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Opinião: Merkel não tem pressa

Kommentarfoto Kay-Alexander Scholz Hauptstadtstudio
Kay-Alexander Scholz
29 de agosto de 2016

Ainda não se sabe se a atual chanceler federal da Alemanha vai querer ou não se candidatar à reeleição. Para o jornalista Kay-Alexander Scholz, são muitas as incertezas políticas para que se tenha uma resposta clara.

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Jornalista da DW Kay-Alexander Scholz
Jornalista da DW Kay-Alexander Scholz

Nas últimas eleições parlamentares alemãs, em 2013, a situação era bem diferente. Angela Merkel já havia anunciado dois anos antes que não pensava em deixar a Chancelaria Federal em Berlim. Mas agora, na Alemanha, as férias de meio do ano quase chegaram ao fim, e os cidadãos do país ainda não sabem se a chefe de governo vai enfrentar a campanha eleitoral em meados do próximo ano.

Desta vez, Merkel mantém o suspense. Para ela, no entanto, a situação não poderia ser diferente. Pois, em 2011, o mundo ainda estava em ordem na neoconservadora Alemanha. As crises de então ainda estavam bem longe – ou seja, em outros países-membros da União Europeia (UE). Era grande a popularidade da chanceler, e a campanha eleitoral de então girou em torno unicamente de sua pessoa.

Há um ano, a crise de refugiados mudou tudo. A população está dividida. Metade dela continua aprovando a chanceler federal. A posição do restante varia da crítica à hostilidade. Muitos na base do próprio partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), estão desapontados ou passaram para o AfD, o partido populista Alternativa para a Alemanha. Merkel? Isso é coisa do passado.

Por esse motivo, desta vez, Merkel se encontra atualmente bastante dependente da legenda-irmã, a CSU (União Social Cristã) da Baviera. Mas a política de refugiados irritou tanto esse partido que alguns da liderança social-cristã já ameaçam com um candidato próprio. Outros manifestaram publicamente ao menos não querer apoiá-la.

De qualquer forma, o presidente da CSU, Horst Seehofer, se mantém na retaguarda, rejeitando o apoio a Merkel. Pois ele ainda não sabe se deve ou não apostar na atual chanceler federal para a corrida à chefia de governo em Berlim. Atualmente, o clima político é simplesmente de muita insegurança.

Paira no ar, por exemplo, a questão: a situação de terrorismo vai continuar tão quieta quanto até agora ou vão acontecer atentados na Alemanha – praticados possivelmente por um refugiado que o país acolheu? Depois dos ataques em julho, o clima entre a população mostrou o quanto a aprovação de Merkel e da CDU ainda pode desabar para o fundo do poço. A CSU teria de enfrentar o perigo de ser levada para as profundezas. Contra isso, somente um afastamento claro de Merkel poderia ajudar.

Em breve, no mês de setembro, vão acontecer duas eleições estaduais. Os institutos de opinião ousam apenas previsões quanto ao desempenho da CDU ou AfD. Especialmente no estado-natal de Merkel, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, a Alternativa para Alemanha poderia se tornar a segunda maior força política. Seria um desastre para a CDU e sua presidente.

Também há incerteza sobre como os números de refugiados vão evoluir. Os prognósticos mais recentes preveem "somente" 300 mil migrantes em 2016. Ou seja, bem menos que os um milhão de pessoas que vieram para a Alemanha no ano passado. No entanto, se o acordo entre a UE e a Turquia ficar ainda mais frágil, a pressão migratória poderia aumentar. Então o célebre slogan de Merkel – "Nós podemos fazê-lo" – provocaria ainda mais descontentamento.

Mas se os próximos meses transcorrerem calmos sob o ponto de vista da União CDU/CSU, então uma candidatura de Merkel não encontraria obstáculos. Não existe nenhum sucessor que se encontre em fase de preparação. Em muitos assuntos europeus, da crise da Ucrânia à saída do Reino Unido da UE, a chanceler federal alemã é um ponto firme. Ela também vê a situação dessa forma e não mostrou, até agora, nenhum sinal de cansaço.

No cronograma existe, porém, uma data que Merkel tem em mente. Em dezembro próximo, a CDU vai se reunir em seu congresso anual. Em Berlim, já consta que ela pretende continuar presidente da legenda por mais dois anos. Nesse contexto, a pergunta sobre sua candidatura à Chancelaria Federal também deveria estar respondida.

Caso permaneça na Chancelaria Federal após as eleições parlamentares de 2017, Merkel poderia equiparar o seu mandato ao do "eterno" chanceler federal Helmut Kohl, que governou a Alemanha de 1982 a 1998.