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Opinião: Guterres é a esperança em tempos sombrios

Georg Schwarte
11 de dezembro de 2016

Depois do inexpressivo Ban Ki-moon, vem aí um puro-sangue da retórica: o português António Guterres é a pessoa certa para estes tempos de populismo e xenofobia, opina o correspondente da ARD Georg Schwarte.

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Georg Schwarte
Georg Schwarte é correspondente da emissora alemã ARD em Nova York

Que este homem cumpra o que diz! O novo secretário-geral da ONU quer "identificar e derrotar o populismo político, o racismo, a xenofobia e o extremismo radical". Vá em frente, António Guterres! Seus anúncios são promissores e seu currículo é universal. Seu trabalho é impossível, mas isso não importa.

O secretário-geral da ONU é o homem mais sem poder do cenário internacional. Ele só tem uma chance: se souber conversar, chacoalhar, exigir, apelar, irritar. E António Guterres sabe irritar. E tem nervos. Depois de Ban Ki-moon, o asiático de sorriso amigável e voz mansa, vem aí um puro-sangue da retórica.

Ban Ki-moon era o rosto amigável das impotências unidas dessa comunidade global. O homem sempre teve boas intenções, isso ninguém pode negar. Mas era invisível, inaudível e inexpressivo. Um diplomata silencioso no lugar errado. O que fica após dez anos de Ban Ki-moon? Um acordo sobre o clima – o seu legado até que Donald Trump o destrua. E uma guerra na Síria que se tornou a ferida aberta do mundo.

O que mais deixa Ban Ki-moon? Um Conselho de Segurança que parece empenhado em bloquear a si mesmo. Uma comunidade mundial que, em dez anos de Ban Ki Moon, não conseguiu reformar nem a si mesma nem esse grêmio de 15 nações e seu poder de veto. Um exército de capacetes azuis com reputação avariada, mandato limitado e formação questionável. Uma comunidade global com a qual o país anfitrião, os EUA, não deverão continuar sendo generosos, pois o novo presidente do país se recusa a entender seu sentido e sua função.

Agora, porém, haverá uma outra pessoa como secretário-geral. Ele não vai reinventar o mundo. Ele logo conhecerá os limites. Ele vai duvidar desse lamentável Conselho de Segurança. Mas ele vai dizer o que pensa. E vai mostrar como se faz. Ele é a esperança em tempos muito sombrios. Quem diz hoje que ninguém mais precisa da ONU está totalmente equivocado. Todos nós, a humanidade inteira precisa mais do que nunca desse organismo lento, voltado ao consenso e burocrático.

Pois o mundo está em ruínas. A nova moda é o populismo de direita. Fatos são interpretáveis, e as guerras fazem parte do cotidiano. E só depois de a política levar tudo à desgraça, todos clamam novamente pelas Nações Unidas: "Por que não nos ajudam?" António Guterres conhece esse jogo deplorável. Ele pode e deve se tornar o desmancha-prazeres. O mundo precisa de sua voz, e precisa agora. Por dez anos, o que se ouviu do secretário-geral da ONU foi somente um suave murmúrio.

Mas agora vem Guterres. Depois da eleição de Trump, o mundo prendeu a respiração, respirou fundo e acabou decidindo que até mesmo uma pessoa como essa merece uma chance. A partir desta segunda-feira (11/12), nossa oportunidade e resposta como comunidade internacional se chama Guterres. Dê a esse homem uma chance, por amor a todos nós, a humanidade. Ele é o que nos resta.