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Manobras militares

Emili Vinagre (ca)2 de dezembro de 2008

Além de interesses comuns em energia ou armamento, qual a dimensão real da aliança entre Rússia e Venezuela? DW-WORLD.DE entrevistou especialista alemão sobre o tema.

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Chávez e Medvedev visitam navio russo no porto venezuelano de La GuairaFoto: AP

Operação Venrus 2008 foi o nome com o qual Venezuela e Rússia batizaram as manobras navais conjuntas que realizam em águas territoriais venezuelanas entre estas segunda-feira e quarta-feira (01 e 03/12). Participam dos exercícios 11 navios venezuelanos e quatro barcos russos – entre eles, o cruzeiro de propulsão nuclear Pedro, o Grande. Os exercícios fazem parte do estreitamento de relações entre os governos de Caracas e Moscou.

A iniciativa tem forte caráter simbólico. Desde a derrocada da União Soviética, em 1991, esta é a primeira manobra do gênero que o governo russo realiza na região. Apesar de Venezuela e Rússia terem se apressado em assegurar que as manobras não se dirigem contra terceiros países, em alusão aos EUA, o certo é que os exercícios nada agradaram ao governo de Washington.

Mas que alcance real tem para a região a aliança que Rússia e Venezuela vêm potencializando nos últimos tempos? A recente visita do presidente russo, Dimitri Medvedev, aos países latino-americanos tem como verdadeiro motivo o desejo de Moscou de aumentar sua influência na América Latina? DW-WORLD.DE conversou sobre isso com Nikolaus Werz, cientista político da Universidade de Rostock.

DW-WORLD.DE: As manobras conjuntas entre Rússia e Venezuela em águas do Caribe têm causado náuseas em Washington. Talvez tenha sido este o objetivo?

Nikolaus Werz: Trata-se de manobras que surpreendem, já que nos últimos anos não houve exercícios deste tipo na região. Os últimos foram durante a Guerra Fria. Trata-se, principalmente, de um sinal que se encaixa muito bem no contexto da política exterior venezuelana, ou seja, na mensagem de que "os inimigos de meus inimigos são meus amigos". É uma política que se baseia, de certa forma, no "antiamericanismo".

Falamos então de manobras que têm muito de simbólico, mas bem pouco de efetivo...

Dimitri Medvedev mit Hugo Chavez in Venezuela auf einem russischen Zerstörer
Manobras são sobretudo simbólicas, diz WerzFoto: AP

Sim, é mais simbólico do que qualquer outra coisa. No que tange à indústria bélica, é preciso levar em consideração que a maior parte dos armamentos da Venezuela são de origem norte-americana. A América Latina também não teve experiências muito boas de colaboração em nível militar na época da União Soviética. Como exemplo, podemos citar o Peru. O objetivo é, sobretudo, incomodar os EUA e para Chávez, especialmente, obter sua cota de presença nos meios de comunicação mundiais.

Além da questão armamentista, que outros tipos de cooperações significativas podem-se estabelecer entre Rússia e Venezuela? Por exemplo, em nível econômico.

A verdade é que não vejo em que setores da economia Rússia e Venezuela podem cooperar. Mas noto que há outros países que aumentaram sua presença na região nas últimas décadas. De um modo geral, falamos da Ásia, nos últimos 30 anos, ou da China, na última década. Mas não da Rússia. No entanto, é certo que Moscou quer marcar presença na América Latina, mas não está claro em que medida e com que armas tentará fazê-lo.

Talvez no setor energético?

Gazprom Hauptquartier in Moskau
Rússia quer cooperar com Venezuela no setor energéticoFoto: AP

Talvez. A Venezuela estabeleceu muitas parcerias nesse âmbito nos últimos anos, com o Irã, com a China, mas também com a Rússia. É o caso da cooperação com a estatal russa Gazprom. Também foram assinados acordos para exploração conjunta de petróleo e há uma aproximação em matéria de energia nuclear. Nesse campo, a Rússia está disposta a cooperar com a Venezuela para o desenvolvimento da energia nuclear com fins pacíficos.

A influência russa na América Latina cresce na mesma proporção em que a norte-americana diminui na região?

Não exatamente. Em todo caso, devemos aguardar os acontecimentos. Certamente, a influência econômica de Washington diminuiu nos últimos seis ou sete anos. Mas, sob o aspecto cultural, a realidade é que há muito mais aproximação com os Estados Unidos do que com a Rússia. Se isso irá mudar, ainda é muito cedo para afirmar. Será interessante ver como se posiciona o novo inquilino da Casa Branca após 20 de janeiro de 2009.