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Sem os EUA

24 de fevereiro de 2010

Um novo órgão agrupará 33 países da América Latina e do Caribe. A meta é dispor de uma voz única, em nivel internacional. Será que a Organização dos Estados Americanos fracassou? A DW falou com um especialista alemão.

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Lula (e) Chávez e Calderón durante encontro em Playa del CarmenFoto: AP

Uma nova organização em breve irá se juntar à longa lista de entidades que, em níveis diferentes, representam os países da América Latina e Caribe na arena internacional. O órgão ainda não tem nome oficial nem estatutos, e sequer possui uma data específica para iniciar operação.

No entanto, não são poucos os líderes regionais que qualificaram como histórico o nascimento da nova instituição, criada durante a recente Cúpula da Unidade do Grupo do Rio, realizada em Playa del Carmen, próximo a Cancún. O fórum regional integrará um total de 33 países-membros, tanto do Grupo do Rio como da Comunidade do Caribe (Caricom) e irá operar em paralelo com a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Com a exclusão dos Estados Unidos e do Canadá, que perspectivas de êxito tem o novo órgão? Como a Europa observa o surgimento desse novo interlocutor? Como resolver as tensões internas entre países como Venezuela e Colômbia? A Deutsche Welle conversou sobre essas questões com Nikolaus Werz, cientista político da Universidade de Rostock, na Alemanha.

No ano do bicentenário

Para Werz, não é nenhuma coincidência os países da América Latina e Caribe concordarem exatamente agora com o nascimento de um novo fórum regional. "Estamos no ano do bicentenário da independência dos Estados latino-americanos. Temos de ver a decisão partir dessa perspectiva", ressaltou o cientista político alemão. Uma decisão eminentemente política, então, de evolução "imprevisível" desde o início, devido às tensões e conflitos de interesses exibidos por muitos dos seus membros.

Treffen der Rio Gruppe in Mexiko
Para especialista, novo órgão do Grupo do Rio é como 'uma UE sem França e Alemanha'Foto: AP

Países como a Colômbia e a Venezuela não podem estar mais distantes em matéria de relações internacionais. Como, por exemplo, com relação aos EUA, o grande ausente da nova organização. Enquanto Bogotá é o principal aliado de Washington na América Latina, Caracas faz do confronto com o vizinho gigante do norte uma de suas principais estratégias.

Segundo Werz, as tensões se manifestam também já no processo de criação da nova organização de Estados. Seus estatutos deverão começar a ser desenvolvidos e discutidos na próxima cúpula do Grupo do Rio em 2011 na Venezuela, ou, o mais tardar, no Chile, em 2012. "Obviamente, não dará no mesmo o fórum estar sob os auspícios de Caracas ou de Santiago", diz o cientista político, "dois países com governos de cores políticas diametralmente opostas".

Na Europa "é difícil de se entender"

Mas a União Europeia encara o nascimento dessa nova comunidade de latino-americanos e caribenhos? Segundo Werz, simplesmente "é difícil de se entender". "É como se fosse criada uma União Europeia sem a participação da França e da Alemanha", diz o perito da Universidade de Rostock, referindo-se à ausência dos EUA e Canadá. "Precisamos de um único interlocutor, e a essa longa lista de instituições – como Grupo do Rio, Caricom, Unasul, OEA – é agora acrescentada mais uma."

A nova Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos poderá responder aos desafios? De acordo com o especialista alemão, isso ainda não se pode prever. "As declarações são apenas iniciais, no momento. As informações ainda são demasiadamente recentes", afirma Werz.

Por outro lado, o politólogo reconhece que o surgimento de um novo fórum regional é sintomático. "A OEA fracassou na hora de responder a alguns desafios", aponta. Além disso, ele constata a perda de peso dos EUA na região. "Outros atores, como a China e também a União Europeia, vêm ganhando presença na América Latina", especialmente em termos econômicos. Trata-se de interlocutores novos que precisam de uma nova plataforma.

Autor: Emili Vinagre (md)
Revisão: Augusto Valente