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O alemão e a mania de poupar

Peter Zudeick (rw)23 de maio de 2016

Ninguém guarda tanto dinheiro para tempos difíceis como o alemão. Sobretudo o suábio é conhecido pelo controle de gastos. Na última coluna sobre clichês na Alemanha, Peter Zudeick escreve sobre o hábito de economizar.

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Ninguém guarda tanto dinheiro para tempos difíceis quanto o alemão
Foto: Fotolia/PA

Como se tornar um alemão em 50 passos

De saída, vamos deixar uma coisa clara: o alemão é econômico, mas não é pão-duro. A avareza é o reverso da ganância, e o alemão não se deixaria acusar disso. Os sovinas são os escoceses, talvez também os franceses. Afinal, foi o francês Molière que trouxe a representação clássica da avareza ao palco, com a peça de teatro O avarento.

A mesquinhez é uma aberração, um exagero. Poupar é conter-se: lidar de forma moderada com dinheiro e bens. "Poupa a tempo, que terás na necessidade", diz um ditado alemão. Ou ainda: "Com parcimônia e dedicação, as casas ficam maiores".

O bom pai de família, esse símbolo de burguesia alemã, é, acima de tudo, uma coisa: econômico. Ele zela para que o creme dental seja aproveitado até o último miligrama. Se necessário, cortando o tubo. Ele mostra à família como usar o sabão líquido: gotinha por gotinha.

E ele cuida para que as lâmpadas não fiquem acesas inutilmente, que o chuveiro seja desligado enquanto a pessoa se ensaboa, que o saquinho de chá seja usado ao menos duas vezes, e assim por diante. Isso não é exagero. Minha mãe costumava cortar os pacotes de leite vazios antes de jogá-los fora, para se certificar de que estavam vazios.

Não só o alemão é econômico

Claro que a parcimônia não foi inventada pelos alemães. Ela era considerada uma virtude já entre os antigos romanos. E ela é proverbial entre suíços e holandeses. Mas a economia alemã tem fundamento na filosofia.

"Economizar em todas as coisas é um ato racional da pessoa que pensa justo", disse Immanuel Kant. Ou seja: economizar não é apenas um ato de sensatez e de bom senso, mas um ato de integridade. Nesse sentido, até mesmo Martinho Lutero declarou: "O centavo economizado vale mais do que o trabalhado."

O talento de economizar é um dom especialmente desenvolvido entre os suábios. E há até a piada: "Como surgiu o fio de cobre? É que dois suábios queriam a mesma moeda de um centavo." A anedota vale também para escoceses. E há até uma com escoceses e suábios: "O que é um perpetuum mobile (movimento perpétuo)? Um escocês correndo atrás de um suábio que lhe deve um centavo".

Isso obviamente não é engraçado, pois o suábio não é mais nem menos econômico que, digamos, o prussiano. Ou o alemão do norte do país. Ou o bávaro. Os alemães têm uma aversão inata ao desperdício e outros excessos. Tanto literalmente quanto de forma figurativa. Desperdiçar é algo característico dos países do sul, algo não confiável.

Mas, sim, há exceções: as pessoas da Renânia em geral são consideradas de pouca confiança, levianas, com tendências ao desperdício e a uma vida imprudente. E não só no período de Carnaval. Mas nesta época com maior intensidade. As influências do sul da Europa são evidentes na Renânia. Colônia, por exemplo, costuma se considerar a cidade mais setentrional da Itália, por isso, ela não conta.