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Obrigada, Bossa Nova

11 de julho de 2019

Foi a Bossa Nova que me levou para o Brasil e mudou a minha vida. A voz de João Gilberto me faz lembrar dos meus momentos mais felizes. Uma declaração de amor para o país com a melhor música do mundo.

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João Gilberto durante gravação em estúdio
João Gilberto durante gravação em estúdioFoto: Getty Images

Quanta ternura! Quanta poesia! Caros brasileiros, em memória a João Gilberto quero compartilhar com vocês a minha paixão pela Bossa Nova. A voz e a batida dele pavimentaram o caminho que me levou ao Brasil. Apaixonei-me primeiro pela Bossa Nova e depois pelo Brasil.

Suave e sensual, melancólica e serena, poética e percussiva, a Bossa Nova é para mim uma síntese da dialética brasileira. No ritmo com melodias etéreas e harmonias dissonantes, as aparentes contradições se dissolvem e se unem para criar um estilo musical único, que permite um profundo olhar sobre a alma brasileira.

A primeira música que aprendi a cantar foi, é claro, Garota de Ipanema. Ainda como estudante na cidade de Freiburg nos anos 80, eu cantava num conjunto de Jazz e adorava essa música. Primeiro, porque era legal para improvisar, assim como todos os standards do famoso Real Book, conhecido como a "bíblia do Jazz". E, segundo, porque aquela mistura de melancolia com delicadeza acariciava a minha alma.

Eu cantava e sonhava, viajava e curtia, descobria e admirava. Através da Bossa, descobri o suave som do português brasileiro e fiquei com vontade de aprender o idioma. Ouvindo João Gilberto, treinava a pronúncia. Nas aulas de português, o professor explicava as letras de Vinícius de Moraes.

Com isso, abriu-se um universo novo para mim. Era fino, delicado, sofisticado e me fazia refletir. Eu pensava: "Um povo que gosta de versos como 'Vai minha tristeza, diz a ela que sem ela não pode ser', ou 'Pois a própria dor revelou o caminho do amor, e a tristeza acabou' tem um gosto musical muito melhor do que os adeptos da música popular alemã." Impressionei-me com a musicalidade dos brasileiros.

A colunista Astrid Prange durante apresentação com a banda brasileira Curare em Hamburgo, em 1986
A colunista Astrid Prange durante apresentação com a banda brasileira Curare em Hamburgo, em 1986Foto: privat

De repente, o amor pela Bossa Nova me fez conhecer brasileiros na Alemanha. Entre eles, um vizinho meu, que tocava violão para matar a saudade do Brasil. E uma banda brasileira chamada Curare, que tocava nos bares de Hamburgo, me convidou para cantar com eles. Depois, veio o meu marido brasileiro, que contagiava as pessoas com a sua voz e o seu violão. Mudei-me para o Brasil por causa do amor.

"Um cantinho, um violão, este amor uma canção, pra fazer feliz a quem se ama"... Essa história de amor pela Bossa Nova, que começou ouvindo João Gilberto cantando e tocando violão, nunca terminou. Nem a morte pode apagar essa paixão eterna pela música brasileira, especialmente pela Bossa Nova.

Quando voltei para a Alemanha, não deu outra: meu marido e eu fundamos uma banda brasileira para reunir a comunidade e matar saudades desse Brasil cheio de alegria, carinho, suingue e samba. A Bossa e a MPB conseguem reunir pessoas de países e culturas diferentes para celebrar a paixão pela música, que não conhece barreiras nem fronteiras.

A Bossa agrada e conquista todo mundo. Onde tem João Gilberto, Bossa Nova e MPB, a alma brasileira voa alto. A sintonia é tão grande que faz bater corações brasileiros mundo afora. Obrigada, Bossa Nova. Você mudou a minha vida!

Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.

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