brandstein, apontando para as casas de tijolo à vista do outro lado da rua. "Tudo isso é propriedade particular. Alugar um apartamento pequeno de três quartos custa, no mínimo, 2 mil dólares por mês."

Em 2008, os nova-iorquinos gastavam, em média, 28% de seus vencimentos com o aluguel. Um ano mais tarde, já eram 34%, podendo chegar até 50%, no caso dos baixos assalariados. "As pessoas têm que lutar, trabalhar duro e se esfalfar só para conseguir pagar o aluguel", condena o líder comunitário.

Bettler in der Fifth Avenue in New York
Pedinte na Fifth AvenueFoto: picture-alliance/ dpa

E a classe média encolhe. "Pouco tempo atrás, eu perguntei a uma funcionária pública como ela definia 'classe média'. Ela disse: 'Uma unidade familiar que ganha mais os menos 100 mil dólares por ano'", relata o repórter do Times Sam Roberts. "Em qualquer outro lugar, isso já significaria ser rico, ou pelo menos bem de vida. Em Nova York os custos de vida são tão altos, porém, que só basta para ser classe média."

Bloomberg: pelo bem-estar de poucos

Sob o governo do republicano Bloomberg, Nova York se transformou num produto de luxo, atraente para turistas e bilionários – muitos dos quais, amigos do prefeito. Ele suspendeu o tombamento histórico de 40% da área urbana, e desde então se constrói sem parar: o Waterfront de Brooklyn-Queens, o projeto Hudson Yards no extremo oeste de Manhattan, ou mesmo em pleno centro da cidade.

É raro o local onde não se vejam andaimes: o plano de Bloomberg é que, a longo prazo, o crescimento em benefício de poucos enriquecerá toda Nova York. No entanto, até agora essa promessa não se cumpriu.

De fato, foram erguidas mais de 200 mil unidades residenciais. "Mas apenas uma pequena parcela delas é realmente pagável. As novas construções são apartamentos de luxo", acusa o jornalista Roberts.

New York
Idílio urbano no Lower East SideFoto: DW/M. Griebeler

Uma cidade, duas histórias

Então: como manter Nova York uma metrópole moderna e vibrante, sem deixar ninguém para trás? Essa é a pergunta central nas presentes eleições. O democrata Bill de Blasio – que atualmente atua como ombudsman entre o eleitorado e a prefeitura – é considerado o candidato mais promissor, também pelo fato de registrar a história de duas cidades: a Nova York dos ricos e a dos pobres.

"Sem uma mudança de direção drástica, sem uma política econômica que combata a desigualdade e consiga recuperar nossa classe média, as gerações futuras só conhecerão Nova York como playground dos ricos", alertou o político de 52 anos num discurso de sua campanha eleitoral.

De Blasio tenciona elevar o imposto local sobre fortunas; mandar construir moradias novas e financiáveis; eliminar os privilégios tributários para grandes empresas e concedê-los às de menor porte.

Seu adversário nas eleições desta terça-feira, o republicano Joseph Lhota, pretende reduzir os impostos para empresas e proprietários de imóveis. Além disso, o ex-presidente do metrô nova-iorquino promete subsídios às firmas encarregadas de construir residências acessíveis.

De Blasio quer que os nova-iorquinos vivam bem, para que a cidade se beneficie. Lhota quer que Nova York prospere, para que os cidadãos tenham o seu quinhão. Uma cidade dividida tem agora a escolha.