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O futebol une o mundo em Berlim

Fernando Scheller13 de junho de 2006

Nestes primeiros dias da Copa do Mundo, berlinenses dão show de simpatia: no metrô, nas ruas e nos espaços públicos, turistas sentem que realmente estão hospedados na casa de amigos.

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Torcedores brasileiros e alemães comemoram em BerlimFoto: picture-alliance/ dpa

"Se você não gosta de ficar no meio da galera, tome o próximo trem". Um vídeo do metrô de Berlim, protagonizado por um torcedor brasileiro, dá o tom do clima em Berlim durante a Copa do Mundo: os espaços públicos da capital alemã estão liberados para que fãs de futebol de todo o mundo protagonizem a grande festa do esporte.

E é o que eles têm feito. A transmissão do jogo de abertura da Copa, realizado em Munique, reuniu milhares de pessoas no Portão de Brandemburgo, no coração berlinense, resumiu a intenção dos organizadores: a segurança do Mundial vai ser feita sem truculência para não estragar o espetáculo. Homens e mulheres são revistados em locais de grande aglomeração para evitar a entrada de pessoas com objetos pontiagudos, mas a checagem é feita com tranqüilidade, rapidez e respeito.

A polícia, presente em grande número, trabalha sem se impor no cenário da cidade. Nos principais pontos de Berlim, como a Potsdamer Platz, onde está localizada a central de transmissão da rede de tevê ZDF, há centenas de policiais, mas o clima é tão pacífico que muitos deles estão sendo usados como guias turísticos por torcedores – brasileiros, principalmente – que passeiam por Berlim entre uma partida de futebol e outra.

Berlim cinza?

A Berlim da Copa do Mundo não lembra nem de longe a que tomou conta dos noticiários nas últimas semanas por conta do ataque a um alemão de origem etíope na cidade vizinha de Potsdam, o que deu origem à discussão sobre as "no go zones" – áreas da capital alemã que deveriam ser evitadas por turistas africanos, latinos ou muçulmanos. Pelo menos durante os primeiros dias de Copa do Mundo, o horizonte da cidade pareceu bem menos cinza.

Até a véspera do primeiro jogo do Brasil, o que se viu foi justamente o contrário: o berlinense parece nutrir até um encantamento pelo torcedor que vem de longe. O famoso berlinerschnauzer – o jeito direto de ser dos moradores de Berlim – foi pelo menos temporariamente aposentado. Quem mantém os olhos abertos, pode perceber alemães ajudando estrangeiros a encontrar pontos no mapa e a comprar ingressos de metrô. E, coisa rara, falando em inglês.

"Eles (os berlinenses) estão impressionados com a quantidade de culturas presente na cidade neste momento. Realmente, eles gostam muito dos brasileiros", disse o carioca Mário Montanari à DW-WORLD. Ele contou que até encontrou torcedores da Croácia no metrô, desejando boa sorte aos brasileiros.

WM Fußball Fan Party in Berlin Brandenburger Tor
'Bem-vindo à festa em Berlim' diza saudação no Portão de BrandemburgoFoto: picture-alliance/ dpa

Os imigrantes turcos – a maior colônia estrangeira da Alemanha, com cerca de 1,7 milhão de pessoas – parecem ter adotado o time da casa, uma vez que a seleção da Turquia, quarta colocada no Mundial de 2002, desta vez ficou de fora. Por toda a cidade, é possível perceber membros da comunidade turca usando amarelo-ouro, vermelho e preto ou a camiseta oficial do time alemão.

Angela Merkel e o samba

Apesar dos alemães terem o apoio turco, simpatia mesmo despertam os brasileiros – inclusive a dos donos da casa. A torcida canarinho já pintou Berlim de verde-e-amarelo. Se o Tio Sam ainda está querendo conhecer a nossa batucada, Angela Merkel já caiu no samba faz tempo. A cada grupo de torcedores do Brasil que passa, é possível ver um alemão tentando entoar, com sotaque carregado, o típico "Brasil, êô" que a torcida brasileira canta toda vez que a seleção entra em campo.

Os brasileiros, aliás, parecem formar uma rede instantânea de relacionamentos. De repente, gente que nunca se viu antes troca informações sobre os melhores lugares para ver os jogos – isto é, para quem não tem ingresso para assistir no estádio –, sobre a chegada da seleção ao hotel e os vários shows de música popular brasileira que vão ocorrer na cidade até o fim do Mundial, dentro da programação da Copa da Cultura.

Sem cair no buraco

Quem mora em Berlim sabe que a cidade pode lembrar uma corrida de obstáculos de tempos em tempos. Durante a maior parte do tempo, por causa da deficiente infra-estrutura do lado oriental, a capital alemã é constante campo de obras.

"Tudo está funcionando muito bem. A organização é realmente muito profissional. Eu esperei problemas com o tráfego, grande aglomeração de pessoas. Mas eu não vi nada disso, está tudo muito tranqüilo, muito profissional, as pessoas são muito simpáticas", afirmou à DW-WORLD Antonio Marquez, torcedor da seleção mexicana que visitou a capital no fim de semana.

A administração municipal conseguiu fazer desaparecer as construções que tomavam conta de pontos-chave da cidade, como a Praça Alexanderplatz, até poucas semanas. O turista que quer conhecer a cidade tem o caminho livre de buracos e os trens estão circulando 24 horas por dia. A tranqüilidade reina nos principais pontos turísticos e museus, o que faz da cidade o lugar perfeito para se visitar durante o Mundial – goste-se ou não de futebol.

Mas o melhor do fim de semana em Berlim foi ver a interação de torcedores de todo o mundo: brasileiros e croatas, alemães e costarriquenhos, portugueses e angolanos, equatorianos e poloneses. Só resta esperar que o clima de inclusão e integração da Copa do Mundo se estenda por um longo tempo na capital alemã. O espetáculo, até agora, está bonito de se ver.