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O Brasil na imprensa alemã (29/05)

29 de maio de 2019

Em entrevista à revista 'Der Spiegel', Lula diz se considerar preso político e que situação atual do Brasil tem relação com 'interesses das petroleiras americanas'. Imprensa ainda destaca rebelião em presídio de Manaus.

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Imagem de perfil do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (da esquerda para a direita), que veste camiseta azul-marinho
Lula sobre Bolsonaro: "O povo não pode permitir um presidente que bate continência para a bandeira americana" .Foto: picture-alliance/AP/A. Penner

Der Spiegel – "Bolsonaro é como o imperador Nero: incendeia todo o país", 24/05/2019

Em entrevista, ex-presidente brasileiro fala sobre a solidão em sua cela e explica, por que ele acredita que seu sucessor vai destruir tudo.

SPIEGEL: O senhor contava com a prisão?

Lula: Alguma coisa me dizia que desde que começou a Operação Lava Jato, que tinha um endereço certo: o Lula. Eu intimamente ficava imaginando que não era possível fazer o impeachment da Dilma, e depois permitir que o Lula seja reeleito presidente da República. Não combina.

O senhor se considera um preso político?

Eu sinceramente me considero um preso político. O juiz Moro, que me condenou, foi nomeado ministro da Justiça pelo novo presidente, Jair Bolsonaro. Poucos dias atrás, Bolsonaro anunciou publicamente que havia combinado com Moro para alçá-lo no próximo posto vago na no Supremo Tribunal Federal. Isso prova que tudo foi um jogo de cartas marcadas.

No seu governo a economia andou bem, milhões saíram da pobreza. Seguiu-se um declínio político e econômico. No ano passado, o radical de direita Bolsonaro foi eleito presidente. O que está acontecendo com o seu país?

Na economia não existe mágica. (...) Você tem que ter credibilidade para ser respeitado (...). E foi assim que eu governei. O mundo inteiro sabia, por isso que eu digo, a solidariedade da Angela Merkel (...) porque as pessoas falavam que nós estávamos fazendo as coisas corretas. (...) O Brasil chegou (...) em 2009 próximo de ser a quinta economia do mundo. (...) E agora virou esse desastre, (...) o Bolsonaro tá mais para Nero do que para presidente do Brasil, parece que ele tá colocando fogo no país, ou seja, não existe no dicionário deles a palavra emprego, não existe a palavra crescimento, não existe a palavra investimento, desenvolvimento, não existe a palavra construir, educação, ou seja tudo neles é para destruir tudo, como se fossem uma praga de gafanhoto. E o povo não pode permitir um presidente da República que bate continência para a bandeira americana.

O PT não tem uma certa responsabilidade nesse declínio? Prometeu combater a corrupção e, agora, o próprio partido está envolvido em vários escândalos de corrupção.

Vamos ver se na história do Brasil tem um partido que mais criou instrumento de combater a corrupção do que o PT. (...) Não apenas nas mudanças de ordens jurídicas, transformando em leis, mas também de transparência, como o PT se comportou. (...), se houver corrupção, ela começa a aparecer. O PT não se exime disso, tá? (...) Os que jogaram contra o PT não foi por conta dos erros, mas por conta dos acertos. (...) Então, sabe, eu tô carregando a minha cruz aqui, tá. Agora, pode ficar certo que os pecados foram outros que cometeram, e eu quero provar isso.

A Justiça diz que houve um esquema gigantesco de corrupção dentro da Petrobras para financiar os partidos.

Mentira. Pode ter havido um ou outro caso, a Petrobras é uma empresa muito grande, que passou a movimentar 30 bilhões por ano de investimento. (...) eu me convenci que o que aconteceu no Brasil tem a ver com os interesses das petroleiras americanas. (...) A elite brasileira, junto com elite das petroleiras do mundo, não admitem a lei da partilha que nós fizemos, dizendo que o petróleo é do povo brasileiro, e 75% dos royalties serão destinados à educação, para que o Brasil recupere no século 21 o atraso do século 20 (...).

É por isso que era preciso derrubar a Dilma, é por isso que era preciso fazer o impeachment. E era por isso que que criaram todas as condições ilegais para evitar que o Lula fosse candidato a presidente, porque eles sabiam que mesmo preso eu seria eleito o presidente da República.

A Venezuela vive uma crise muito pior do que o Brasil. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, viajou para a posse de Nicolás Maduro. O governo brasileiro, ao contrário, reconheceu Juan Guaidó como presidente interino, assim como a Alemanha e muitos outros países.

Foi um erro da Alemanha reconhecer. A Alemanha não era obrigada a obedecer aos americanos. Ninguém pode se autoproclamar presidente. 

Frankfurter Allgemeine Zeitung – As celas da morte brasileiras, 29/05/2019

A rebelião de domingo (26/05) eclodiu durante o horário de visitas. Parentes relataram sobre o caos no interior do presídio. Do lado de fora, tristeza e perplexidade dominaram, e são ainda maiores porque foi o segundo massacre do tipo em dois anos. Em 2017, houve dois massacres entre presidiários em Manaus e, pouco depois, em Roraima, com cem mortos. Vários dos assassinados na época haviam sido encontrados decapitados ou mutilados.

Os massacres de 2017 foram o resultado de uma guerra de gangues dentro das prisões. Membros da "Família do Norte" local (FDN) acertaram contas com prisioneiros que pertenciam ao "Primeiro Comando da Capital" (PCC) de São Paulo, a maior organização criminosa do Brasil. As duas organizações vêm lutando há vários anos para controlar a rota amazônica, usada para contrabandear drogas – especialmente cocaína – dos vizinhos Colômbia, Venezuela, Peru e Bolívia pela Amazônia para o Brasil. A FDN continua a dominar a rota amazônica. Mas, recentemente, teria havido conflitos no interior da organização, o que é interpretado como motivo provável pelas mortes nos presídios de Manaus.

O PCC controla a maioria das prisões do Brasil. Os líderes da organização, que se estima ter 20 mil membros, controlam os negócios de dentro das prisões. As transações, até agora, incluíram principalmente o tráfico de drogas via Bolívia e Paraguai. O PCC também teria "representantes" em outros países da região.

O avanço do PCC para o Norte e o Nordeste do Brasil, porém, desencadeou uma onda de violência. Ela é mais evidente nas prisões das regiões afetadas, onde desde o final de 2016 houve uma série de sangrentos acertos de contas.

Os combates são favorecidos pelo sistema prisional brasileiro sobrecarregado. Em vez de separar os membros de gangues inimigas e dar-lhes uma saída do crime, os prisioneiros são amontoados em condições precárias. O Brasil tem mais de 400 mil vagas em estabelecimentos prisionais, mas mais de 700 mil prisioneiros. Mais de um terço são os chamados prisioneiros provisórios que aguardam pela sentença na prisão. Em muitos casos, os prisioneiros saem do cárcere mais criminosos do que entraram.

RK/ots

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