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Irã

28 de dezembro de 2009

A oposição iraniana aproveitou a festa xiita Ashura para protestar contra o governo de Ahmadinejad. Milhares de pessoas foram às ruas e a repressão deixou mortos. Mais violência não é a solução, opina Jamsheed Faroughi.

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Para onde segue o Irã? Sem dúvida, essa é a questão mais importante para uma sociedade jovem, que anseia agora por um futuro melhor, depois de três décadas de repressão, e que com certeza merece um futuro melhor. Mas também uma questão importante para uma região marcada pela violência, guerra e por conflitos insolúveis. E não por último uma questão para a comunidade internacional, que está farta da postura provocadora e inflexível do Irã no impasse nuclear.

Para onde vai o Irã? Boa pergunta, que, como todas as boas perguntas, fica sem uma boa resposta. A luta pelo poder e paralelamente os protestos nas ruas de Teerã persistem irredutíveis desde a controversa eleição presidencial em junho último. A luta pelo poder se acentua, os protestos se radicalizam e os confrontos se tornam mais brutais. Onde acaba essa brutalidade e a que alvos levam os protestos?

Em todo o país, pessoas insatisfeitas aproveitaram a festa Ashura para irem de novo às ruas. Já de início ficou claro que a oposição iria usar esse ensejo religioso para novos protestos contra o regime. Mas o comportamento brutal do governo iraniano contra os manifestantes no dia da Ashura foram um grande erro com consequências duradouras, pois a festa é um dia importante para os muçulmanos xiitas. Nesse dia, eles lembram o imã Hossein, que morreu lutando corajosamente pela justiça e contra o despotismo. Fogo e fumaça em Teerã, Isfahan, Najafabad, Tebriz, Shiraz. Sangue nas ruas, feridos e muitas detenções. Três meses depois, mais mortos em função de confrontos pesados. Quantos ainda não se sabe. Só sabemos que um sobrinho do líder oposicionista Mirhossein Moussawi morreu num confronto violento.

A única resposta que os donos do poder no Irã parecem saber dar à insatisfação legítima das pessoas parece ser mais violência. E, como se vê, é uma resposta ineficaz. Os ditadores têm memória curta. Ou não aprendem nada da história ou esquecem rapidamente tudo que aprenderam. É por isso que sempre repetem os mesmos erros.

A situação há seis meses estava clara: naquele momento, tratava-se das eleições presidenciais, de fraude eleitoral e da controversa reeleição de Mahmud Ahmadinejad. A receita errada do governo em relação aos manifestantes levou agora a uma crise de legitimidade, à radicalização dos protestos e a uma situação sem saídas e sem clareza no Irã.

No país, continua a luta entre a sociedade e o Estado. A festa Ashura mostrou que uma sociedade insatisfeita não pode ser governada a longo prazo e que, para resolver os problemas da ingovernabilidade, não é necessário ainda mais violência, mas sim mais racionalidade. E racionalidade parece ser algo raro no núcleo dos ultraconservadores em torno de Khamenei, o líder religioso.

Autor: Jamsheed Faroughi
Revisão: Simone Lopes