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O Brasil na imprensa alemã (29/11)

29 de novembro de 2017

Prisão do "Rei do Ônibus" na Operação Lava Jato e "máfia" dos transportes públicos no Rio de Janeiro são tema. Jornais também destacam milagre da Chapecoense, um ano após tragédia.

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Pessoas esperam ônibus em parada do Rio
"Transportes urbanos do Rio vêm passando longe das necessidades da maioria dos usuários", diz jornalFoto: Getty Images/AFP/Y. Chiba

Süddeutsche Zeitung – A máfia dos ônibus, 25/11/2017

Jacob Barata Filho, de 62 anos, conhecido como "O Rei do Ônibus", herdou do pai, Jacob Barata, seu império. Este se compõe de uma frota de 6 mil ônibus, com a qual a empresa familiar Grupo Guanabara domina há meio século o mercado do transporte público no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro. Um mercado onde poucas leis vigoram – fora a lei do mais forte, a lei do Rei do Ônibus. [...]

A aparente corporate identity dos ônibus do Rio oculta o fato de que cada uma das 541 linhas é operada em regime privado por mais de 40 firmas, por sua vez distribuídas entre alguns grandes cartéis. Um estudo da PricewaterhouseCoopers (PwC) [...] prova que a municipalidade pouco tem que apitar na organização daquele que é, de longe, o mais importante meio de transporte público do Rio. Preços das passagens, rotas, horários de partida: tudo isso quem determina são os empresários, nunca a prefeitura. Não é ir longe demais falar de uma máfia dos ônibus.

Aparentemente é assim que os investigadores da Operação Lava Jato também veem a questão. Há poucos dias, eles mandaram prender Jacob Barata Filho. Os promotores o acusam de, por anos a fio, ter subornado políticos locais com, no mínimo, 260 milhões de reais. Com isso, segundo consta, ele teria comprado aumentos de preços de passagens anunciados publicamente. E ainda consideráveis privilégios fiscais. Se procede pelo menos a metade do que os investigadores imputam ao Rei do Ônibus, não é de espantar que os transportes urbanos do Rio venham passando longe das necessidades da maioria dos usuários. [...]

O fato de Jacob Barata Filho, o Rei do Ônibus, estar agora sob prisão cautelar, deve despertar entre muitos cariocas sentimentos de alegria maldosa.

Süddeutsche Zeitung"A gente devia isso a eles", 28/11/2017

Duas filmagens da mesma situação de voo: uma é de novembro de 2017, a outra é exatamente um ano mais antiga. Os dois vídeos tremidos mostram os jogadores do time brasileiro de primeira divisão Chapecoense em clima animado. [...]

Entre ambas as comemorações está uma das maiores tragédias da história do esporte, a queda do voo charter LaMia 2933: 77 passageiros, 71 mortos, entre eles quase todo o quadro de craques, assim como os técnicos e a direção do clube Chapecoense. [...]

Uma das características do mundo do futebol profissional é que ele transcorre de forma cíclica. A cada ano, tudo recomeça do início. Só que raras vezes tão do início como no caso da Chapecoense. Pode-se resumir assim o passado ciclo de 12 meses do clube: o time comemora, o time morre, o time comemora. [...]

No vídeo de cabine mais recente, o time da Chapecoense festeja um milagre nem tão pequeno assim: a permanência na Série A do futebol brasileiro. Trata-se de um time que, um ano atrás, ainda não existia. Ele foi reunido em poucas semanas, entre um enterro coletivo, as férias de Natal e o princípio da temporada, em janeiro. [...]

Após o anúncio da permanência, o meio-campo Moisés disse: "Isso não traz os meus amigos de volta à vida, mas a gente devia isso a eles. [...]

Clubes da primeira divisão propuseram uma "Lex Chapecoense", uma regra especial que garantiria à Chape uma vaga fixa nas próximas três temporadas na primeira divisão. Alguns clubes estrangeiros se prontificaram a emprestar alguns de jogadores gratuitamente. [O então presidente do clube,] Ivan Tozzo, de 62 anos, rejeitou ambos: "No futebol não pode haver pena. Isso vai contra o espírito do jogo", disse.

Bild am Sonntag – Um sobrevivente da tragédia da Chapecoense, 26/11/2017

No esporte por vezes se fala de milagres – do "Milagre de Berna", por exemplo. Isso foi há muito tempo. Mas quem fala com Alan Ruschel, de 28 anos, tem que acreditar em milagres, também hoje em dia. [...] [O lateral-esquerdo] é o único sobrevivente [do acidente da Chapecoense, em 28 de novembro de 2016] que ainda joga futebol. [...]

O profissional tornou-se humilde. "Poder estar aqui é quase inacreditável, levando em conta a dimensão da tragédia. Poder voltar a fazer aquilo de que eu mais gosto é só mais um presente que ganhei."

Ele lembra que queria sentar na frente, no avião que caiu. Aí o goleiro Follmann apontou em direção à parte traseira da máquina. Todos os passageiros das primeiras fileiras morreram. "Se a queda me ensinou uma coisa, é que eu nunca posso saber o que vai acontecer dentro do dez minutos. Festejar a vida é a coisa mais importante para mim." [...]

Ao fim da conversa, Alan Ruschel ainda tinha algo que queria transmitir. "Minha mensagem a todos que estão escutando: Vá atrás dos seus sonhos! Se você quer realmente fazer algo, faça. Viva a vida com toda intensidade. Nunca se sabe o que o dia de amanhã vai trazer."

AV/ots

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