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O Brasil na imprensa alemã (04/11)

4 de novembro de 2020

A importância das eleições nos EUA, uma biografia do "buldôzer que arruína o Brasil" e o processo da advogada alemã que vendia falsas plantações de eucalipto na Bahia foram destaque na mídia da Alemanha.

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 Donald Trump e Jair Bolsonaro
Bolsonaro (dir.) se diz "maior fã" de Trump

Handelsblatt – Para Brasil e México, um segundo mandato de Trump viria a calhar (01/11)

Há muito os Estados da América Latina acompanham com grande atenção as eleições nos Estados Unidos. Pois com frequência elas têm consequências decisivas para os países do México à Argentina. Durante décadas, os poderosos de Washington consideraram a região como seu "quintal", praticamente sua zona de influência natural. É fato que, em tempos de reconfiguração dos desafios globais, isso acabou, porém a eleição presidencial americana tem significado especialmente grande para os pesos-pesados México e Brasil.

O vizinho ao sul reconquistou nos EUA o posto de principal parceiro comercial, também graças às sanções americanas contra a China. Mercadorias no valor de 1 bilhão de dólares atravessam diariamente a fronteira do México para os EUA.

E o Brasil e seu presidente radical de direita Jair Bolsonaro são os aliados políticos mais estreitos de Donald Trump no continente americano. Bolsonaro se define como "maior fã de Trump" e deseja ao "amigo" boa sorte na [eleição da] terça-feira.

[...]

Sob [o candidato democrata Joe] Biden, contudo, os governos latino-americanos vão ter que se preparar para mudanças nos temas meio ambiente, clima e direitos humanos, os quais voltariam a se tornar linhas-mestres da política externa americana.

Seria um golpe especialmente duro para o Brasil se Biden adotasse o curso da União Europeia, exigindo padrões para o meio ambiente e a proteção da Amazônia, mas também em temas como a política de gêneros. "Seria difícil a América Latina ignorar uma frente unida entre os EUA e a Europa", frisa o especialista em assuntos latino-americanos Ben Ramsey, da JP Morgan.

No primeiro debate televisivo entre Trump e Biden, o democrata provocou diretamente o Brasil e seu chefe de Estado: ou Bolsonaro aceita a ajuda de 20 bilhões de dólares para preservar a floresta amazônica, ou vai ter que arcar com as consequências econômicas.

Assim, não espanta que Bolsonaro aposte no presidente em exercício. "Trump e eu nos encontramos três vezes nos últimos anos, posso sempre ligar para ele quando há alguma coisa urgente", gosta de se gabar Bolsonaro. Caso Biden vença a eleição, o Brasil poderá ficar ainda um pouco mais isolado do mundo.

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Prometido, mal-entendido, seduzido (03/11)

[Resenha da biografia Bulldozer Bolsonaro. Wie ein Populist Brasilien ruiniert (Buldôzer Bolsonaro. Como um populista arruína o Brasil), de Andreas Nöthen.]

O que faz no Brasil alguém que não tem dinheiro e não estudou muito? Jair Bolsonaro foi para o Exército, para o garimpo – e para a política. A prova de que esta última pode ser lucrativa são os numerosos casos de corrupção que, do ponto de vista alemão, são algo de tirar o fôlego.

A corrupção não é um fenômeno especificamente brasileiro, ela é um mal que atravessa muitos países da América do Sul e Central. Isso tem consequências graves. Na América Latina, por vezes domina a noção de que um militar seria menos corrupto do que um politico. No Brasil, foi Bolsonaro, um ex-capitão, quem recentemente se beneficiou dessa mentalidade. Um homem que, para usar o termo do jornalista Andreas Nöthen, age como um "buldôzer", um arrasa-quarteirão.

Nöthen, que viveu no Brasil com a família de 2016 a 2019 e atualmente trabalha como porta-voz, descreve em sua biografia do presidente brasileiro como um simples cidadão chegou ao topo do maior Estado da América do Sul e que solo fértil a política lhe forneceu para essa incrível ascensão.

Se não se soubesse que as narrativas se baseiam em acontecimentos reais, a tentação seria descartá-las como histórias absurdas. E não há como não constatar: o "país do futuro", como o escritor Stefan Zweig designou o Brasil, de certo modo elegeu o passado em 2018. Pois do que Bolsonaro tem abertamente nostalgia é da ditadura militar, cujo fim já conta 35 anos.

[...]

Mas quem quiser entender como instituições políticas são capazes de perder a confiança da população, deve ler esse livro. A quantidade de nomes mencionados nele pode, em parte, confundir. Porém o forte de Nöthen é justamente não fixar o olhar sobre Bolsonaro, e sim periodicamente fazer excursões pela história brasileira e explicar como o populista de direita conseguiu se tornar, de político de segunda linha, no homem mais poderoso de seu país.

Kölner Stadt-Anzeiger – Fraude de investimentos no Brasil (03/11)

Uma advogada da cidade de Colônia terá que responder diante do Tribunal Estadual [da Renânia do Norte-Vestfália] por cumplicidade em fraude de investimentos e desfalque. A jurista especializada em direito econômico teria recrutado em toda a Alemanha investidores para um projeto ilícito. O processo começou nesta segunda-feira.

Num dos casos, um investidor aplicou mais de 100 mil euros [R$ 664 mil] em parcelas de um terreno no estado da Bahia, onde seriam criadas grandes plantações de eucalipto, destinados à produção de biomassa para geração de energia elétrica. O lucro prometido era de, no mínimo, 10%. Após cinco anos, suas quotas seriam compradas de volta. No entanto o investidor nunca mais viu seu dinheiro.

Ao todo, oito outros defraudados em toda a Alemanha tiveram um prejuízo total de 239 mil euros. Segundo a Promotoria, os investidores confiavam especialmente como advogada na ré, que funcionou como mediadora dos negócios. A ela haviam sido prometidos 3% de comissão.

O defensor Lukas Pieplow disse que de início sua mandante ainda acreditara na idoneidade do projeto de investimento. Mais tarde, contudo, totalmente endividada, ela também desviou vários milhares de euros para sua conta particular. Agora corre um processo de insolvência privada. A ré devolveu sua licença advocatícia.

O processo já está há cinco anos na Justiça de Colônia, não tendo sido tramitado devido à sobrecarga das câmaras penais. Numa acareação preliminar, os juízes a advogada não excluíram a possibilidade de encerrar o processo com uma sentença branda de um ano em liberdade condicional. Segundo a defesa, isso não colocaria em perigo o novo cargo da jurista numa repartição pública. O processo prossegue.