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Opinião: "Leitkultur", um debate necessário

2 de maio de 2017

Ministro exortou a um novo debate sobre estabelecer valores predominantes para a Alemanha. Uma boa ideia, em tempos de crescente polarização social, escreve o jornalista Marcel Fürstenau.

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Deutsche Welle Marcel Fürstenau
Jornalista da Deutsche Welle Marcel FürstenauFoto: DW

Quando se fala de uma "Leitkultur" ("cultura dominante") – a ideia de estabelecer valores predominantes para a Alemanha – as pessoas reagem com grande sensibilidade. Principalmente quando esse conceito é levado à tona por parte de conservadores. Para os céticos, isso cheira então a germanização e uniformidade cultural em detrimento de uma diversidade colorida.

Tais reflexos são compreensíveis, porque o termo é, muitas vezes, deturpado por populistas, como o partido Alternativa para Alemanha (AfD), que o usa com intenções excludentes. "Cultura dominante alemã em vez de multiculturalismo" está escrito em seu programa de princípios.

O ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, está distante de tal dualismo. Os seus dez pontos para uma "Leitkultur" alemã, publicados no jornal Bild, visam ao diálogo das culturas. O fato de, nesse contexto, a própria história assumir um caráter marcante é algo óbvio. Portanto, não é de forma alguma uma banalidade quando De Maizière classifica os cidadãos alemães como "herdeiros da nossa história com todos os seus altos e baixos."

Há bastante tempo que muitos desses cidadãos – tantos os natos quanto os imigrados – não querem assumir esse legado. Quando De Maizière assinala como parte da "Leitkultur" alemã "uma relação especial com Israel", ele não quer que ninguém fique de consciência pesada. Trata-se de lidar de forma responsável com um dos capítulos mais negros do passado.

O ministro, de 63 anos, também não deixou de mencionar o papel mais que ambivalente do cristianismo. O nome de Martinho Lutero representa – sem nenhum juízo de valor – a divisão da Igreja Cristã. Mesmo assim, não é contradição elogiar a religião como "agregadora, não como divisora" da sociedade. Nesse contexto, o modelo religioso do ministro é um tríptico: igreja, sinagoga, mesquita.

Mas é claro que, mesmo depois de 500 anos da Reforma Protestante, a Alemanha é "marcada pelo cristianismo". Destacar isso não significa menosprezar outras religiões. É um fato histórico.

O ministro alemão do Interior pôs no papel uma série de preocupações, sem ser nada didático nem exclusivista. Trata-se de uma expectativa expressada de forma bastante consciente. Uma frase-chave é: "Força e autoconfiança na própria cultura levam à tolerância diante de outros." De Maizière se dirige expressamente aos imigrantes com perspectivas de permanência: "O que acontece se eles não conhecem, não querem conhecer ou até mesmo rejeitem tal 'Leitkultur'?" Então a integração vai fracassar, teme o ministro.

Como essa preocupação tem fundamento, a iniciativa de uma "Leitkultur" por parte de Thomas de Maizière é justificada. Ela é até mesmo urgentemente necessária em tempos de crescente polarização social. Alguns vão classificar a contribuição para o debate de manobra eleitoral – e eles têm razão. Mas o que impede os políticos responsáveis pela segurança interna da Alemanha de se expressarem dessa forma num ano com eleições legislativas decisivas para o país?

Nada. Pelo contrário. Ele cumpre a sua responsabilidade ao se esforçar pela coesão social. Todos estão convidados a participar de forma construtiva nesse debate.

Marcel Fürstenau
Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.