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O inimigo número 1 da Rússia

Marco Müller (av) 7 de janeiro de 2014

Russos se preparam para sediar Jogos de Inverno, e ninguém é mais temido que Doku Umarov. Por trás de alguns dos maiores atentados recentes no país, ele já conclamou seguidores a impedirem evento "em nome de Alá".

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Doku Umarov é apelidado "Bin Laden da Rússia"Foto: picture-alliance/dpa

Os Jogos Olímpicos de Inverno na cidade russa de Sochi se aproximam e, com eles, o temor de ataques terroristas. Desde os recentes atentados a bomba em Volgogrado, com 34 mortos, vem crescendo o medo na Rússia – e as dúvidas quanto à segurança durante o evento.

O medo se justifica. Em julho de 2014, sem meias palavras, o inimigo público número 1 do país, o checheno Doku (ou Dokka) Umarov, convocou, sem meias palavras, que se impedissem os Jogos Olímpicos "com todos os meios que Alá permita".

"E a seu ver, meios terroristas são permitidos por Alá", observa Uwe Halbach, especialista em tendências políticas no Cáucaso do instituto de relações internacionais alemão SWP.

As autoridades russas levam extremamente a sério a conclamação – Umarov tem grande influência entre radicais islamistas, e sua palavra tem peso.

"Quando Umarov passa uma mensagem – como, um ano e meio atrás, que não se atacassem mais alvos civis –, então a maioria das células terroristas segue a indicação", explicou o cientista político Gerhard Mangott, da Universidade de Innsbruck, Áustria.

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Ônibus destruído por atentado suicida em VolgogradoFoto: Reuters

"Se agora, uns meses atrás, ele disse que, 'diante dos Jogos Olímpicos sobre os ossos dos nossos ancestrais' – foram estes os termos que empregou –, os alvos civis entram novamente em consideração, isso também é uma diretriz para todas as células terroristas", completa.

Histórico de atentados

O "Bin Laden da Rússia", como o checheno costuma ser chamado, atraiu muito a atenção pública com atos terroristas entre os anos de 2009 e 2011, em especial dois ataques em Moscou: ao metrô, em março de 2010, e ao Aeroporto Internacional Domodedovo, em janeiro de 2011, cada um com cerca de 40 vítimas.

Em fevereiro de 2012, ele ordenou o fim dos atentados – uma iniciativa que, em julho de 2013, tacharia publicamente de erro, por o Kremlin a ter percebido "como fraqueza, não como um sinal de boa vontade".

No momento ainda não está claro se o líder terrorista é responsável pelos atentados recentes em Volgogrado, já que não foi apresentada uma reivindicação oficial. "Nos sites de internet da resistência radical islâmica do Cáucaso, até agora também não apareceu nenhuma reivindicação", comenta Mangott.

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Gerhard Mangott, professor de Ciências Políticas da Universidade de InnsbruckFoto: Celia di Pauli

"Com base no tipo de atentados e dos explosivos empregados, no entanto, é possível deduzir com grande segurança que se trata de obra de fundamentalistas muçulmanos, inspirados por Umarov", acrescenta.

Modelos de resistência muçulmana

Doku Umarov não recua diante de nenhum ato de violência para alcançar sua meta: um Estado islâmico independente no Cáucaso. Para tal, procura de todas as formas expulsar a Rússia da região. Já em outubro de 2007, ele se autonomeara "Emir do Emirado Caucasiano".

Desde então, Umarov é visto como o líder ideológico e militar da resistência islamista. "Ele é uma figura simbólica também reconhecida pelas células que operam de forma descentralizada no Norte do Cáucaso", diz Mangott.

Segundo Halbach, do SWP, o papel assumido por Umarov se apoia numa longa tradição. "Ele se conecta nos modelos de uma resistência anticolonialista do século 19, sob liderança islâmica. Na época, esta foi a resistência mais tenaz contra a hegemonia colonial russa. Desse ponto de vista, essa resistência muçulmana foi, sim, um modelo histórico de bastante destaque. E é a ele que Umarov dá seguimento hoje."

De nacionalista a "emir"

Pouco se sabe sobre a infância do inimigo público número 1 da Rússia. Doku Umarov nasceu em 13 de abril de 1964 na aldeia de Kharsenoi, no sul da Chechênia, segundo consta, numa família de intelectuais. Ele estudou na Faculdade de Engenharia do Instituto Estatal de Petróleo da capital Grózni.

Mais tarde, associou-se a um parente distante que fazia parte dos chefes guerreiros da região. Umarov recebeu treinamento militar e lutou na primeira guerra da Chechênia contra a Rússia. Em 2006, assumiu a liderança da resistência.

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Controles militares em SochiFoto: DW/M. Bushuev

"Na época, ele ainda era essencialmente um nacionalista checheno, sua meta era conduzir a Chechênia à independência como Estado", relata Mangott. Então, prossegue o especialista, no espaço de cerca de um ano e meio, aconteceu uma reviravolta radical, transformando-o "num combatente islamista, cuja causa não era mais a Chechênia, e sim arrancar todo o Cáucaso Setentrional muçulmano das mãos da Rússia, fundando um Emirado Caucasiano".

O cessar-fogo de um ano e meio fez com que ele caísse um pouco em esquecimento. Repetidamente foi declarado morto pelos russos. Segundo observadores, após essa pausa Doku Umarov precisa provar seu valor como líder capaz da resistência islâmica, e os Jogos Olímpicos de Sochi servem perfeitamente para tal fim.

"Nesse contexto de atenção internacional, espera-se de Umarov que ele seja capaz de organizar operações de real peso simbólico, que vão abater o lado russo", acredita Mangott. Por isso, no momento não há ninguém que as autoridades de segurança russas temam tanto quanto o autoproclamado "Emir do Emirado Caucasiano".