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Opinião: As mentiras oficiais

Steiner Felix Kommentarbild App
Felix Steiner
8 de janeiro de 2016

O escândalo envolvendo os acontecimentos da noite de réveillon em Colônia derrubou o chefe de polícia. Justo, pois mentir e ignorar deliberadamente não são a solução, opina o jornalista da DW Felix Steiner.

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Felix Steiner é jornalista da DW

Os danos sociais são enormes, uma vez que o Estado vive da confiança de seus cidadãos. A perda dessa confiança corrói o sistema político como um todo. Pode-se ter uma ideia de até onde isso vai por meio do ódio e dos julgamentos precipitados contra estrangeiros, refugiados e muçulmanos difundidos nas redes sociais.

O ocupante do cargo de chefe de polícia de Colônia, responsável pela segurança da quarta maior cidade da Alemanha, mentiu sistematicamente durante dias. Não apenas para o público, mas também para a prefeita de Colônia, com quem deveria ter uma relação especial de confiança. Isso, por si só, já é um escândalo. Assim, o fato de a prefeita Henriette Reke ter se distanciado publicamente do chefe de polícia, nesta sexta-feira, era de se esperar.

Desde o início da semana, a cada dia vieram à tona novos e terríveis detalhes sobre os incidentes na noite de réveillon. Na terça-feira, o chefe de polícia e a prefeita convocaram uma coletiva de imprensa: infelizmente, nada sabiam sobre os agressores e suas origens, ninguém havia sido preso, e eventuais vítimas não deveriam hesitar em prestar queixa à polícia. Esta havia feito um ótimo trabalho, com a presença de contingente suficiente no local, segundo o chefe da corporação.

Por afirmações como essa, a polícia foi alvo de escárnio e zombaria nas redes sociais, além de críticas mordazes – até mesmo do ministro alemão do Interior. As autoridades que estavam no local durante a virada do ano não puderam mais se conter, e um relatório policial com informações detalhadas sobre os acontecimentos vazou para a imprensa.

Eis os fatos: cerca de cem pessoas haviam sido abordadas pelos policiais ou colocadas sob custódia na noite de réveillon. A grande maioria portava passaportes sírios ou documentos de asilo. Poucos estariam na Alemanha há mais de três meses, segundo afirmam policiais que atuaram no réveillon.

Na terça-feira, a prefeita, com base nas informações do chefe de polícia, negava peremptoriamente a existência de evidências de que se tratava de refugiados. Entretanto, aqueles que tinham acesso ao banco de dados da polícia já sabiam. Era mentira!

Mas por que o chefe de polícia, um jurista qualificado com uma carreira impecável de cunho social-democrata, mentiria tão descaradamente? Simplesmente porque, para ele, isso não poderia ser verdade? Por causa do medo de expor todos aqueles argumentos críticos, contrários e – em muitos casos – de ódio que acompanharam a acolhida de refugiados? Para que não fosse colocada sob suspeita a maioria dos migrantes e refugiados que se comporta corretamente?

São todos motivos muito nobres. Mas boas intenções não bastam. Mentir não é a solução, porque os danos são ainda maiores quando a verdade vem à tona. A Alemanha não precisa de mentiras, mas de honestidade no debate sobre a dimensão dos desafios que o país tem pela frente. As mentiras irão, de qualquer modo, conduzir a sociedade a um desafio de proporções ainda desconhecidas – mesmo sem levar em conta os eventos ocorridos na noite de réveillon.

Um primeiro passo honesto seria, por exemplo, reconhecer que muitos dos jovens que agora vivem no país vêm de culturas onde as mulheres são consideradas prostitutas se ficarem na rua até tarde da noite. Ou se dançarem. Ou consumirem álcool. Ou se deixarem o cabelo solto ou vestirem roupas justas.

Portanto, para a integração desses homens na sociedade local será necessário muito mais que cursos de alemão ou a divulgação da Constituição do país em árabe.