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O Brasil na imprensa alemã (22/04)

22 de abril de 2020

Participação de Bolsonaro em ato a favor de intervenção militar, os impactos do coronavírus sobre as populações pobre e indígena e desmatamento recordes na Amazônia foram destaque na mídia alemã.

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Manifestantes com bandeiras do Brasil e faixa com dizeres "AI-5"
"Enquanto a pandemia une a população pelo mundo, Bolsonaro consegue que o Brasil discuta o risco de golpe", diz jornalFoto: Getty Images/AFP/S. Lima

FAZ – "A gripezinha" (21/04)

Em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, Jair Bolsonaro, numa caçamba de pick-up, acena para seus seguidores que se reuniram no local. "Nós não queremos negociar nada. Nós queremos ação pelo Brasil", afirmou o presidente.

Como em outras cidades onde houve manifestações no fim de semana, pessoas carregam cartazes nos quais pedem o fim das medidas de isolamento impostas pelos governadores. Outras criticam o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) ou a maior emissora de televisão do país. E há faixas em que manifestantes pedem uma intervenção militar ou uma nova edição do AI-5, que durante a ditadura militar deu início à perseguição e à tortura de políticos da oposição. 

Enquanto em muitas partes do mundo, a luta contra a pandemia está unindo a população, Bolsonaro consegue que o Brasil discuta o risco de um golpe. As reações às manifestações e o apoio do presidente variaram de irritadas a indignadas. "O mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo", reclamou Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados.

Bolsonaro usa uma estratégia que é típica de populistas com tendências autocráticas, analisou em mensagem no Twitter o cientista político Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), dando como exemplo o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. Protestos como o do fim de semana "não ocorrem em democracias saudáveis", escreveu. "Eles são produto de um líder pedindo a seus seguidores que ataquem um inimigo escolhido." No caso de Bolsonaro, o inimigo é o lockdown [isolamento social imposto por governadores e prefeitos] para conter a pandemia de coronavírus.

Süddeutsche Zeitung – "Os esquecidos na crise" (20/04)

Quando Cleonice Gonçalves morreu, em 17 de março, tornou-se claro para muita gente no Brasil de uma só vez o quão grande seria a catástrofe. A mulher simples, de 63 anos, passava cinco dias por semana no Leblon, um bairro nobre do Rio de Janeiro. A própria Cleonice nunca poderia bancar uma vida lá: ela dormia em um pequeno quarto de empregada à noite e, durante o dia, limpava banheiros e arrumava as camas da patroa, que acabara de voltar de férias após passar o Carnaval na Itália. Logo ao voltar para casa, a patroa se sentiu doente. Ela fez o teste para detectar o novo vírus, que naquela época já atingia a Itália e acabara de chegar ao Brasil. Enquanto esperava o resultado, a patroa não quis abrir mão da doméstica. 

E, quando finalmente chegou o resultado, já era tarde: deu positivo. A essa altura, Cleonice já estava morta. A doméstica não foi apenas a primeira vítima de coronavírus no Rio, mas também a primeira a morrer que não vinha da classe alta brasileira. De repente, ficou claro: o Sars-CoV-2 não é um vírus que afeta somente os ricos. Muito pelo contrário: ele atingirá especialmente os pobres, porque é nas ruas estreitas das favelas que ele encontra as melhores condições para se propagar ou porque as medidas de quarentena, que há muito tempo se aplicam no Rio, mergulham as pessoas ainda mais fundo na pobreza.   

Der Tagesspiegel – "Um país como laboratório experimental" (17/04)

"É só uma gripezinha." – "Brasileiro pula em esgoto, e não acontece nada." – "Todos nós vamos morrer um dia." Essas são as palavras do presidente Jair Bolsonaro. Desde o início, ele negou a pandemia. Apesar das recomendações de autoridades sanitárias brasileiras e internacionais, ele insiste em apertar as mãos das pessoas nas ruas. No entanto, ele não quer tornar público o resultado do seu teste de covid-19 (os testes de pelo menos 25 membros do governo deram positivo). O vírus não lhe poderia fazer mal, afirmou. Afinal de contas, ele foi atleta no passado.

Olho pela janela e fico impressionada com quantas pessoas no meu bairro de classe média em São Paulo respeitam o isolamento social. Talvez porque o governador de São Paulo contradisse o presidente e pediu para a população ficar em casa. [...] Nós sabemos que o número de vítimas é subnotificado. Pelo menos mil pessoas já morreram no Brasil por conta do vírus. [...] "O Brasil é um laboratório do neoliberalismo", escreve Marcia Tiburi. "Se a política de Bolsonaro for bem-sucedida, outros países a copiarão."

TAZ – "Floresta tropical perde área equivalente à de Hamburgo" (17/04)

Também no Brasil quase não existe outro tema que não seja o coronavírus, exceto talvez a 20ª edição do Big Brother Brasil, que é extremamente popular. E é assim que se perde de vista uma notícia que teria causado indignação no ano passado: o desmatamento da Amazônia atingiu novamente um triste recorde. Em janeiro, fevereiro e março de 2020 houve uma redução de 796,08 quilômetros quadrados de floresta – um aumento de 51,45% em comparação com o ano passado. São os valores mais altos desde o início das aferições que são realizadas pelo Inpe desde 2015. Por satélite, estes desmatamentos e queimadas são visíveis.

O aumento da destruição na maior floresta tropical do mundo aparece em muitos meios de comunicação também associado à crise de coronavírus. É verdade que os controles das autoridades ambientais se tornaram mais difíceis nas últimas semanas, afirma Erika Berenguer, bióloga brasileira na Universidade de Oxford. No entanto, ainda não há dados suficientes para demonstrar a relação entre o desmatamento e a crise de coronavírus. O crescente desmatamento é atribuído à política do presidente Bolsonaro. "Observamos um aumento constante no desmatamento desde o início de seu governo."

FAZ – "Para muitos restam apenas orações" (17/04)

[...] O coronavírus ameaça atingir fortemente a população indígena da América do Sul. Após as primeiras infecções na bacia amazônica, cientistas no Brasil alertam para taxas de mortalidade equivalentes a um surto de sarampo nos anos 1960. Naquela época, quase um em cada dez ianomâmis infectados morreu.

"Todos adoecem, e você perde todos os velhos, sua sabedoria e organização social", disse Sofia Mendonça, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em entrevista à BBC. Há algumas semanas, as autoridades sanitárias registraram o primeiro infectado. O jovem de 15 anos, que em março retornou à tribo ianomâmi na floresta após o fechamento de sua escola, recebe cuidados médicos em uma unidade de cuidados intensivos em Boa Vista. Tal como em epidemias anteriores, os povos indígenas da região fronteiriça entre Brasil e Venezuela se preparam para a crise do coronavírus se isolando em pequenos grupos na floresta.

TAZ – "Paraíso uma ova" (16/04)

Paraisópolis é a segunda maior favela de São Paulo. Pelo menos 100 mil pessoas moram ali, mas ninguém sabe o número ao certo. [...] No caminho para Paraisópolis passa-se por mansões fortemente vigiadas, clubes exclusivos e vitrines com carros esportivos caros. Senhoras mais velhas com rostos operados levam seus cães para passear; casais brancos vestindo roupas esportivas andam sobre calçadas largas. Apesar da proximidade espacial, existem mundos entre Morumbi e Paraisópolis.

O primeiro caso de coronavírus em toda a América Latina foi registrado no final de fevereiro no Morumbi. O vírus chegou ao país provavelmente com um turista rico. Mas, há muito tempo, ele se espalhou para fora do mundo dos ricos e bonitos. Há também numerosos casos em Paraisópolis. Favelas são especialmente suscetíveis a vírus. A proporção de pacientes com tuberculose ou asma é cinco vezes maior do que nos bairros ricos. Por causa da má alimentação, há muitos diabéticos, e quase ninguém tem dinheiro para prevenção.

"Antes que as pessoas aqui comecem a se preocupar com máscaras e desinfetantes, eles precisam de algo para comer", diz Juliana da Costa Gomes durante uma curta pausa para respirar. Ela mesma tem uma vida relativamente boa: vive com os seus três filhos numa casa espaçosa, tem água encanada e um salário modesto. Muitos vizinhos, porém, vivem uma realidade diferente.

FC/ots

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