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Opinião: Não podemos abandonar quem combate a xenofobia

Naomi Conrad (md)7 de abril de 2015

Ataque ao centro de refugiados de Tröglitz não é incidente isolado na Alemanha, onde mais de 150 atos do tipo foram registrados em 2014. Sociedade deve reagir contra a intolerância, opina Naomi Conrad, da DW.

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Articulista da DW Naomi ConradFoto: DW/S. Eichberg

Durante uma concorrida reunião na prefeitura de Tröglitz na última terça-feira (31/03), Christoph Giegold, um homem alto, de aparência preocupada, em seus 40 anos, balançou a cabeça, desanimado, dizendo ter medo de que um dia seu vilarejo no leste da Alemanha seja mencionado em livros de história ao lado de lugares como Solingen, Mölln e Hoyerswerda. Todas as três são cidades alemãs famosas por terem sido palco de crimes da extrema direita contra estrangeiros.

Menos de uma semana depois, Giegold parece estar certo: o telhado da casa em Tröglitz destinada a alojar 40 requerentes de asilo a partir de maio foi incendiado na madrugada de sábado. Os investigadores acreditam que o ataque foi motivado politicamente.

Não sabemos ainda quem está por trás do atentado e talvez nunca venhamos a saber com certeza. Mas estava pensando que talvez tenha sido o homem irritado, de cabeça raspada e com punhos cerrados, que insultou os políticos locais reunidos na prefeitura.

Ou talvez tenha sido alguém da minoria da plateia que aplaudiu e acenou vigorosamente com a cabeça, em sinal de aprovação, enquanto o sujeito irritado extravasava sua xenofobia e racismo, e que vaiou quando os outros clamavam por compaixão e compreensão.

Ou talvez tenha sido um dos seguidores ou militantes do NPD – a maioria, de fora de Tröglitz – que haviam orquestrado os protestos semanais contra o plano para abrigar os requerentes de asilo. Muitos deles seriam experientes ativistas de direita, que viajam de uma manifestação à outra, fomentando e construindo ressentimento e ódio por onde passam. Talvez tenha sido aqueles que ameaçaram de morte políticos locais que saíram em defesa dos refugiados.

Sejamos honestos, o ataque incendiário não veio como uma surpresa completa ou, pelo menos, não deveria ser: na Alemanha de hoje, ataques contra refugiados e os prédios que os abrigam não são incidentes isolados.

Muito pelo contrário: de acordo com números do governo citados no início deste ano pelo jornal berlinense Der Tagesspiegel, em 2014 ocorreram cerca de 150 atos de violência contra requerentes de asilo e seus abrigos, incluindo ataques incendiários. Em 2013, houve 58 ataques, contra 24 em 2012.

E tem havido, ainda, um aumento no número de manifestações e passeatas de extrema direita nos últimos meses – especialmente do Pegida, movimento alemão que se diz contra a "islamização do Ocidente" e que tem atraído atenção internacional.

O extremismo de direita é generalizado, horrível, terrível e perigosamente – e cabe a todos nós, nas sociedades ocidentais, tomarmos posição.

Em Tröglitz, muitas pessoas permaneceram em silêncio, segundo Markus Nierth, ex-prefeito que renunciou ao cargo quando protestos da extrema direita cresceram e autoridades locais se recusaram a proibir uma marcha em frente à casa dele. Ele disse na semana passada que renunciou porque se sentiu abandonado, deixado sozinho em sua luta.

E ele tem razão. Não podemos abandonar aqueles que se levantam contra o extremismo de direita. Não podemos aceitar que partes do leste da Alemanha pareçam ter se transformado em áreas interditadas para aqueles que têm aparência estrangeira ou que autoridades pareçam fazer vista grossa para o extremismo de direita.

E, mais importante, o direito de asilo não é discutível. É nosso dever acolher os requerentes de asilo, para acomodá-los e tratá-los com respeito e de forma humana – e isso inclui procedimentos justos e iguais, não importa se eles são de Síria, Etiópia ou Kosovo.

Assim, quando a indignação e o exame de consciência sobre o mais recente ataque incendiário tiver arrefecido na Alemanha – o que, sem dúvida, ocorrerá em breve – não nos esqueçamos daqueles que tentam se levantar contra a xenofobia e proteger aqueles que vêm em busca de abrigo.

Caso contrário, não será só Tröglitz que corre o risco de entrar para a história ao lado de Solingen, Mölln e Hoyerswerda, mas, talvez, todos nós.