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EUA de Obama se ocupam de si mesmos

Miodrag Soric, de Washington (av)10 de março de 2014

Opositores acusam o presidente de cautela excessiva na forma de lidar com Putin. Na verdade, Obama se mantém fiel a seus princípios como "anti-Bush", opina Miodrag Soric.

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Os presidentes Barack Obama e Vladimir Putin não poderiam ser mais diferentes entre si. Quando conversam ao telefone, não perdem muito tempo com cortesias, vão direto ao assunto. Isso também se aplica ao tema Ucrânia.

Zentrale Programmredaktion Miodrag Soric
Miodrag SoricFoto: DW

No momento, Obama enfatiza o alto preço de uma possível anexação da Crimeia pela Rússia para a política externa. Ele ameaça Putin com o isolamento de Moscou, o reforço armamentista dos Estados bálticos, da Polônia e da Hungria. Porém, não importa o que diga, para muitos americanos ele não vai longe o suficiente.

Washington não seria Washington se alguns de seus deputados e senadores não tentassem ganhar capital político com a crise da Crimeia. Mais uma vez o senador John McCain acusa Obama de ser fraco: segundo ele, o presidente não percebe a verdadeira natureza do ex-agente da KGB Putin.

A ex-secretária de Estado Condoleezza Rice bate na mesma tecla. Diante das tensões na Europa, ela – assim como muitos outros – reivindica uma liderança americana mais forte. E nisso contam com o aplauso do poderoso lobby armamentista, para quem os gestos ameaçadores do Kremlin chegam em boa hora. Obama acaba de reduzir o orçamento do Pentágono, e agora se exigem mais verbas para defesa.

Quem apenas observe a classe política em Washington pode ter a impressão de que a Guerra Fria está subitamente de volta. No entanto, a maioria dos cidadãos dos Estados Unidos pensa bem diferente dos agitadores na capital. Eles não querem nem ouvir falar em "liderança forte" – no sentido dado pelo ex-presidente George W. Bush –, com intervenções e maniqueísmo político.

Apenas uma pequena parte dos americanos sequer vê um papel para seu país na crise da Crimeia: se algum tema de política externa os interessa, então é o Oriente Médio. Restabelecer a paz, dar fim às intervenções dos EUA no Iraque e no Afeganistão, ser uma espécie de "anti-Bush": isso faz parte do legado político de Obama. Assim ele vê seu próprio papel, e age de acordo.

Na questão da Crimeia, o presidente democrata procura um consenso com Putin. As sanções americanas impostas até agora contra políticos e militares russos são de natureza antes simbólica; uma operação militar sequer entra em cogitação. Obama se mantém cauteloso. Ele quer ter a possibilidade de aumentar a pressão através de medidas punitivas econômicas, caso a Rússia ocupe o leste da Ucrânia. Ele procede taticamente, decide de dia a dia.

Isso nada tem a ver com fraqueza: trata-se de real-política. O presidente americano conhece o potencial negativo do Kremlin – no conflito da Síria, na iminente retirada das tropas americanas do Afeganistão ou nas negociações com Teerã.

Embora o fato desagrade a muitos no oeste da Ucrânia, na Polônia, na Geórgia ou nos Países Bálticos: Barack Obama segue, em primeira linha, interesses americanos.

A Rússia não é uma ameaça para os EUA nem para a Otan: seu verdadeiro rival é a China. Por razões biográficas, mas, sobretudo, por motivos econômicos, o atual chefe de Estado americano prefere se ocupar mais da Ásia do que da Europa.

Afinal de contas, não deram mesmo em nada os grandes projetos de política externa que Obama se propôs no início de seu mandato: o recomeço com o mundo árabe (o discurso do presidente no Cairo) ou com a Rússia (palavra-chave: "reset-button").

Os Estados Unidos de Barack Obama se ocupam de si mesmos: para muitos, o Kremlin fica muito longe.