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Opinião: Cresce pressão sobre Merkel

Kommentarfoto Kay-Alexander Scholz Hauptstadtstudio
Kay-Alexander Scholz
25 de julho de 2016

Como Würzburg, Munique, Reutlingen, Ansbach afetam a "chanceler dos refugiados" da Alemanha? Certo está: a cada atentado diminuem as chances de ela disputar um novo mandato, opina o jornalista Kay-Alexander Scholz.

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Kay-Alexander Scholz é jornalista da DW
Kay-Alexander Scholz é jornalista da DW

A crise dos refugiados de 2015 lançou sombras profundas sobre a imagem lustrosa de uma Angela Merkel querida por todos na Alemanha. Em anos anteriores seriam impensáveis os brados de "Fora, Merkel!" que se leram e ouviram por todo o país, partindo de adeptos do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) e de outros críticos da chefe de governo alemã.

A própria Merkel se encenou como "chanceler dos refugiados", o que despertou grande respeito em parte dos alemães, enquanto muitos outros balançavam a cabeça em sinal de desaprovação.

Nas últimas semanas, esse clima polarizado se amainara um pouco. Significativamente, essa distensão coincidiu com a queda radical nos números de novos migrantes, após o fechamento da rota dos Bálcãs Ocidentais. Na mídia, o tema "refugiados" caiu para segundo plano, enquanto se recuperava o apoio do eleitorado à legenda de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU).

Extremamente favorável para a chanceler federal foi também a disputa interna na AfD, tão perigosa para a CDU. A liderança do partido populista de direita mostrou que prefere uma briga política até a morte a se apresentar como equipe. O episódio se refletiu numa perda de pontos imediata nas pesquisas de opinião.

Os atentados dos últimos dias na Alemanha abrem um novo capítulo. Pois, para a opinião pública alemã, Merkel e os refugiados constituem uma dupla indissociável. Portanto, uma vez que os refugiados – num sentido mais amplo – estão novamente gerando manchetes negativas, voltará a crescer a pressão sobre a chefe de governo.

E tanto faz se os atentados em Würzburg, Munique, Reutlingen ou Ansbach foram mesmo perpetrados por refugiados ou se tiveram motivação fundamentalista islâmica (as investigações ainda estão em curso): muitos alemães não vão querer ou ser capazes de fazer essa indispensável distinção. Estrangeiros, migrantes, refugiados, teuto-iranianos: todos são jogados na mesma panela. Quando, como nos últimos dias, atos violentos se acumulam, é grande o risco de um curto-circuito na mente.

Fornecendo apoio mental a esses eleitores está a AfD, para cujas metas políticas os acontecimentos fornecem um flanco de ataque ideal. "Nós sempre dissemos que uma imigração descontrolada representava perigo" é mais ou menos o que se lê nas contas de políticos da AfD no Twitter e no Facebook. A principal culpada é Merkel, que quis abrir as fronteiras.

No momento, a líder democrata-cristã está de férias na região em que cresceu, a Uckermark, no nordeste do país. Consta que ela está sempre em serviço. De fato, vai ser difícil se desligar inteiramente. Pois, além da violência na Alemanha, também a tentativa de golpe de Estado na Turquia e suas consequências abalam o acordo sobre os refugiados, negociado por Merkel a duras penas, entre União Europeia e o presidente Recep Tayyip Erdogan.

Dentro de cerca de um ano haverá eleições legislativas na Alemanha. Até agora, Merkel tem deixado em aberto se tornará a se candidatar. Sua decisão final deve depender essencialmente de como evolui o complexo temático "refugiados". Um atentado de grandes proporções, como em Paris ou Bruxelas, tornará improvável um novo mandato para Merkel.

No que diz respeito à AfD, já nas eleições estaduais de setembro poderá haver uma guinada decisiva. Justamente no estado natal de Merkel, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, é no mínimo cogitável que os ultradireitistas se consagrem como partido mais forte.

A distância entre eles e a CDU, líder das pesquisas de opinião, ainda é muito grande. Mas, caso ocorram novos disparos a esmo ou atentados terroristas, essa distância poderá minguar. Quanto à luta de liderança dentro da AfD, ela deverá ser decidida nas próximas semanas, segundo a vontade de Frauke Petry, a principal líder do partido e sedenta de poder.