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Opinião: Cessar-fogo não fez diferença para população síria

Jürgen Stryjak
22 de setembro de 2016

Nos últimos dias, os civis na Síria tiveram de aprender uma lição amarga: com ou sem trégua em vigor, eles passam fome. Para o jornalista Jürgen Stryjak, regime Assad é o responsável.

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Jürgen Stryjak é correspondente da emissora pública alemã ARD no Cairo
Jürgen Stryjak é correspondente da emissora pública alemã ARD no Cairo

Até onde se sabe, quase ninguém na Síria esperava que o cessar-fogo fosse durar muito. Ainda menos pessoas acreditavam que ele pudesse ser o ponto de partida para a solução de um conflito sangrento. Mesmo assim, a maioria almejou e festejou a trégua, nas ruas e nos cafés. Ao serem questionados sobre o cessar-fogo, na maioria das vezes eles respondiam: Alhamdulillah ("graças a Deus").

Entre as consequências mais trágicas da trégua fracassada está o fato de muita gente na Síria ter aprendido uma lição perturbadora: que não há muito a ganhar com um cessar-fogo. Especialmente se se está entre as pessoas que vivem nas regiões sitiadas e forçadas à fome – principalmente pelo regime do presidente Bashar al-Assad e seus aliados.

De acordo com estimativas da ONU, esse é o caso de 600 mil pessoas. Outras organizações falam em até um milhão. Nos primeiros dias, quando a trégua era frágil mas se mantinha, a ajuda humanitária aos famintos deveria ter começado. Isso não aconteceu, entre outros motivos, porque o governo sírio não emitiu os documentos necessários. Os caminhões estavam prontos, eles poderiam ter iniciado a sua jornada. Um comboio humanitária foi bombardeado, e a ONU suspendeu, de início, todas as operações do tipo.

Assim, os sírios famintos aprenderam que nem mesmo um cessar-fogo faz sentido. Eles passam fome quando as armas descansam, e passam fome quando a luta continua. Então por que não se juntam logo ao Fateh al-Sham, grupo terrorista que antes se chamava Frente al-Nusra e era um braço da Al Qaeda? Ou ao menos apoiam esses terroristas? Seus combatentes pelo menos já mostraram que podem romper bloqueios. Sim, são terroristas, mas "e daí?", pode pensar um sírio sitiado. Os terroristas são mais fortes e cada vez mais numerosos.

Especialmente Assad, e também a Rússia, enfatizam repetidamente que o objetivo principal é derrotar os terroristas na Síria. Mas por que, então, eles empurram as pessoas para os braços deles? Se Assad quisesse realmente um cessar-fogo, por que não assegurou que os famintos se beneficiassem dele, quebrando o círculo vicioso de escalada [do conflito]?

Quem quer que seja o responsável pelo colapso do cessar-fogo – as partes conflitantes se acusam mutuamente –, a culpa do sofrimento de centenas de milhares de pessoas é daquele que desistiu completamente do acordo, sem ao menos tentar ou insistir em salvar a trégua – ou seja, do regime Assad.