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Opinião: A guinada secreta na política migratória de Merkel

7 de março de 2016

Chanceler alemã lucra agora com a política que sempre combateu em nível europeu. Mas isso não trará vantagens para seu partido nas próximas eleições, opina o jornalista Christoph Hasselbach.

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Christoph Hasselbach
Christoph Hasselbach é jornalista da DWFoto: DW/M.Müller

A rigor, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, deveria estar fazendo de tudo para que a fronteira entre a Grécia a Macedônia volte a estar aberta para os refugiados. E caso isso não funcione, ela deveria trazê-los diretamente da Grécia para a Alemanha. Pois a situação é perfeitamente comparável com a de setembro de 2015, quando milhares estavam retidos na Hungria, e Merkel os acolheu, contornando todos os regulamentos da União Europeia.

A chefe de governo tem alardeado repetidamente em público os seus princípios:
- não há um teto máximo para o asilo;
- cercas não adiantam;
- é preciso que haja uma solução em nível europeu, com a distribuição dos refugiados.

Desse modo, ela se isolou cada vez mais em Bruxelas, enquanto o afluxo migratório prosseguia. Mas em determinado momento alguns governos europeus disseram basta. "É melhor agir separadamente do que ficar inativo em conjunto", declarou o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. A Áustria anunciou a adoção de um teto máximo.

Então vários Estados-membros da UE no Leste europeu se associaram, cuidando para que fosse fechada a fronteira greco-macedônia. Esse passo contraria tudo aquilo que Merkel sempre defendeu. Mas desde então o número dos refugiados vem caindo, também dos que chegam à Alemanha. Isso era exatamente o que Merkel queria e quer alcançar, com sua solução "europeia", mas sem ter sucesso.

Em vez de tirar selfies com os refugiados, agora a premiê democrata cristã aconselha aos que estão na fronteira que permaneçam por enquanto na Grécia: ninguém tem direito de escolher seu país de asilo, diz ela. Algumas semanas atrás ela já surpreendera com a observação de que esperava dos refugiados sírios na Alemanha que retornassem, assim que a paz reine novamente em seu país.

Para que integração, então? – perguntam-se desde aí aqueles que, à custa de grandes sacrifícios, se empenham para que ela ocorra.

Segundo o vice-chanceler federal Sigmar Gabriel, a guinada na política para refugiados há muito tempo já aconteceu – embora com o político do Partido Social-Democrata (SPD) nunca se saiba se ele considera isso bom ou ruim, e qual será sua posição na próxima semana. Horst Seehofer, líder do terceiro partido da coalizão governamental, a União Social Cristã (CSU), igualmente constata a guinada pela qual ele vem se empenhando há longo tempo.

No que tange a Merkel, contudo, tem-se a impressão que ela quer evitar ao máximo que se perceba sua mudança de curso. Contudo, quer ela admita, quer não: é exatamente aquela política que ela sempre rechaçou como imoral, impraticável ou danosa à Europa, que promove agora uma certa distensão à situação.

Por outro lado, é duvidoso que a guinada secreta de Merkel vá ajudar a União Democrata Cristã (CDU) nas eleições estaduais do próximo domingo. Todo pleito na Alemanha, no momento, está inteiramente sob o signo da crise migratória, independente de o nível político em questão ter a ver com a temática da migração. Cada eleição é um voto popular sobre a política de Berlim para refugiados.

Este foi o caso nas eleições municipais em Hessen, neste domingo (06/03): a CDU e o SPD – ou seja, os partidos que governam em nível federal – perderam significativo apoio eleitoral, enquanto a populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) de repente passou a ser a terceira legenda mais forte.

Também se pode interpretar assim o veredicto do eleitorado: se Merkel tivesse conseguido impor sua política na UE, o contingente de refugiados estaria hoje exatamente no mesmo nível que em setembro último.