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O poder irredutível em Washington

(am)7 de novembro de 2002

Para os alemães, o resultado das eleições para o Congresso americano foi sobretudo uma advertência aos europeus: o caráter nacionalista da política de Washington deverá tornar-se agora ainda mais patente.

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Os eleitores americanos reforçaram a posição do presidente BushFoto: AP

O semanário alemão Die Zeit traçou um paralelo entre as eleições para o Congresso nos EUA e as eleições parlamentares na Alemanha, em setembro passado. Em ambos os países, a oposição teria perdido a votação por temor de atacar o "ponto forte" dos respectivos governos: os democratas não quiseram parecer menos patrióticos que George W. Bush, enquanto os conservadores alemães – comandados pelo governador da Baviera, Edmund Stoiber – temeram mostrar-se menos pacifistas que Gerhard Schröder.

Tal comparação foi apenas uma das inúmeras associações feitas entre as políticas americana e alemã, em decorrência do resultado das eleições americanas. Os comentários publicados pela imprensa alemã chegam a dar quase a impressão de que os eleitores estadunidenses pretenderam "dar uma lição" aos europeus, reforçando a posição de George W. Bush. Na sua edição online, a revista Der Spiegel ressalta, por exemplo, as declarações do senador republicano Trent Lott, do Estado do Mississipi, que avaliou o resultado do pleito como um recado "à Alemanha e a todos os demais países". O presidente recebeu "um apoio incrível, histórico, do povo americano, uma prova de confiança, da qual não abusaremos", afirmou Lott.

Lidar com divergências

O encarregado do governo federal alemão para as relações bilaterais teuto-americanas, Karsten Voigt, acredita que o resultado das eleições para o Congresso fará com que Bush se mostre ainda mais irredutível na sua política para o Iraque. E este é exatamente o pomo da discórdia entre Washington e Berlim na política internacional, desde meados do ano. Berlim rechaça terminantemente a participação alemã – direta ou indireta – num eventual ataque militar americano contra Saddam Hussein.

Apesar de ter recebido o apoio do povo americano através das eleições para o Congresso, George W. Bush terá mesmo assim de convencer os europeus de que sua política para o Iraque é correta, opina Karsten Voigt. "No que se refere aos alemães, ele ainda não logrou nos convencer quanto à necessidade de uma ação militar", diz o assessor de Gerhard Schröder e ex-deputado social-democrata. Contudo, afirma Voigt, a cooperação transatlântica não será afetada por tais diferenças: "Onde tivermos opiniões divergentes, teremos de aprender a lidar com as divergências."

Entre os mais poderosos

Alguns órgãos da imprensa não vêem a questão de maneira tão simples. É o caso, por exemplo, do Financial Times Deutschland, que afirma: "Boa notícia para George W. Bush, má notícia para Gerhard Schröder. Os amigos republicanos do presidente americano lograram êxitos históricos nas duas câmaras parlamentares. O resultado eleitoral é um golpe para todos – como o governo alemão – que apostavam que o conservador americano e suas ameaças militares seriam apenas um capricho da história. Após o triunfo nas eleições para o Congresso, Bush é um dos mais poderosos presidentes na história dos EUA. O chanceler alemão terá agora de consertar o seu mau relacionamento pessoal com este homem."

O Financial Times Deutschland crê num agravamento das relações bilaterais teuto-americanas não apenas no tocante ao Iraque, mas também em outros setores: "O resultado das eleições prometem um agravamento das tensões entre Berlim e Washington. Pois as maiorias republicanas no Senado e na Câmara dos Representantes apoiarão Bush na sua política rigorosa contra Saddam Hussein. Uma guerra contra o Iraque, que é rechaçada categoricamente por Schröder, não se tornou uma certeza depois da eleição, mas é cada vez mais provável. Também nas outras questões polêmicas das relações transatlânticas, como a proteção do clima mundial ou o livre comércio, os Estados Unidos, dominados pelos republicanos, continuarão defendendo as suas posições nacionalistas, sem qualquer concessão."