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Olhem para a Austrália!

8 de janeiro de 2020

Os incêndios na Austrália têm mais a ver com o Brasil do que se pensa – não apenas devido à fumaça no Rio Grande do Sul, mas também por serem um alerta sobre os cenários apocalípticos causados pelo aquecimento global.

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Bombeiro em meio a incêndio florestal na Austrália
"A Austrália virou um inferno na Terra", escreve a colunista Astrid PrangeFoto: Reuters/AAP Image/D.

Caros brasileiros,

na Austrália pássaros mortos caem do céu, que mudou de cor e ficou vermelho e cinza. Restos de árvores e casas carbonizadas compõem uma paisagem apocalíptica. Nuvens pretas de fumaça são levadas até a Nova Zelândia, a 2.000 quilômetros de distância. Lá, cobrem as geleiras com uma camada preta de cinzas.

A Austrália virou um inferno na Terra. E o que significa isso para o Brasil? O governo brasileiro pode agora respirar fundo já que a Austrália fica longe e os incêndios tiram a atenção internacional das queimadas na Amazônia? O presidente Jair Bolsonaro tem razão quando diz que os países industrializados deveriam primeiro cuidar das suas próprias florestas antes de criticar o Brasil pelo aumento da destruição da Floresta Amazônica?

À primeira vista parece que sim. A devastação no sudeste da Austrália parece gigante. Nos estados de Nova Gales do Sul e Vitória quase 100.000 (!) pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas.

A área devastada pelas chamas já atingiu cerca de 70.000 km², uma área do tamanho da Irlanda. Milhões de bichos morreram. Em comparação: entre agosto de 2018 e julho de 2019, a área desmatada na Floresta Amazônica foi de 9.762 km², segundo dados do Inpe. Já a área consumida pelo fogo no auge das queimadas na Amazônia em 2019, entre agosto e setembro, foi de 41.197 km², também segundo o Inpe.

Mas o inferno australiano pode se alastrar para o Brasil mais rápido do que se imagina e para além da fumaça que já chegou ao Rio Grande do Sul. Os dois países têm muitas coisas em comum. Assim como o Brasil, a Austrália depende economicamente de agricultura e matérias-primas que aceleram o desmatamento de florestas. Assim como o Brasil, a Austrália extrai e exporta minério de ferro e ouro. Além disso, é uma dos grandes exportadores de carvão e, por isso, não tem interesse em reduzir as emissões de dióxido de carbono.

Livrar-se da dependência econômica da exportação de matérias-primas e, ao mesmo tempo, tornar a economia do país mais sustentável é um processo penoso. A indústria da Alemanha dependeu da produção de carvão durante mais de um século, especialmente na região do Ruhr, que agora tenta mudar de direção.

Existem também paralelos ideológicos entre o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, e Bolsonaro: os dois são políticos conservadores e evangélicos que negam o aquecimento global. Os dois incentivam a utilização das florestas para a indústria agrícola. Os dois cultivam a provocação como estilo político.

Área atingida por queimada em Rondônia, em foto de agosto de 2019
Área atingida por queimada em Rondônia, em foto de agosto de 2019Foto: Flávio Forner

Mas as chamas na Austrália começam a queimar essas posturas ideológicas. Com os incêndios violentos, a Austrália virou uma espécie de laboratório do aquecimento global, que causa um sofrimento enorme para a sua população. Parece que o país virou um lugar onde se pode observar o impacto desastroso que as mudanças climáticas podem causar sobre a humanidade.

Na Austrália, por exemplo, nove dos dez verões mais quentes foram registrados desde 2005. A temperatura média subiu 1°C ao longo dos anos. O calor, a seca e os ventos fortes contribuíram para o alastramento dos incêndios atuais. E também a demora em reconhecer a gravidade da crise pelo primeiro-ministro Morrison, que agora está sendo duramente criticado.

Os incêndios na Austrália não somente mostram uma nova realidade de catástrofes ambientais no país. Eles mostram também possíveis consequências do aquecimento global no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Nesse apocalipse anunciado, o Brasil tem duas opções: continuar desmatando a Amazônia e acelerando o aquecimento global ou voltar a ser um líder na proteção climática. Olhem para a Austrália!

Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.

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