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O empresariado alemão está com Bolsonaro?

26 de outubro de 2022

Principal canal de TV pública da Alemanha afirma que empresários apoiam "curso liberal" do governo Bolsonaro e se beneficiam do boom de agrotóxicos. Mas há críticas a barreiras comerciais e demora do acordo UE-Mercosul.

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Jair Bolsonaro
Piora dos indicadores ambientais sob o governo Bolsonaro é apontada por líderes da UE como entrave para a implementação do acordo UE-MercosulFoto: Buda Mendes/Getty Images

"Se eu como empresário tiver que me decidir agora entre dois extremos, tendo a escolher aquele que sei que curso econômico vai adotar. E muitos torcem pelo liberal Paulo Guedes", afirma Philipp Klose-Morero, da consultoria Rödl & Partner, que assessora empresários alemães em São Paulo.

Citando o ministro da Economia do atual governo, o consultor considera, portanto, que o presidente Jair Bolsonaro é o favorito entre o empresariado no Brasil na disputa com o petista Luiz Inácio Lula da Silva pela Presidência, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira (26/10) no site Tagesschau, do canal Das Erste, o principal da televisão pública na Alemanha.

A reportagem afirma ser "incontestável" entre especialistas que o "curso econômico liberal" de Bolsonaro é bem recebido pelas empresas do país, enquanto Lula é visto como menos liberal, propondo uma reforma da legislação trabalhista de 2017, por exemplo.

Analistas ouvidos pela DW recentemente, no entanto, destacaram a incapacidade de Guedes de implementar uma agenda liberal. Entre as promessas do atual ministro, que em 2018 Bolsonaro chamava de seu "Posto Ipiranga", estavam a privatização "de todas as estatais" e reformas estruturais. Quatro anos depois, pouco foi cumprido. A Reforma Tributária, por exemplo, não saiu do papel.

Indústria reclama de barreiras comerciais

A reportagem do Tagesschau aponta haver insatisfação com o foco do governo Bolsonaro no agronegócio. "No Brasil, a agricultura tem prioridade, assim como o setor de serviços. Mas a indústria não, pois ela sofre sob uma pesada carga tributária", critica Ali Jamil Jomaa, diretor da indústria mecânica Samot, que atende o setor automobilístico e cuja matriz fica em São Bernardo do Campo (SP).

Jomaa lamenta a perda de importância da indústria no Brasil. Em 2011, o setor representava 23,1% do PIB, e em 2021 equivalia a apenas 18,9%. No mesmo período, a participação da aumentou de 4,3% para 6,9%.

O empresário, que depende da importação de peças da Alemanha para seu maquinário, critica ainda as barreiras comerciais e a burocracia no Brasil.

Karl Martin Welcker, diretor da Schütte, sediada em Colônia, na Alemanha, e que há anos vende máquinas para o Brasil, também reclama dos entraves comerciais no país sul-americano. "O Brasil tem barreiras e desvantagens significativas, que o país vai arrastando e e não são devidamente trabalhadas."

O Brasil é o mais importante parceiro comercial da Alemanha na América do Sul. Com um volume comercial superior a 14 bilhões de euros em 2020, a Alemanha está na quarta posição entre os maiores parceiros comerciais do Brasil. A União Europeia (UE), por sua vez, é, depois da China, o maior parceiro comercial do Brasil.

Boom dos agrotóxicos

Por outro lado, aponta a reportagem do Tagesschau, justamente o foco do governo brasileiro no agronegócio teria beneficiado empresas alemãs.

"Empresas como a Bayer fizeram bons negócios também durante a crise do coronavírus, pois os negócios com sementes geneticamente modificadas, fertilizantes e pesticidas estão em franca expansão", diz o texto, segundo o qual a Bayer não quis se manifestar. "Também porque o presidente brasileiro Jair Bolsonaro aprovou mais de mil pesticidas – alguns dos quais proibidos na UE."

Em três anos, o governo Bolsonaro aprovou a maior quantidade de defensivos agrícolas em mais de 20 anos: foram 1.560 novos ingredientes ativos registrados entre janeiro de 2019 a fevereiro de 2021, segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo menos 37 dos agrotóxicos registrados desde 2019 são proibidos nos EUA e na UE por causa da toxicidade à saúde.

Acordo UE-Mercosul

A reportagem também aponta haver críticas à demora pera a implementação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. "O mercado brasileiro ainda é bastante fechado, e há poucos acordos de livre comércio. A Europa poderia negociar de maneira muito mais fácil e barata conosco se o acordo UE-Mercosul, que já foi concebido, finalmente entrasse em vigor", afirma Jomaa.

Apesar de o empresário dizer esperar pelo acordo UE-Mercosul não importa quem governar o Brasil a partir de 2023, o pacto estagnou justamente no contexto da proteção ambiental sob o governo Bolsonaro.  

Firmado em 2019, após 20 anos de negociações, o acordo ainda não entrou em vigor porque depende da ratificação dos parlamentos de todos os países envolvidos. Um dos principais entraves para a ratificação vem sendo a preocupação de países europeus quanto aos compromissos do Brasil em relação à preservação do meio ambiente.

Mencionando piora nos indicadores ambientais sob o governo Bolsonaro, alguns líderes da UE disseram que não ratificarão o acordo até que sejam colocadas em prática medidas concretas para frear a destruição da Floresta Amazônica, por exemplo.

Lula chegou a prometer fechar o acordo ainda no primeiro semestre de 2023 se for eleito. Dentre os compromissos ambientais assumidos pelo ex-presidente em sua candidatura estão o fortalecimento da fiscalização e punição dos criminosos ambientais, controle do desmatamento, combate à mineração ilegal e regularização de terras na Amazônia coibindo grilagem.

lf/rk (DW, ots)