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Boris Johnson está desmascarado

Maaß Birgit Kommentarbild App PROVISORISCH
Birgit Maass
16 de maio de 2020

O fiasco do governo britânico na crise do coronavírus fica cada vez mais óbvio. E com o novo líder trabalhista Keir Starmer, a oposição tem finalmente alguém capaz de expor as falhas do premiê, opina Birgit Maass.

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Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido
"Como gestor de crise, Boris Johnson fracassa"Foto: picture alliance / empics

Deu quase pena ver Boris Johnson se contorcendo sob as perguntas do homem que há poucas semanas ocupa a presidência do Partido Trabalhista britânico: "Nós temos o maior número de mortes da Europa e o segundo maior do mundo: como, em nome dos céus, se pôde chegar a isso?", inquiriu Keir Starmer.

O novo líder oposicionista é cortês, claro e toca precisamente o cerne da questão: o Reino Unido decidiu-se tarde demais a impor toques de recolher; está atrasado com os testes e a vigilância do novo coronavírus; negligencia o pessoal de enfermagem nos hospitais e lares para idosos, não lhes disponibilizando suficientes vestes protetoras.

É cedo demais para comparações internacionais, as cifras ainda não são definitivas, defende-se Johnson, evocando o "bom e sólido bom senso britânico". Mas de nada adiantou, as perguntas de Starmer lembravam um interrogatório, afinal, ele aprendeu o ofício em seus tempos de procurador-geral. Dentro de poucos minutos, expôs as fraquezas do premiê conservador na convenção semanal Prime Minister's Questions.

Quase sem exceção, fica claro quão pouco Johnson se prepara. Seu forte não são os detalhes: ele é um mestre do show, um urso bem-humorado como suas tiradas espertas, o qual os britânicos elegeram porque, exaustos após a interminável discussão sobre o Brexit, estavam ávidos de otimismo e espírito de mudança.

Líder do Partido Trabalhista britânico, Keir Starmer
Keir Starmer assumiu liderança do Partido Trabalhista britânico há poucas semanasFoto: picture-alliance/PA Wire/S. Rousseau

Como gestor de crise, contudo, Johnson fracassa. Ele não é um homem de Estado judicioso, com visão de futuro e bom senso. É impulsivo, descuidado, e isso quase lhe custou a vida: ainda no início de março quando a crise já abalava o continente, declarou, orgulhoso, que pouco antes apertara a mão de muitos num hospital, também de pacientes com covid-19.

Ele permitiu que continuassem se realizando grandes eventos, como jogos de rugby, chegando até a assistir a um – ao lado da parceira grávida. Indagado por uma jornalista como se autoprotegia, riu com sarcasmo. Pouco mais tarde, estava gravemente doente, teve que ser internado e receber oxigênio.

Até então Johnson não levara o perigo a sério, mas sua postura mudou com a luta contra a doença. Nas últimas semanas, o governo tentou precipitadamente compensar suas omissões. Porém continua não havendo suficiente roupas de proteção para médicos e enfermeiros, mais de 100 deles já morreram. Nos lares para idosos, a pandemia grassou durante semanas, quase desimpedida, custando até o momento a vida de quase 10 mil indivíduos idosos e debilitados. E continua havendo grandes dificuldades com os testes.

O Sars-Cov-2 traz enormes desafios, para todo governo. E no Reino Unido também há conquistas, como os assim chamados "hospitais Nightingale", montados praticamente do nada num prazo de poucas semanas, com a ajuda das Forças Armadas (embora ninguém pudesse saber que, no fim das contas, eles quase não seriam utilizados).

O sistema de saúde público também aguentou em grande parte a pressão devido ao coronavírus, muito graças ao engajamento altruísta do pessoal, comprando proteção para boca e olhos em lojas de material de construção e improvisando aventais com sacos de lixo.

Agora o número de novos contágios retrocedeu, e o confinamento será relaxado. Mas como no início aconteceram tantos erros, o governo agora é cuidadoso. Muitos britânicos olham com inveja para o continente, onde vão sendo abertos restaurantes e hotéis, os cidadãos talvez possam até sonhar com férias nas montanhas ou no Sul. Para os britânicos, viagens ao exterior estão fora de cogitação: não se sabe sequer se será possível passar as férias numa prainha de cascalho do litoral inglês.

Mas também as flexibilizações impõem mais questões do que criam clareza, no Reino Unido. Por que, por exemplo, em vez de ser obrigatório, é apenas uma recomendação amigável portar máscaras nos meios de transporte públicos? Nas redes sociais circulam vídeos em que passageiros de trem dividem espaços apertados, e só a metade usa máscara. Por que faxineiras e babás podem retomar o trabalho, mas avós não podem ver seus netos? As diretrizes do governo permanecem vagas, em parte contraditórias.

Também caiu mal o fato de Johnson ter apressado com o alívio da quarentena sem entrar em acordo com a Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, e, por conseguinte, na Inglaterra valem regras diferentes das do resto do país.

Até mesmo os admiradores mais entusiastas do premiê bonachão entre os comentaristas conservadores voltam-se agora contra Londres. Há pouco lia-se no Daily Telegraph, jornalzinho de fã-clube de Johnson, que sua gestão de crise era uma catástrofe.

Boris Johnson venceu as eleições há pouco mais de meio ano, e seu governo conta com uma maioria significativa, estando bem firme no posto. O líder trabalhista Keir Starmer ainda vai ter muitas chances de desmascarar seu adversário.

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