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A volta da direita recalcada?

15 de dezembro de 2008

O delegado da cidade bávara de Passau foi esfaqueado, ao que tudo indica, por radicais de direita. É hora de trazer o tema extremismo de direita de volta à consciência da sociedade alemã. A opinião de Cornelia Rabitz.

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Cornelia Rabitz
Cornelia Rabitz

A indignação é grande, após a brutal tentativa de homicídio contra o delegado de Passau. E também a surpresa: a opinião pública da Alemanha estava tranqüila, com base tanto nas estatísticas, que apontavam retrocesso da direita radical, como na mudança de foco para os temas da política mundial.

Quase mais ninguém se incomodava com a presença nos parlamentos estaduais do partido NPD, classificado como de extrema direita. Os encontros entre camaradas neonazistas transcorriam longe do olhar público, nas mesas de bar "marrons", em algum lugar da província. E a ostentação marcial de homens de botas e jaquetas militares era encarada como desagradável efeito colateral de distorções sociais nas regiões mais afastadas do Leste Alemão.

Na política, passou-se à ordem do dia. Da qual constava, bem no alto da lista, o combate ao terrorismo islâmico – também aqui na Alemanha. O extremismo de direita era criticado onde se mostrasse, sem ser mais percebido como uma ameaça séria. E a existência de criminosos de direita capazes de atentados brutais contra representantes da sociedade, pertencia, no máximo, à publicações sobre a República de Weimar.

O crime de Passau, entretanto, demonstra de forma drástica que foi um erro minimizar e contemporizar. E revela também uma nova dimensão do fenômeno. Trata-se de violência declarada contra um chefe de polícia que assumira a tarefa de combater a absurda mentalidade marrom. Um ato que deve alarmar e mobilizar.

Velhos apelos retornam à mesa de discussões: intervenção jurídica severa, educação política, veiculação de valores na escola, coragem civil. Tudo isso está certo, mas revela, ao mesmo tempo, uma certa perplexidade. O que fazer numa sociedade onde a confiança nas instituições desaparece? Na qual – sobretudo no Leste – cada vez menos gente acredita na democracia? Na qual partidos como o NPD transmitem atitudes e padrões de raciocínio agora bastante difundidos?

Além disso, por vezes preferimos ignorar que, para além das periferias políticas, elementos da ideologia de direita se acumulam também no centro da sociedade: nas mansões rurais ou em honoráveis castelos reúnem-se, em ambiente nobre, bem-apessoados conservadores nacionalistas e círculos de tendência direitista. Em muitos outros países europeus – da Bélgica à Áustria, passando pela França – a aceitação política e social da nova direita está fora de discussão.

E caso os tempos se tornem realmente ruins do ponto de vista econômico, há o perigo de que os grupos de extrema direita conquistem mais adeptos.

A conclusão disto tudo: faria sentido um pacote de medidas coordenadas entre si – políticas, pedagógicas, jurídicas e sociais. Para tal, é preciso, sem dúvida, engajamento sério e duradouro. E, acima de tudo: um fôlego bem longo. (av)

Cornelia Rabitz é chefe da redação russa da DW-RADIO.