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O Brasil na imprensa alemã (13/01)

13 de janeiro de 2021

Fracasso da estratégia do governo brasileiro na compra de vacinas contra covid-19, ameaça de Bolsonaro após invasão de Capitólio e saída da Ford do Brasil foram destaques em jornais da Alemanha.

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Bolsonaro e Trump durante encontro no Japão em 2019
Bolsonaro e Trump durante encontro no Japão em 2019Foto: Alan Santos/dpa/picture-alliance

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Trump continua sendo exemplo para Bolsonaro (13/01)

É improvável que em algum outro país do mundo as imagens da invasão do Capitólio por seguidores de Trump tenha provocado medos concretos como no Brasil, a segunda maior democracia do continente americano. Para muitos brasileiros, o que viram em 6 de janeiro em Washington deu a impressão de advertência sobre o futuro de seu próprio país.

Para quem nem viu motivo para preocupação, o próprio presidente Jair Bolsonaro deu uma ajuda: numa conversa com seguidores na frente do Planalto em Brasília, Bolsonaro profetizou que o Brasil poderia enfrentar uma turbulência ainda maior do que nos Estados Unidos nas eleições do próximo ano. [...]

Nenhum outro chefe de Estado no mundo se manteve tão fiel a Trump depois das eleições nos Estados Unidos e espalhou suas alegações de fraude eleitoral com tanta dedicação como Bolsonaro. Ele foi o último chefe de Estado a reconhecer a vitória de Joe Biden. Ele ainda parece incomodado com o resultado do pleito americano, mesmo nunca tendo sido muito próxima a ligação pessoal entre ele e Trump. É mais uma ligação ideológica entre os que estão por trás dos dois governos e de seus seguidores que criam os paralelos. Eles se entendem como a ponta de uma lança de uma nova direita, se alimentam de teorias de conspiração e se separaram do discurso público.

Não são poucos observadores no Brasil que acreditam que a crítica de Bolsonaro em relação ao sistema eleitoral esconde a intenção de seguir o exemplo de Trump nas eleições de 2022. O poder político de Bolsonaro como presidente é menor do que o de Trump, pois o sistema político no Brasil é muito fragmentado.

Porém não está claro, se numa situação parecida, Bolsonaro enfrentaria uma forte resistência como Trump nos Estados Unidos. Diferente de Trump, Bolsonaro tem um passado militar. Enquanto o alto escalão do Exército não se aventura pelo capitão da reserva, não se pode dizer com segurança o mesmo para as fileiras inferiores e policiais, onde Bolsonaro goza de grande apoio.

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Ford se retira do Brasil (13/01)

Os negócios da montadora americana Ford na América do Sul andam mal há anos. A pandemia piorou o cenário e, segundo a Ford, causou "perdas consideráveis". Em 2019, as perdas na América do Sul chegaram a 700 milhões de dólares, nos três primeiros trimestres do ano passado elas totalizaram quase 400 milhões de dólares. Agora a montadora arca com as consequências e fecha suas três últimas fábricas do Brasil, onde a Ford está presente há mais de 100 anos. [...]

A decisão faz parte de uma estruturação global para melhorar o desempenho financeiro. O presidente da Ford, Jim Farley, fala sobre "medidas difíceis, mas necessárias" para "construir um negócio saudável e sustentável". [...]

Após o anúncio da Ford, o governo brasileiro expressou seu pesar. A decisão não se enquadra na visível recuperação da maioria do setor industrial no Brasil, comentou o ministro da Economia. A retirada reforçaria a necessidade de outras medidas para melhor o clima de negócios no país. O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou numa entrevista estar surpreso com a saída imediata da Ford. O mercado de consumidores do Brasil seria substancialmente maior do que outros. Segundo ele, o fechamento das fábricas seria precipitado. O presidente da Câmara dos Deputados avaliou a decisão da Ford como um resultado da incredibilidade do governo. Falta no Brasil segurança jurídica, regras claras e um sistema de impostos sensato, acrescenta ele. Outros políticos também responsabilizam o governo.

O Brasil perde uma parte da história industrial com a saída da Ford. A montadora foi uma das primeiras a produzir carros no país. Já em 1919 foi tomada a decisão de construir uma fábrica em São Paulo. Nos anos seguintes, vieram outras em outras cidades. Em 1928, um projeto numa área de 10 mil km2 na Amazônia causou sensação, onde seria construída uma pequena cidade no modelo americano, com sua própria usina de energia elétrica, piscina e cinema, com o nome Henry Ford: Fordlândia. Lá, a Ford queria produzir borracha em grande estilo. O projeto, no qual a montadora investiu na época 25 milhões de dólares, fracassou por vários motivos, mas principalmente porque a borracha não podia ser cultivada em grandes plantações na Amazônia. Além disso, em 1930, houve uma revolta de trabalhadores locais contra os regulamentos impostos na Fordlândia. Depois do desenvolvimento da borracha sintética em 1945, a Fordlândia foi vendida para o Brasil e se tornou uma cidade fantasma.

Tagesschau – A luta desanimada contra o coronavírus no Brasil (10/01)

Quase todos os fabricantes de vacinas contra o coronavírus fizeram testes no Brasil. Mas o governo dormiu no momento de assegurar os imunizantes prontos para a comercialização. O presidente Bolsonaro demostra ter nenhum interesse numa estratégia.

Julio Barbosa tem certeza de que ele não recebeu um placebo. Ele foi voluntários nos testes da Biontech e Pfizer, cuja eficácia da vacina é bem alta. Nisso acredita o jovem técnico de enfermagem, que trabalha num ambulatório onde todos os seus colegas de trabalho foram infectados, apenas ele não. [...]

No Brasil, é difícil não ter nenhum contato com a covid-19. Já foram registradas mais de 8 milhões de infecções e mais de 200 mil pessoas morreram com o coronavírus. "No Brasil, há duas maneiras de lidar com isso", diz Barbosa. "Um pequeno grupo não sai mais de casa, mas a maioria dos brasileiros faz tudo como se não houvesse a pandemia". [...]

A família de Julio Barbosa está decepcionada. Eles esperavam muito uma vacina. "Meio mundo já está sendo vacinado e os fabricantes vendem as cobiçadas ampolas para muitos países, mas nenhuma delas vêm pro Brasil".

O epidemiologista Roberto Medronho da Universidade do Rio de Janeiro deixa claro que a culpa disso não é dos fabricantes, mas do governo brasileiro. "O Brasil é um dos país mais importantes na produção de vacinas do mundo. Justamente aqui deveria haver conhecimento suficiente para perceber a tempo de que a vacina contra a covid-19 poderia ser injetada com alta eficiência intramuscularmente", diz ele. Assim, deveria ter sido tratado da aquisição de seringas antecipadamente. "Mas isso não aconteceu".

[...]

A negociação para a venda de 70 milhões de doses da [vacina da] Biontech e Pfizer estavam bem avançadas. Então, o governo teria recuado e batido a porta na cara da empresa. Isso foi um grande erro, afirma Medronho. "Hoje 25 milhões de brasileiros poderiam já ter sido vacinados".

Para Bolsonaro, o coronavírus continua sendo uma "gripezinha". Ele não usa máscara, ridiculariza os que usam. [...] "Lá no contrato da Pfizer, está bem claro nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu", troçou Bolsonaro.

O que para a maioria soa como uma piada descabida encontra no Brasil muitos ouvintes, principalmente, em regiões com pouca escolaridade. Pior, porém, é o bloqueio pelo presidente da compra [de vacinas] e os meses de cabo de guerra político que se seguiram. [...] 

E falta ainda uma estratégia de vacinação. Quem sabe quantas discussões ocorreram em outros países sobre a ordem de vacinação não esperará que justamente no Brasil será possível chegar a um acordo rápido sobre um plano para isso. Mas os estados decidem por si próprios. A vacina não deve ser obrigatória no país. Mas fala-se em sanções severas para aqueles que não se vacinarem: por exemplo, proibição de entrar em lojas e restaurantes, de viagens e de crianças de frequentar a escola.

CN/ots