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O terror do EI contra civis em Mossul

4 de novembro de 2016

"Estado Islâmico" usa população como escudo humano e pune civis que esboçam resistência ou tentam fugir da cidade iraquiana. "Toda humanidade parece ter sido perdida", relata jornalista.

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Estado Islâmico
Foto: Reuters

As tropas da coalizão internacional que combate o "Estado Islâmico" (EI) estão cada vez mais próximas do centro de Mossul, bastião da organização terrorista no Iraque. Segundo o enviado especial dos EUA para a luta contra o EI Brett McGurk, os resultados estão sendo alcançados mais rápido do que o previsto.

Com o avanço das tropas, a situação fica cada vez mais perigosa não apenas para os jihadistas, mas também para os civis que estão retidos na região e que, segundo a ONU, são usados como escudos humanos.

"A estratégia sórdida e covarde do EI consiste em proteger certas localidades, bairros ou instalações militares contra ataques levando para esses locais milhares de reféns civis", disse Ravina Shamdasani, porta-voz da Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Segundo a mídia internacional, no final de outubro, milícias do EI decapitaram um pai de família que havia insultado o líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi. Além disso, ao detonarem uma bomba em Mossul, mataram mais de 40 xiitas e 57 combatentes do próprio grupo suspeitos de traição.

"Tais atos são um claro sinal de que a organização terrorista está perdendo apoio não apenas junto à população, mas também em suas próprias fileiras", declarou Sabah al-Numani, porta-voz das unidades antiterroristas iraquianas à imprensa.

Escapar é quase impossível

Há meses, vários combatentes do EI deixaram Mossul e se estabeleceram na Síria. Os que permaneceram na cidade iraquiana parecem determinados a usar todos os meios à disposição para se defender.

Ao se retirarem de vilarejos próximos de Mossul, os jihadistas levaram consigo moradores dessas regiões para o centro da cidade. Agora, eles reforçam a faixa de escudos humanos, diz Björn Blaschke, correspondente da emissora pública de televisão alemã ARD.

Testemunhas relatam que um grande número de pessoas em Mossul se refugiou em suas próprias casas para escapar do EI. "Mas, agora, ouvimos que essas pessoas são arrastadas de suas casas e mortas cruelmente para que outras pessoas nem pensem em fugir da cidade", conta Blaschke.

Domínio brutal

Pensar em métodos de execução cada vez mais brutais se tornou um hobby para os jihadistas, relata Anna Osius, jornalista da ARD, com base em relatos de testemunhas iraquianas. Com frequência, são usadas punições draconianas para pequenos delitos. Crianças que fugiram de Mossul relatam que o EI corta as mãos de civis.

"Mulheres relatam que só podem deixar suas casas com véu que cobre todo o corpo e luvas. Celulares são proibidos para todos os moradores, assim como jogos com bolas para as crianças", diz Osius, que até pouco tempo estava no Iraque.

"Uma jovem mãe com um bebê me contou chorando que ela havia sido torturada por jihadistas quando estava em estado avançado da gravidez. "Parece realmente que toda a humanidade foi perdida", relata Osius.

"Não podemos esquecer que a grande maioria das pessoas em Mossul é inocente e sofre terrivelmente sob o domínio brutal do EI", diz Alex Mulitonovic, funcionário da Cruz Vermelha Internacional responsável pelo Iraque. Ele diz, ainda, que deveriam ser encontradas maneiras para que as pessoas pudessem deixar Mossul o mais rápido possível. "Caso contrário, a cidade se tornará uma armadilha para elas."

Se conseguirem fugir de Mossul, os civis terão seu sofrimento aliviado apenas em parte. Isso porque, apesar de todos os esforços, na região de Mossul não há como acomodar e fornecer assistência para um grande número de refugiados. Nas regiões curdas do Iraque haveria condições de atender cerca de 60 mil pessoas, o que já seria um começo, diz Blaschke. Segundo dados da ONU, até um milhão de pessoas poderiam tentar fugir da cidade.

Kersten Knipp
Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.