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O perigo da invasão russa para a minoria grega na Ucrânia

Kaki Bali
2 de março de 2022

Muitos gregos vivem na cidade ucraniana portuária de Mariupol e em seus arredores. A região está sob ataque dos russos há dias. Doze gregos morreram até agora, e Atenas protesta.

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Vista aérea da cidade
A cidade portuária de Mariupol, no leste da Ucrânia, abriga uma minoria gregaFoto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance

Odessa, Mariupol, Sebastopol: os nomes dessas cidades ucranianas soam familiares, quase nativos, aos ouvidos gregos. A área na costa do Mar Negro desempenha um papel importante na mitologia grega. A Revolução Grega de 1821 foi preparada pela "Filiki Eteria" (Sociedade dos Amigos), uma organização secreta fundada em Odessa. Os gregos vivem nesta área há milhares de anos, e hoje são uma minoria calculada entre 100.000 e 150.000 pessoas. 

Poucos deles vivem em Odessa, a maioria está em Mariupol e em 29 vilas nas proximidades da cidade portuária do leste da Ucrânia.

Nos primeiros cinco dias da invasão russa na Ucrânia, 12 membros da minoria grega foram mortos em Sartanas. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Grécia, eles foram vítimas de bombardeios das forças russas, o que levou a pasta a apresentar um "forte protesto" junto ao embaixador russo em Atenas.

No entanto, a embaixada russa respondeu com um post no Facebook, em tom imperioso, instando todos os políticos, analistas e jornalistas gregos a "levar a mensagem a sério". Segundo a embaixada, as forças armadas russas não realizaram nenhuma operação militar em Sartanas – e soldados ucranianos é que seriam os culpados pelas mortes dos gregos. 

O Ministério das Relações Exteriores grego respondeu prontamente que as declarações feitas pela embaixada russa eram falsas.

Mariupol está perto da chamada linha de contato entre separatistas pró-Rússia e o exército ucraniano na região de Donetsk. A cidade é estrategicamente importante.

Nesta terça-feira (1/03), o prefeito de Mariupol, Wadym Boychenko, disse que mais de 100 moradores já foram feridos em ataques aéreos russos na cidade. "O número de civis feridos está crescendo a cada dia", disse Boychenko, segundo a agência Unian. "Hoje há 128 pessoas em nossos hospitais. Nossos médicos nem vão mais para casa", acrescentou.

Atenas expressa preocupação

No início da crise na Ucrânia, o governo de Atenas expressou sua preocupação com a minoria grega em Mariupol. Em 31 de janeiro de 2022, o ministro das Relações Exteriores grego, Nikos Dendias, esteve na região e assegurou aos gregos no leste da Ucrânia que a Grécia queria protegê-los. 

De fato, planos de evacuação foram feitos em Atenas para os gregos ucranianos forçados a deixar suas casas devido aos combates. Além disso, durante uma visita a Moscou em 18 de fevereiro, Dendias instou seu homólogo russo, Sergei Lavrov, a proteger a comunidade grega no leste da Ucrânia. No entanto, Mariupol é contestada desde 22 de fevereiro.

Carros militares atrás de uma cerca e muita fumaça ao fundo
Mariupol está sob fogo desde o início da guerra na UcrâniaFoto: Sergei Grits/AP Photo/picture alliance

A cidade mais "grega" da Ucrânia

De acordo com o último censo, 91.548 gregos vivem na cidade portuária do mar de Azov, que tem cerca de 500.000 habitantes. Além do ucraniano e do russo, eles falam um dialeto grego único, que chamam de "língua romena". Lá, vivem há séculos, ao lado das minorias armênia e azerbaijana - e, desde 2014, com muitos refugiados ucranianos que fugiram para a cidade antes da invasão russa da Crimeia.

Mariupol significa "cidade de Maria" em grego. O local foi fundado por um decreto de Catarina, a Grande, em 1778, perto de um assentamento cossaco. 

Destinava-se a servir como novo lar para os gregos quando eles tiveram que fugir da Crimeia para evitar os turcos que ocupavam a península. A colonização grega das margens do Mar Negro já havia começado no século 6º.

Mas as raízes da cultura grega nesta região remontam há ainda mais tempo. Já nos tempos antigos, os gregos viviam em colônias ao redor do Mar Negro. Desde então, tem havido uma presença ininterrupta no que hoje é o leste da Ucrânia. E, apesar das bombas russas, a maioria dos gregos quer ficar lá.

Mudança de visão sobre a Rússia

A luta por Mariupol está sendo acompanhada muito de perto na Grécia. As mortes em Sartanas podem levar a uma mudança significativa na opinião pública sobre a Rússia. Tradicionalmente, grande parte da sociedade grega tem uma atitude bastante positiva em relação à Rússia, alguns até falam de uma amizade eterna "com o irmão mais velho e loiro".

A maioria da população de ambos os países pertence à Igreja Ortodoxa. Gregos e russos nunca lutaram entre si. Ioannis Kapodistrias, que se tornou o primeiro governador do estado grego livre após a independência do Império Otomano em 1828, já havia sido ministro das Relações Exteriores da Rússia czarista. Também nos últimos tempos, a Grécia tentou funcionar mais como uma ponte entre o Ocidente, do qual se sente parte, e a Rússia. Atenas sempre foi muito compreensiva com as preocupações de Moscou.

Isso acabou agora. Três dias após a invasão russa na Ucrânia, o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, decidiu fornecer equipamento militar às forças armadas ucranianas. Isso foi um ponto de virada. Além disso, a Grécia também mandou ajuda humanitária a Kiev. O material foi enviado para a Polônia em dois aviões e de lá será levado para a Ucrânia.