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O que esperar de um possível governo Temer?

Jean-Philip Struck18 de abril de 2016

Cientistas políticos afirmam que vice tem mais capital político do que Dilma para governar, o que não significa que não vai enfrentar dificuldades, incluindo desconfiança da população e clima de incerteza.

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Vice-presidente do Brasil, Michel Temer
Foto: Reuters/A. Machado

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Levantamentos mostram que é bastante provável que a presidente Dilma Rousseff sofra uma derrota no Senado, que deve referendar o seu afastamento já aprovado pela Câmara. Assim, seria pavimentado o caminho para que o vice-presidente Michel Temer assumisse a Presidência interinamente.

O vice já vem se preparando para essa eventualidade e já discute com forças políticas a composição de seu possível governo. Mas o que esperar de uma administração Temer?

Segundo o cientista político suíço Rolf Rauschenbach, do Centro Latino-Americano da Universidade de St. Gallen, Temer chega com mais recursos para estancar a crise política. "Ele tem a vantagem de começar do zero. Apesar de tudo, ele é um novo nome, que pode tentar lutar por um voto de confiança, algo que Dilma já havia definitivamente perdido. Temer é mais hábil politicamente e tem mais capacidade de diálogo com o Congresso", afirma.

O cientista, no entanto, adverte que, apesar de algumas vantagens, o vice pode ter que criar alguns fatos positivos rapidamente se quiser governar e não sofrer a mesma paralisia enfrentada por Dilma. "Temer vai ter pouco tempo para mostrar a que veio. Ele tem que criar imediatamente alguns fatos políticos e econômicos para acalmar a situação."

Ainda assim, Rauschenbach afirma que, mesmo que Temer consiga uma trégua, a desesperança dos brasileiros com o sistema vai continuar. "Quem viu os deputados votando na Câmara no domingo viu que não há muita esperança de uma melhora significativa na política brasileira. Os velhos problemas estruturais vão continuar."

Rauschenbach também lembra que um governo Temer começaria com problemas na Justiça. "Mesmo com a saída de Dilma, a Justiça eleitoral ainda vai ter que analisar as ações que pedem a cassação da chapa, na qual Temer é parceiro. Isso gera incerteza sobre o futuro do governo."

O professor Ricardo Ismael, da PUC-Rio, prevê que Temer terá a simpatia do mercado, mas deve sofrer com a desconfiança da população e a resistência das sobras da base governista de Dilma – o que pode dificultar a sua capacidade de governar.

"A perspectiva da ascensão de Temer cria expectativas, já que o mercado espera que ele tenha mais capacidade de formular uma política econômica – diferentemente de Dilma. Ele encontra um ambiente de 'pior do que está não fica'", afirma.

Rejeição e novas eleições

Mas se o nome Temer conta com simpatia do mercado, o mesmo não pode ser dito da população. "O problema é que Temer é uma figura desconhecida para uma boa parte da população, que não tem a mínima ideia de quem é o vice. E muitos setores que o conhecem rejeitam seu nome. Isso gera desconfiança sobre sua capacidade de governar", afirma o professor Ismael.

Uma pesquisa do instituto Datafolha realizada neste domingo mostrou que o vice é rejeitado até mesmo por adversários de Dilma. Entre as 250 mil pessoas que participaram do protesto contra a petista na Avenida Paulista, 54% defenderam o impeachment de Temer. O levantamento também apontou que 68% acreditam que a gestão dele será regular ou ruim/péssima.

De acordo com Ismael, essa rejeição pode fortalecer propostas de novas eleições, o que deve minar o eventual governo do vice. "Ele também deve sofrer muita resistência do PT e de setores ligados ao partido. Eles não têm mais nada a perder, então vão tentar desgastar um governo Temer a todo custo até 2018", afirma.

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O cientista político Renato Perissinotto, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), concorda que os movimentos sociais e o PT vão tentar criar dificuldades para Temer. "O mercado espera que ele faça uma série de reformas. Se elas forem levadas a cabo, é fácil imaginar o país sendo tomado por greves e protestos."

Sensação de ilegitimidade

Perissinotto é pessimista até sobre os primeiros meses de um governo Temer. "O processo de impeachment, tal como aconteceu, deixou uma sensação de ilegitimidade em parte significativa das forças políticas. Elas não vão querer saber de trégua", afirma.

Segundo ele, Temer ainda deve enfrentar dificuldades com seu próprio partido. "O PMDB não é uma sigla homogênea, e tem vários setores que disputam o poder. Temer não é uma unanimidade. Ele vai ter que conciliar a sede por cargos de colegas com a de outras siglas – e o PMDB está acostumado com o papel de exigir cargos, e não o de distribuir", completa.

Os cientistas políticos também afirmam que Temer vai ter que lidar com outros fatores, como a Operação Lava Jato, que ajudou a minar a popularidade de Dilma. "Até agora não surgiu nenhuma acusação direta que tenha desgastado sua imagem, mas é preciso aguardar", afirma Ismael, que considera improvável um novo governo conseguir interferir na operação.

Já Perissinotto teme que figuras de um eventual governo Temer tentem sabotar a Lava Jato. "Parece-me pouco provável que um Eduardo Cunha [presidente da Câmara que é réu na Lava Jato e aliado de Temer] não tente uma sabotagem", afirma.