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O drama de chineses em quarentena devido ao coronavírus

Mathias Bölinger de Pequim
4 de fevereiro de 2020

O surto de coronavírus na China tem forçado muitas pessoas a se confinar em casa. Aqueles que viajaram para Wuhan e conseguiram deixar a cidade antes de seu isolamento estão agora sob rigorosa vigilância das autoridades.

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Wuhan, na China, se tornou uma cidade-fantasma
Wuhan, na China, se tornou uma cidade-fantasmaFoto: Getty Images

Dez dias atrás, Claire se trancava em casa após uma fuga dramática de Wuhan. Ela estava na cidade onde o coronavírus se originou para passar o Ano Novo chinês com seus sogros, quando chegou a notícia de que Wuhan seria bloqueada. Claire e seu namorado conseguiram escapar apenas alguns minutos antes de isso acontecer.

Desde então, eles se puseram em quarentena em casa. "No começo, foi decisão nossa ficar em casa", afirmou Claire em entrevista à DW. Mais tarde, porém, o regime entrou em cena. "Começamos a receber telefonemas do comitê do bairro e da delegacia de polícia local apelando para ficarmos em casa."

Todos os dias, eles precisam medir e informar suas temperaturas corporais às autoridades. O nome Claire é um pseudônimo para proteger sua família, e ela não quis revelar o nome da cidade onde mora.

A China vem recebendo críticas e elogios por sua resposta à crise do coronavírus. Quando os primeiros casos da doença surgiram em dezembro, as autoridades locais encobriram. Médicos que relataram casos misteriosos de pneumonia em grupos de redes sociais teriam sido convocados pela polícia e ameaçados de punição.

Inicialmente, as autoridades descartaram a transmissão do coronavírus entre humanos, mesmo depois de os cientistas terem evidências que mostravam o contrário. Durante esse período, o vírus conseguiu se espalhar sem controle.

Então, numa reviravolta dramática, as autoridades decidiram bloquear a metrópole de Wuhan, um polo de transportes com população de 11 milhões de pessoas. Vilas e cidades vizinhas na província de Hubei seguiram o exemplo. Até agora, estima-se que 56 milhões de pessoas estejam isoladas em Hubei – quase a população da Itália.

"Nós veríamos muitos outros casos [de infecção] fora da China e provavelmente mortes se não fossem os esforços e progressos do governo", escreveu Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), em sua conta no Twitter.

Por outro lado, alguns pesquisadores de saúde pública alertaram que medidas drásticas podem gerar o efeito oposto, levando pacientes a se esconderem ou criando pânico entre a população. Nos primeiros dias de isolamento, viam-se pessoas correndo para hospitais para avaliações médicas de rotina.

Imagens de pacientes amontoados em áreas de espera de hospitais viralizaram nas redes sociais chinesas. "Eu vi vários cadáveres nos hospitais", afirmou o advogado e jornalista cidadão Chen Qiushi, com quem a DW conversou por vídeo em Wuhan. Ele viajou para a cidade para documentar a situação. "Vi muitas pessoas que tiveram febre e tosse por vários dias, mas não sabiam se estavam infectadas, porque faltavam os kits de teste nos hospitais."

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Fuga dramática de Wuhan

Claire estava na casa dos sogros quando soube que Wuhan seria bloqueada. Eles se preparavam para comemorar o Ano Novo chinês, o feriado em família mais importante da China.

Às 9h da manhã do dia seguinte à sua chegada, ela viu uma mensagem que avisava da proibição de deixar a cidade a partir das 10h. "Eu entrei em pânico e disse ao meu namorado que precisávamos ir embora imediatamente", conta. Eles fizeram rapidamente as malas e saíram.

Como não havia táxis e Didis (plataforma de transporte privado como o Uber) disponíveis, eles abordaram o motorista de um carro que aguardava no semáforo e o disseram que pagariam qualquer quantia para serem levados para fora da cidade. Por 800 yuans (cerca de 485 reais), ele os levou a um município próximo. De lá, Claire e seu namorado puderam embarcar em um trem que os levou de volta à sua cidade.

Desde então, o casal está confinado em seu apartamento e só sai para buscar mantimentos que os serviços de entrega deixam no portão de seu complexo habitacional, ou para retirar o lixo à noite. "Nós esperamos até que todos estejam dormindo. Depois, colocamos nossas máscaras e retiramos o lixo", diz Claire.

As cidades chinesas estão assustadoramente vazias nestes dias. As pessoas se apressam, evitando contato próximo. Em Pequim, andando na calçada em frente a um hospital, uma mulher olha de relance, parecendo ansiosa, enquanto três pessoas aguardavam um check-up fora da clínica.

"Não há muitas pessoas. Parece que Pequim ainda não foi atingida com força", conta. Ela havia acabado de sair para comprar alguns legumes e estava voltando para casa. "Nestes dias, estamos ficando em casa", continua. "As pessoas reagiram mais rapidamente do que o governo."

Autoridades lutam para manter o controle

Não há nada a temer enquanto a sociedade tomar precauções, afirma um jovem que aguarda um táxi na beira da estrada. "Nós precisamos evitar lugares lotados, usar máscaras e lavar as mãos regularmente. O governo nos deu instruções claras", diz.

A falta de resposta inicial do governo à doença forçou a necessidade de uma enxurrada de atividades em todos os níveis. Em Pequim, os comitês de bairro vão de porta em porta para distribuir panfletos e perguntar se alguém está com problemas de saúde.

Anúncios em alto-falantes e outdoors lembram os moradores de se registrarem junto às autoridades caso eles tenham retornado recentemente à capital. Hotéis, prédios de escritórios e centros comerciais criaram postos de controle para medir a temperatura dos visitantes.

Em toda a China, autoridades estão rastreando pessoas que visitaram recentemente a província de Hubei e ordenando que não deixem seus apartamentos por duas semanas. Cidadãos de Hubei dizem ter dificuldade para encontrar um quarto de hotel em outras partes do país. Alguns relatam que foram destratados por habitantes locais.

Em sua cidade na região central da China, Claire conta os dias para o final de sua quarentena de duas semanas. Ela está ansiosa para sair de casa e retomar tarefas do cotidiano, como correr e fazer compras no supermercado – embora ela ainda planeje limitar sua vida social até que o surto esteja sob controle.

Claire espera que sua experiência tenha um impacto em sua vida em um futuro próximo. "As autoridades, meus amigos íntimos e minha família sabem que estivemos em Wuhan, mas eu não diria isso a outras pessoas", afirma. "Eu só os faria sentir medo."

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