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O que é e como surgiu a AfD?

Kay-Alexander Scholz (fc)5 de setembro de 2016

Fundado em 2013, partido populista de direita já tem representantes em nove legislativos estaduais. Como ele surgiu, quem são seus eleitores e quais são seus pontos fracos e suas chances de se estabelecer?

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Frauke Petry e Jörg Meuthen
Frauke Petry e Jörg Meuthen são os dois presidentes da AfDFoto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka

Em números, o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) é composto por cerca de 23,5 mil filiados. Destes, dois são deputados no Parlamento Europeu, e outros 104 são deputados nos parlamentos estaduais alemães. Após a eleição em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental neste domingo (04/09), nove dos 16 legislativos estaduais passarão a ter uma bancada da AfD.

Politicamente, a legenda se localiza à direita no espectro político alemão. Fundada no início de 2013, a AfD se alinha com outros partidos populistas de direita da Europa, como o Partido da Liberdade austríaco (FPÖ) ou o Partido da Independência do Reino Unido (Ukip). Muitos pesquisadores apontam como causa para o surgimento da AfD a política adotada pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, que também é presidente da conservadora União Democrata Cristã (CDU).

Desde o início de seu governo, em 2005, Merkel prescreveu um curso modernizador para os democrata-cristãos, em direção ao centro do espectro político. Assim, abriu-se um espaço à direita. Decisões de Merkel como chanceler federal – como o abandono do uso da energia nuclear ou a suspensão do serviço militar obrigatório – fizeram surgir "órfãos políticos" entre os eleitores, que viam sua visão de mundo conservadora em risco.

Além disso, nos anos de gestão da crise financeira, após 2008, surgiu uma oposição à atuação de Merkel, particularmente à política de resgate do euro – embora, do ponto de vista econômico, a Alemanha tenha saído bem da crise. No início de 2013, o economista Bernd Lucke conseguiu reunir os descontentes e críticos, fundando a AfD.

As duas alas do partido

Já na eleição geral de setembro de 2013, por pouco a AfD não conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira de 5% dos votos e entrar no Bundestag (Parlamento alemão). Como, nessa mesma eleição, o Partido Liberal Democrático (FDP) ficou de fora do Bundestag, muitos eleitores dele se voltaram para a AfD, tendo a legenda até hoje uma corrente liberal.

Mas, desde o início, sobretudo a chamada "nova direita" na Alemanha – formada por diversos pequenos partidos, grupos e intelectuais caracterizados por uma visão de mundo xenófoba e reacionária – buscou um lar político na AfD.

Para angariar votos, os líderes do partido – Bernd Lucke, Frauke Petry, Bernd Höcke e Alexander Gauland – dirigiram-se conscientemente a todo esse eleitorado à direita do espectro político. Houve também contatos com o movimento anti-imigração Pegida (sigla em alemão para "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente").

A inclinação da AfD para o populismo de extrema direita criou uma luta interna pelo poder, do qual Petry emergiu como vencedora e Lucke e a ala liberal, como derrotados. Lucke, que teve um papel fundamental na fundação do partido, deixou a AfD e criou uma nova legenda, chamada Alpha, que, porém, manteve-se insignificante. Nas pesquisas, a AfD voltou a ter o status de pequeno partido.

Frauke Petry
Petry é o rosto mais conhecido do novo partidoFoto: Getty Images/T. Lohnes

Razões para o sucesso

Aí veio a crise migratória, que agiu como um catalisador para a AfD. Como único partido que, desde o início, criticou a cultura de boas-vindas aos refugiados, a legenda deu um salto e conseguiu resultados de dois dígitos em pesquisas de opinião e em importantes parlamentos estaduais. Com isso, a AfD se estabeleceu, organizou-se e passou a receber verba pública para partidos. Diante da opinião pública, o partido quebrava um tabu após o outro – o que atraía ainda mais eleitores.

Por muito tempo, os demais partidos tentaram ignorar a AfD, na esperança de que as lutas internas pela liderança levassem à autodestruição. Na imprensa alemã, a AfD se destacava principalmente por suas tendências radicais de direita ou como palco de uma ferrenha briga interna pelo poder. Por isso, o partido se apropriou do slogan "imprensa da mentira", usado pelo movimento Pegida – o que funcionou bem como defesa.

Enquanto isso, a mídia praticamente ignorava outros aspectos da AfD, que reunia muitos simpatizantes em nível local. Muitos médicos, advogados e empresários se engajam no partido, que se beneficia disso. Os principais candidatos da AfD em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental refletem exatamente essa clientela. Assim, a AfD se tornou uma grave ameaça no nordeste alemão para a CDU e também para o FDP.

Quem vota na AfD?

A AfD tem eleitores em todas as faixas etárias – inclusive jovens. Na organização Junge Alternative (Alternativa jovem, em tradução livre) se encontram muitos jovens que se opõem ao que chamam de "mainstream político de esquerda e ambientalista" na Alemanha. Muitos jovens alemães têm, hoje, grande preocupação com a segurança. Em algumas regiões do leste da Alemanha, um em cada três jovens é eleitor da AfD – ou do ainda mais extremista NPD.

A AfD também conquistou eleitores em grupos que geralmente não vão às urnas. Entre eles estão os que ainda sentem os efeitos negativos da Reunificação para a antiga Alemanha Oriental e alemães de baixa escolaridade. Também em alguns grupos de imigrantes, como os russo-alemães, encontram-se muitos apoiadores da AfD.

Análises eleitorais mostram que eleitores de todos os demais partidos foram para a AfD. No leste do país, onde a AfD tem um índice de aprovação de 20%, a legenda já é vista por muitos observadores como um pequeno partido popular.

Cartaz contrário à AfD
A AfD polariza na Alemanha, onde é alvo frequente de críticasFoto: picture-alliance/dpa/I. Wagner

Futuro e luta interna pelo poder

A AfD levou muito tempo para definir o seu programa partidário. Primeiramente, a ideia era reunir todos os eleitores insatisfeitos – e um programa claro demais seria contraproducente. Somente após três anos, em abril de 2016, foi definido o primeiro programa partidário, que oscila entre visões reacionárias, conservadoras, liberais e libertárias. Atualmente, temas como migração, islã e segurança interna dominam o debate público alemão – e, são, portanto, interessantes para partidos populistas como a AfD.

A maioria dos cientistas políticos considera a AfD como uma força consolidada no panorama político alemão. No entanto, as lutas internas de poder não devem ser subestimadas. Recentemente foi possível constatar, no estado de Baden-Württemberg, onde o grupo parlamentar da AfD se dividiu, o potencial explosivo dessa batalha – tanto interna quando externamente. Petry, copresidente do partido, foi atacada pelo outro copresidente, Jörg Meuthen, que se uniu aos críticos dela.

Petry – que, curiosamente, é cientista e nasceu na antiga Alemanha Oriental, assim como Merkel – adotou recentemente uma linha mais moderada, orientando-se pelo austríaco FPÖ, que existe há décadas. Se ela conseguir se manter na liderança da AfD, o partido deve manter um perfil neoconservador relativamente moderado. Caso contrário, as forças mais radicais vão prevalecer.

É claro que o futuro do partido dependerá de novos acontecimentos políticos. Haverá outros ataques terroristas? Qual será a evolução do fluxo de refugiados? A integração destes será bem-sucedida? Outro fator crucial é a força que o partido terá no Bundestag após as eleições gerais de setembro de 2017.