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Opinião: França precisa da solidariedade dos europeus

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Max Hofmann
14 de junho de 2016

De enchentes a atentados, série de desgraças na França lembra as pragas divinas. Só há um modo de dar fim a isso: é necessário um sacrifício extremo em nome dos franceses, opina o jornalista Max Hofmann.

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Max Hofmann é diretor do estúdio da DW em Bruxelas
Max Hofmann é diretor do estúdio da DW em BruxelasFoto: DW/B. Riegert

O que Deus está querendo da França? Ele envia praga após praga, como no século 13 antes de Cristo. Na época as vítimas eram os antigos egípcios. Eles tiveram que suportar moscas, granizo e pústulas, até o faraó finalmente ceder e libertar o povo escravizado de Israel. Agora, Ele envia hooligans russos a Marselha, enchentes históricas a Paris e o DJ francês David Guetta ao evento de abertura da Eurocopa 2016.

Sério: no momento as coisas andam difíceis para a França. À esquerda, o sindicato de tendência comunista CGT continua achando que está no ano de 1968 e se rebela contra a reforminha do mercado de trabalho decretada pelo governo.

À direita, a populista Marine Le Pen exulta com a crise migratória, possível Brexit e índices econômicos parcos, pois isso arrebanha cada vez mais eleitores para sua Frente Nacional. E, como se não bastasse, o medo do terrorismo islâmico paira acima de tudo. O novo incidente em Magnanville, nas cercanias de Paris mostra mais uma vez, infelizmente, que o medo é justificado.

E no entanto há tantos motivos para adorar a França: os vinhos tintos da região de Saint-Émilion, os monumentais perfis da cadeia montanhosa dos Pirineus, as extensões infinitas do Museu do Louvre. A simpática rebeldia do povo, o metrô parisiense (quando não está em greve), o Festival de Cinema de Cannes, os trens de alta velocidade, o Tour de France, os vulcões extintos da Auvergne. O liberalismo, dias de primavera em Toulouse, a cor do Mediterrâneo em Marselha.

Esse país, na verdade extraordinário, não merece o que está acontecendo neste momento. Então o que precisa ocorrer para que as coisas melhorem? O que Deus quer, exatamente, a fim de parar de enviar pragas?

Como é sabido, a maioria dos problemas franceses só pode ser resolvida a longo prazo. O fundamentalismo islâmico é profundamente arraigado e, ao longo de décadas, se entranhou em certos setores da sociedade. Os problemas econômicos estruturais, se tiverem solução, será a passos mínimos, pois a resistência é grande demais. E contra David Guetta, não existe antídoto conhecido.

Ainda assim os franceses precisam de algo para levantar a moral. Hooligans bêbados devastando o centro das cidade não são, seguramente, o remédio adequado. A França precisa de uma bebida energética, uma injeção de vitaminas, os cidadãos precisam de algo que lhes dê segurança para um primeiro passo em direção a um futuro árduo.

O presidente François Hollande poderia, por exemplo, renunciar. No curto prazo isso possivelmente animaria a maioria dos franceses. Mas como o passar do tempo, também não levaria a nada.

Não, só pode haver uma solução. Se os europeus realmente levam a sério essa história de solidariedade, então é hora de darem respaldo à França. Não com dinheiro, grandes discursos ou remessas de vinho branco alemão do Mosela. Não, tem que ser algo que fique gravado na psique do povo francês.

Remonter le morale, levantar a moral! Caros torcedores de futebol da Europa, é a hora de ser muito forte, é hora de fazer o sacrifício mais extremo.

Deixem a França vencer a Eurocopa em casa!

É isso o que Deus espera da Europa. Só assim a série de pragas vai ter fim. Caso contrário, as coisas vão ficar piores ainda: céu nublado na Côte d'Azur, peste do gado na Bretanha, e fotos de Gérard Depardieu nu.