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Opinião: A Alemanha em compasso de espera

1 de dezembro de 2017

Também um governo interino pode agir com eficácia, garante a Chancelaria Federal. Só procede em parte: focos de incêndio na política externa provam urgência de uma normalização em Berlim, opina o jornalista Jens Thurau.

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Angela Merkel sai do Palácio Bellevue após encontro com presidente e outros líderes políticos
Angela Merkel sai do Palácio Bellevue após encontro com presidente e outros líderes políticosFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Schreiber

Primeiro foi o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, que, dias atrás, ligou para seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan. Depois foi a vez de a chefe de governo, Angela Merkel, fazer o mesmo. Independentemente do que foi dito, a notícia surpreende: chamar de glaciais as relações entre Ancara e Berlim, nos últimos meses, é até pouco. Por isso, todo diálogo é bem-vindo.

O problema é que também Erdogan  sabe que a chanceler alemã só dispõe de um raio de ação limitado no momento. Nesta quinta-feira (30/11), Merkel, que também é chefe da União Democrata Cristã (CDU), teve um encontro de duas horas com Steinmeier no palácio presidencial Bellevue, juntamente com os líderes do Partido Social-Democrata (SPD), Martin Schulz, e da União Social Cristã (CSU), Horst Seehofer.

Jens Thurau é jornalista da DW
Jens Thurau é jornalista da DW

O presidente quer evitar novas eleições. Por isso insiste que, apesar de todas as ressalvas, SPD e CDU/CSU deem a partida para a tão malquista "grande coalizão". E é provável que esta se torne realidade: os social-democratas mostram-se dispostos ao diálogo, embora mantendo abertas todas as opções, inclusive um governo minoritário liderado por Merkel.

Mas pode demorar até que se constitua um governo – talvez até março, como supõem certos observadores. Afinal, até poucas semanas atrás o SPD ainda estava firmemente decidido a unir-se às alas da oposição.

É provável que Merkel tenha voltado a conversar com Erdogan sobre a política para os refugiados e – tomara – sobre os alemães presos na Turquia. Esses são apenas dois dos problemas prementes entre os dois países. Na França, o presidente Emmanuel Macron espera que a Alemanha se manifeste sobre os abrangentes planos dele de reforma da zona do euro e da União Europeia como um todo.

Enquanto isso, os Estados Unidos fazem pressão brutal sobre os aliados (será que o termo ainda se aplica?) para que, se necessário, rompam relações diplomáticas com a Coreia do Norte. Este problema está temporariamente afastado, depois que o ministro alemão (apenas interino) do Exterior, Sigmar Gabriel, do SPD, anunciou a retirada de um funcionário da embaixada da Alemanha em Pyongyang. Ajuda num primeiro momento, mas também não constitui um posicionamento decidido.

E tudo isso acontece num momento em que as duas maiores bancadas em Berlim precisam primeiramente estabelecer algo parecido com uma base comum. O aspecto confiança anda difícil, extremamente até.

Com expressão pétrea, fervendo de raiva por dentro, Schulz desmentiu nesta sexta-feira que já estaria pronto para conversas sobre uma "grande coalizão" com os conservadores cristãos. E acusou a CDU de ter vazado essa "notícia falsa" para imprensa. No aspecto pessoal, nada ou quase nada funciona entre a CDU/CSU e o SPD no momento.

E assim será também extremamente difícil tratar de conteúdos políticos, caso um dia todas as feridas pessoais estejam saradas. Por exemplo: no tocante à França e Macron, o SPD deixa claro que nada tem contra incrementar os investimentos estatais, nem contra uma política financeira conjunta na zona do euro. Mas Merkel está muito cética. Pode demorar até que se chegue a um consenso. E há ainda os obstáculos políticos internos, como a política de saúde, por exemplo.

Uma coisa fica cada vez mais clara: o presidente alemão tinha razão ao se pronunciar decididamente contra uma nova eleição e praticamente obrigar os partidos a formarem governo. Em Berlim se governa, mas com meia potência. Nos ministérios e na Chancelaria Federal muitos altos funcionários não sabem o que está por vir – o que compromete o ímpeto, aqui e ali.

E os autocratas e egomaníacos deste e daquele lado do Atlântico vão sempre falar diferente com uma chanceler federal em exercício do que com uma eleita pelo Parlamento. A rigor, a Alemanha não pode esperar até o segundo trimestre de 2018 por um novo governo. Cada dia conta.