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O desejo de transformação dos jovens russos

Ilya Koval | Violetta Ryabko | Evlaliya Samedova | Irina Filatova
29 de março de 2017

Estudantes tomaram as ruas de Moscou e São Petersburgo para protestar contra corrupção e sistema do qual não se sentem parte. Mesmo sem reação imediata do governo, vontade de mudança permanece.

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Polícia detém jovem em protesto em Moscou
Polícia detém jovem em protesto em Moscou no último dia 26 de marçoFoto: picture-alliance/AA/s. Karacan

Entre os que foram às ruas em dezenas de cidades da Rússia no último domingo (26/03) para protestar contra a corrupção estavam muitos adolescentes e estudantes – algo incomum nas manifestações realizadas no país nos últimos anos. O protesto foi convocado por Alexei Navalny, líder da oposição.

Cerca de metade dos manifestantes, de acordo com alguns participantes dos protestos, era muito jovem para ter se unido às centenas de milhares de pessoas que foram às ruas de Moscou em 2011 e 2012, como parte de um movimento de protesto nacional então sem precedentes.

Leia mais: Protestos podem ser início de nova "Primavera Russa"

Nikita, estudante de 16 anos de São Petersburgo, afirmou à DW que decidiu participar das manifestações após assistir ao vídeo de Navalny, em que o líder da oposição acusa o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, de corrupção.

"Eu confio em Navalny, e é por isso que decidi participar da manifestação", afirmou, acrescentando que ele "não tinha medo de nada". O adolescente destacou que planeja participar de protestos no futuro, embora esteja desapontado com o fato de a manifestação de domingo não ter trazido nenhuma mudança imediata.

"Eu esperava que houvesse pelo menos alguma reação após a manifestação, de preferência a abertura de uma investigação ou, pelo menos, as autoridades expressando algum tipo de posição", declarou Nikita.

Outra estudante que participou do ato nas ruas de São Petersburgo, Svetlana, de 17 anos, afirmou que não tinha ilusão alguma em relação a uma reação imediata do governo. "Eu percebo que algumas manifestações não vão trazer muita mudança, mas as autoridades entenderão que as pessoas não estão satisfeitas com os resultados de seu trabalho", frisou.

Svetlana disse que se juntou ao protesto porque apoia as ideias de seus organizadores e pretende participar de manifestações similares no futuro. Ela sublinhou, ainda, que os protestos de domingo "trouxeram apenas boas energias" e permitiram "conhecer pessoas de mesma opinião".

Protesto em Moscou
Protestos foram convocados por líder da oposiçãoFoto: Getty Images/AFP/O. Maltseva

"Consciência pesada"

Muitos estudantes de Moscou, incluindo o blogueiro Maxim Sotnik, de 18 anos, ficaram sabendo sobre o próximo protesto no canal de YouTube de Navalny. "Eu fui à manifestação porque sou contra a corrupção", disse Sotnik, que estuda na Universidade de Humanidades de Moscou.

Ele estava ciente do fato de que as autoridades da capital não haviam autorizado o protesto. "Mas isso não significa que eu, como cidadão russo, não tenho permissão para dar uma volta ao longo da rua Tverskaya", argumentou.

Já Valeriya, estudante de 17 anos de uma faculdade de Moscou, afirmou que "decidiu participar da manifestação porque sabia que ficaria com consciência pesada se ficasse em casa".

Ela, que pediu à DW para não ter ser nome verdadeiro revelado, foi detida pela polícia durante o protesto e, como muitos outros manifestantes, teve que passar quase 12 horas numa das delegacias do distrito. Agora, a menor de idade enfrenta acusações de violar o Código Administrativo da Rússia.

Valeriya acredita que a investigação de Navalny sobre o suposto esquema de corrupção de Medvedev revelou "a ilegalidade que está acontecendo no país". Ela também reclamou que todos estão cientes da situação, mas ninguém está tomando quaisquer medidas para alterá-la.

"Quando você vê que algo totalmente errado está acontecendo em seu país e, em seguida, você observa fatos e provas que são impossíveis de contestar – isso tudo mexe com você", afirmou Valeriya. "Para mim, a investigação sobre Medvedev atingiu o ponto de viragem irreversível quando percebi que chegou o momento de parar com esse absurdo."

Ela acrescentou, ainda, que a forma como a "mídia controlada pelo Estado" ignorou os protestos de domingo apenas alimentou o desejo de "ir contra o sistema".

"Geração de smartphones"

Yury Krupnov, que preside o conselho de supervisão do Instituto de Demografia, Migração e Desenvolvimento Regional em Moscou, chamou a participação dos jovens nas manifestações de "um evento fenomenal importante". Em entrevista à DW, ele ressaltou que esta tendência tomou forma há muito tempo, mas veio à luz somente em 26 de março.

Ele afirmou que os jovens saíram às ruas no domingo como parte da "geração de smartphones que cresceu num período de relativa estabilidade e está entediada e precisa de uma transformação". Mas, até agora, as autoridades russas falharam em satisfazer essas necessidades, oferecendo à jovem geração apenas uma "nova imagem falsa" e "falsidade da manhã até a noite", explicou.

A analista política Mariya Snegova acredita que os jovens russos saíram às ruas porque "não fazem parte do sistema".

"Eles estão irritados com o sistema e, ao contrário de seus pais, não têm nada a perder", frisou Snegova, acrescentando que os jovens não estão satisfeitos com a estagnação numa sociedade onde velhos políticos conduzem o país "a uma direção vaga e sem nenhuma mudança".

No entanto, ela acredita que o vídeo de Navalny sobre Medvedev foi simplesmente um símbolo de um movimento de protesto mais amplo. "Todos os lemas nos protestos foram contra [o presidente russo Vladmir] Putin", frisou Snegova. "Foi o sistema contra qual eles protestaram."