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O fascínio do mal: terroristas alemães viram ícones da cultura pop

Paulo Chagas27 de fevereiro de 2002

A Fração do Exército Vermelho (RAF), organização terrorista alemã da década de 70 está se tornando um fenômeno da cultura pop. A juventude resgata o mito da revolução através do cinema, teatro e moda.

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Cena do filme "Baader"

O mal voltou à tona após os ataques terroristas de 11 de setembro e as advertências do presidente George W. Busch contra o "Eixo do Mal". Segundo o filósofo austríaco Konrad Paul Liesmman, o mal é fascinante, pois provoca em cada um de nós o "desejo do medo": o temor do abismo e ao mesmo tempo o desejo secreto de se lançar nele.

Liesmman participou em meados de fevereiro de um simpósio da tevê alemã ZDF sobre o "Poder da Imagem", na qual se abordou um dos mais recentes fenômenos da sociedade alemã: a redescoberta da Fração do Exército Vermelho (RAF), organização terrorista da década de 70 que desafiou o Estado alemão com bombas, metralhadoras, seqüestros e execuções de políticos e empresários.

Oriunda do movimento estudantil de 1968, a RAF foi fundada em 1970, lançando-se na luta armada contra o imperialismo. A estratégia da guerrilha urbana, inspirada no brasileiro Carlos Marighella, orientou a luta armada da RAF que resultou na morte de pelos menos 30 pessoas. Seus principais líderes - Andreas Baader, Ulrike Meinhof e Gudrun Ensslin - morreram na década de 70, mas a RAF só encerrou suas ações terroristas em 1992.

RAF vira moda

– A luta revolucionária da RAF diluiu-se na estética pós-moderna. Assassinos viraram mito e fenômeno de moda, terrorismo sinônimo de "chique". Uma revista alemã estampou o terrorista Andreas Baader, em postura de macho, ao lado do Mercedes usado para seqüestrar o empresário Hanns Martin Schleyer, executado pela RAF.

Uma revista dinamarquesa trouxe a foto de Ulrike Meinhof dentro de um bar com a seguinte legenda: "Uma manifestação está sendo preparada. Ulrike usa um macacão de algodão e fibras sintéticas da Diesel, de 1199 coroas".

Cinema e teatro

– Exibido na última Berlinale, o filme "Baader", do diretor alemão Christopher Roth, conta a história do líder terrorista num clima de Bonnie e Clyde, misturando ficção e realidade. Segundos os críticos, a película é uma tentativa de captar o clima de uma época que atualmente nos parece tão distante, estranha e surreal, como as batalhas da Primeira Guerra Mundial.

A peça de teatro "Ensaios de Stammheim", do jovem diretor Joachim Peter, estreou recentemente em Berlim provocando controvérsia. Numa de suas cenas, Andreas Baader lê um poema do ditador russo Josef Stalin ao som de um coro de blues do exército americano.

Vazio social

– O renascimento pop do terrorismo alemão, segundo Reinhard Mohr, autor de um artigo publicado pela revista Der Spiegel, é o reflexo de um vazio social, após a falência das utopias e visões de uma sociedade otimista. A guerrilha urbana tinha a convicção de que era necessário "fazer" história, a fim de libertar o homem dos males sociais. A sociedade pós-moderna, com seu pragmatismo e consciência do mercado, perdeu esta idéia de transcendência: os problemas devem ser resolvidos normalmente, no dia-a-dia, sem ações espetaculares.

A televisão e a mídia tratam também de banalizar os valores históricos. Por isso é que as novas gerações buscam saciar seu ímpeto de aventura no âmbito do lazer e, se for preciso, apelando para os símbolos revolucionários. Não se trata de refletir sobre a história ou verdades política, mas somente viver experiências e emoções.

Osama -

Tanto faz de for Hitler, o Holocausto, 1968 ou o terrorismo. A história vira estória de novela e evento multimídia. A Fração do Exército Vermelho é o símbolo de um grupo que viveu uma aventura coletiva levada às últimas conseqüências da morte pelo martírio. Isto explica sua fascinação. Será que dentro de alguns anos os criadores de moda irão transformar em estética o atentado terrorista do Word Trace Center? Osama – a camisa para os banqueiros e corretores da Bolsa de Valores?