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Opinião: Steinmeier acertou no tom

Rupert Wiederwald Korrespondent Hauptstadtstudio
Rupert Wiederwald
4 de outubro de 2017

No aniversário da Reunificação, presidente da Alemanha fez discurso importante, alertando para os muros na sociedade do país após a chegada de populistas de direita ao Parlamento, opina o jornalista Rupert Wiederwald.

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Steinmeier durante a festa pelos 27 anos da Reunificação: tom pouco usual para o cargo
Steinmeier durante a festa pelos 27 anos da Reunificação: tom pouco usual para o cargoFoto: picture-alliance/dpa/B. Roessler

Foi um discurso incomum o de Frank-Walter Steinmeier em Mainz. Como presidente alemão, é seu dever ser apartidário e, ainda assim, deixar transparecer atitude. Na melhor das hipóteses, deve levantar debates, sem indicar uma solução. Muitas vezes, isso leva a que os presidentes alemães façam discursos muito equilibrados, que são amigáveis, não atacam abertamente ninguém e, portanto, são muitas vezes um pouco chatos.

Assim, seria normal que, em 3 de outubro, Dia da Unidade Alemã, o presidente enfatizasse os sucessos dos 27 anos da reunificação das Alemanhas Oriental e Ocidental e descrevesse os problemas que ainda existem.

Em Mainz, foi exatamente isso que o presidente Steinmeier não fez. Em vez disso, ele comentou, como chefe de Estado, a eleição parlamentar, realizada apenas dias antes – se servindo do resultado do pleito como uma oportunidade para falar sobre novos muros que não separam o país, mas a população. E também pediu que as diferenças não se tornem inimizades abertas. Todos têm esse dever, segundo Steinmeier, tanto cidadãos como políticos. Foi importante ouvir isso do presidente.

Steinmeier rogou para que os alemães voltem a conversar mais entre si, em vez de apenas balançarem a cabeça em relação aos outros – uma verdade singela. Mas o que Steinmeier quer dizer é: tenham coragem para debater uns com os outros, para expressarem suas diferenças. Isso não é mais do que um pedido para que aconteçam discussões que muitas vezes deixam de ocorrer na Alemanha.

E o próprio Steinmeier nomeia a questão mais importante: a imigração. Steinmeier diz que a Alemanha não deve simplesmente ignorar a imigração, mas, pelo contrário, deve finalmente criar regras que permitam o acesso legal a imigrantes. Em resumo: Steinmeier pede uma lei de imigração. Isso também pode ser entendido como uma crítica à chanceler Angela Merkel – os partidos conservadores CDU e CSU até agora bloquearam com sucesso a criação de tal legislação.

E, neste contexto, Steinmeier retoma outro debate de que muitos já tomaram parte. O que significa ser alemão, o que é pátria? Em si, já é o assunto mais delicado com o qual políticos alemães têm que lidar – mas Steinmeier consegue o equilíbrio, afirmando que ser alemão é adotar a história alemã e os valores democráticos, o que também deve valer para os imigrantes. Ao mesmo tempo, ele diz que todos trazem em si uma ideia diferente de pátria, e que a soma dessas ideias individuais faz, segundo ele, da Alemanha o país que é.

O chefe de Estado alemão classifica o compromisso em relação à história do nazismo na Alemanha como algo inegociável – especialmente para deputados – mostrando, assim, claramente, os limites do novo partido populista de direita no Bundestag, sem mencionar a AfD em uma única palavra.

Raramente um presidente alemão emitiu tanta opinião – e raramente isso foi tão necessário. Em tempos difíceis, é preciso uma bússola, uma atitude. E onde, se não nas celebrações da Reunificação alemã, o presidente poderia falar de tal modo a todos os alemães? E quando, se não agora, o presidente poderia ter abordado as consequências do resultado eleitoral de 24 de setembro? Foi o discurso certo no momento certo. Merkel, aliás, falou em seu discurso no mesmo dia sobre as muitas coisas que foram bem-sucedidas nos últimos anos, afirmando que elas podem nos dar forças para resolver os problemas pendentes.