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História

O passado nazista de uma das famílias mais ricas da Alemanha

26 de março de 2019

O clã Reimann, dono de mais de 33 bilhões de euros, descobriu que durante o regime nazista houve violência e maus-tratos de trabalhadores forçados em suas fábricas e agora quer doar dez milhões de euros.

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Peter Harf, homem sem cabelo e de óculos
Peter Harf, chefe da JAB Holding, da qual a família Reimann faz parteFoto: picture-alliance/dpa/S. Stache

A família Reimann, a quarta mais rica da Alemanha e fundadora da JAB Holding, tem participação em marcas mundialmente famosas como Calgon (produtos de limpeza) ou Jacobs (café), entre outras. Quase 80 anos após o início da Segunda Guerra Mundial, ela enfrenta agora revelações sobre seu passado nazista.

Pesquisas do tabloide Bild am Sonntag (BamS) apontaram que durante o regime nazista houve violência e maus-tratos de trabalhadores forçados nas fábricas e na mansão em Ludwigshafen do patriarca Albert Reimann e seu primogênito, de mesmo nome. Ambos teriam sido nazistas e antissemitas convictos, que lucraram muito com a Segunda Guerra.

Os próprios herdeiros da família confirmaram que há alguns anos encomendaram a um historiador independente uma pesquisa ampla e profunda sobre o passado nazista da empresa. Questionados, informaram estar aliviados que finalmente haja clareza sobre o caso.

Várias caixas de produto para máquina de lavar louça Calgon
Calgon é uma das marcas da JAB HoldingFoto: Imago/M. Segerer

O porta-voz da família e presidente da JAB Holding, Peter Harf, disse ao BamS que Reimann sênior e Reimann júnior foram os culpados. "Ambos se passaram, e na realidade teriam de ter sido presos", afirmou. O patriarca morreu em 1954, e seu primogênito, em 1984.

Resultados parciais da ampla pesquisa feita pelo historiador Paul Erker, da Universidade de Munique, foram apresentados há algumas semanas a quatro filhos e um neto de Reimann, disse Harf. "Quando o professor Erker fez seu relato, ficamos sem palavras, envergonhados e brancos como a parede. Não há nada para encobrir, esses crimes são repugnantes."

Os herdeiros anunciaram que pretendem doar dez milhões de euros para uma organização adequada. O estudo sobre o passado nazista da empresa deverá ser publicado no próximo ano.

As origens da dinastia empresarial Reimann remontam a meados do século 19, quando Johann Adam Benckiser e Karl Ludwig Reimann construíram uma fábrica de produtos químicos em Ludwigshafen, na Alemanha. Ainda hoje, a família detém uma participação no conglomerado de bens de consumo Reckitt Benckiser, responsável por marcas como Clearasil, Kukident e Calgon. O portfólio inclui ainda o grupo de cosméticos americano Coty e marcas de perfumes como Calvin Klein e Gucci.

Nos últimos anos, a JAB Holding investiu bilhões em aquisições no setor de alimentos. A família também tem participação no mercado mundial de café. A JAB controla a gigante Jacobs Douwe Egberts, que detém as marcas Jacobs, Tassimo e Senseo, e cadeias especializadas em servir café, como a Peet's Coffee ou a Stumptown Coffee Roasters.

Com a expansão, a JAB se tornou a concorrente da Nestlé nos Estados Unidos. E com a compra da fabricante de refrigerantes Dr Pepper Snapple, detentora de marcas como Schweppes e 7Up, garantiu a expansão no mercado americano. Segundo estimativas da revista Manager Magazin, em 2018 a família Reimann ocupava o segundo lugar na lista das mais ricas na Alemanha, com cerca de 33 bilhões de euros em ativos.

Em seu artigo sobre o passado nazista da família, o BamS refere-se a documentos inéditos em vários arquivos alemães. Esses documentos mostrariam que em 1931 os Reimann fizeram doações à SS, a tropa de choque do regime nazista. Em 1º de julho de 1937, Albert Reimann teria escrito a Heinrich Himmler, líder da SS que organizou o Holocausto: "Somos uma empresa familiar centenária e ariana pura. Os proprietários são apoiantes incondicionais da doutrina racial."

Segundo o jornal dominical, o historiador econômico da Universidade de Bielefeld Christopher Kopper, que analisou os arquivos descobertos, disse: "Pai e filho Reimann obviamente não eram oportunistas políticos, mas nacional-socialistas por convicção." O comportamento dos Reimann revela falta de compaixão e a conformidade com a ideologia racial nazista, afirmou Kopper.

A família é avessa a publicidade e evita a imprensa. Indagado por que esse capítulo entre 1933 e 1945 só ficou conhecido agora, Kopper explica que durante o período nazista a empresa operou com outro nome. O porta-voz da família disse que os filhos de Reimann  começaram a vasculhar e ler os documentos do pai nos anos 2000. No início de 2014, foi decidido que a história da família Reimann seria pesquisada de forma completa e independente.

RW/dw/ots

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