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Esporte

O experimento do Hertha – de coadjuvante a protagonista?

11 de fevereiro de 2020

Conhecido como "Velha Senhora", clube passou últimas décadas como coadjuvante na Bundesliga. Com a participação de megainvestidor, time espera sair do marasmo esportivo. Só não contava com a demissão de Klinsmann.

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torcedores do Hertha Berlim
Bilionário que investiu no Hertha espera que o clube consiga sair da mediocridade e representar condignamente a capital alemãFoto: picture-alliance/dpa/S. Stache

O Hertha Berlim é um daqueles clubes alemães que há décadas perambula pela Bundesliga sem nunca ter chegado a lugar nenhum. Basta dar uma olhada no retrovisor dos últimos 20 anos. Nesse período,o clube teve boas campanhas em apenas três temporadas, nas quais conseguiu obter um honroso quarto lugar. De resto, na melhor das hipóteses a "Velha Senhora", como o time é conhecido, foi vista em posições intermediárias na tabela.

Além disso, o Hertha passou pelo dissabor de dois rebaixamentos, em 2010 e 2012, com performances horrorosas que lhe renderam o apelido pejorativo de Fahrstuhlmannschaft (time elevador, também conhecido no Brasil como time ioiô, de tanto subir e descer).

Cansado de ficar à margem, não apenas na disputa por um título, mas também na luta por vagas nas competições europeias, relegado, portanto, a um papel de mero coadjuvante, o clube decidiu colocar mãos à obra para sair do marasmo esportivo e se transformar num respeitável protagonista.

O primeiro passo nesse sentido foi dado no ano passado quando o megainvestidor alemão Lars Windhorst adquiriu 49,9% das cotas do clube por 224 milhões de Euros. Foi um dos maiores negócios da história da Bundesliga. Indagado sobre os motivos que o levaram a investir no Hertha Berlim, Windhorst foi categórico: "Queremos ganhar dinheiro. Todas as nossas decisões se baseiam nisso."

A expectativa do bilionário é que o clube consiga sair de sua perene mediocridade e representar condignamente a fulgurante capital alemã, não apenas no campeonato nacional, mas também no cenário internacional, onde até hoje é tristemente lembrado por suas constrangedoras apresentações em tempos idos.

Windhorst já tem até uma receita pronta para alcançar esse objetivo e pretende lançar mão de todo instrumental de marketing à disposição, a começar pelo estádio. Ele gosta de citar o exemplo do Paris Saint-German, clube que fatura anualmente 200 milhões de euros só no Parc des Princes, com lojas, quiosques gastronômicos, tours e merchandising.

Apesar de não ser um fã apaixonado pelo futebol, Windhorst cuidou também do aspecto esportivo e, em novembro do ano passado, chamou seu amigo Jürgen Klinsmann para fazer parte do Conselho Deliberativo. Klinsi prontamente aceitou e algumas semanas mais tarde assumiu também a função de técnico do time principal.

Naquele momento o Hertha estava em 15º lugar na tabela, flertando com uma vaga rumo ao rebaixamento. A palavra de ordem do sempre otimista Klinsmann na ocasião não poderia ter sido mais clara: "Vamos sair da zona da degola e mirar uma vaga para a Liga Europa."

Nove rodadas depois, a "Velha Senhora" acumula três vitórias, três empates e três derrotas, melhorou uma posição na tabela, mas está mais longe do que nunca de um lugar ao sol no cenário internacional e de se tornar o big city club sonhado por  Windhorst.

É verdade que, na janela de contratações em janeiro, a diretoria investiu pesado em reforços, mais do que qualquer outro clube alemão. O atacante polonês Krzystof Piatek, o volante argentino Santiago Ascacibar e o artilheiro brasileiro Matheus Cunha representam considerável agregação de valores individuais ao elenco.

Matheus Cunha, com cinco gols, foi o principal goleador do torneio pré-olímpico que classificou o Brasil para as Olimpíadas de Tóquio, além de ter marcado dois gols contra a Argentina, naquele que foi o jogo decisivo para as pretensões brasileiras.

Artilheiro brasileiro Matheus Cunha (centro)
Artilheiro brasileiro Matheus Cunha (centro) acaba de ser contratado pelo HerthaFoto: imago images/Nordphoto/Ewert

Caberia a Klinsmann integrar rapidamente esses talentos recém-contratados à equipe principal. Acontece que, após apenas dez semanas no cargo, o técnico anunciou sua demissão nesta terça-feira (11/02), apontando a existência no clube de de um clima de falta de confiança e união. Por enquanto, o time ficará sob o comando de Alexander Nouri, assistente de Klinsmann e que foi treinador do Werder Bremen.

Os próximos quatro compromissos do Hertha serão contra clubes diretamente ameaçados pela degola, a saber – Paderborn, Colônia, Fortuna Düsseldorf e Werder Bremen. A história do futebol alemão ensina que quando equipes se defrontam com o perigo iminente de passar uma temporada na segunda prateleira, costumam reunir forças até então inimagináveis para escapar do vexame. 

Michael Preetz, principal executivo do Hertha, já proclamou aos quatro cantos da cidade que as próximas semanas serão as "semanas da verdade". Resta saber se a equipe, agora desfalcada pela saída de Klinsmann, continuará sendo mera coadjuvante tentando escapar da degola ou se assumirá o papel de protagonista, tornando-se o big city club imaginado pelo seu bilionário investidor.    

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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