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Nova coalizão em Berlim sinaliza estagnação em vez de arrancada

Henrik Böhme (av)16 de dezembro de 2013

Economia alemã é hoje a locomotiva da União Europeia. Tudo vai bem nas exportações, no mercado de trabalho e na arrecadações de impostos. Porém há sinais de que isso mudará com o novo governo, opina Henrik Böhme.

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A partir da próxima semana, a Alemanha finalmente voltará a ter um governo operante. Em boa hora, pois é gigantesca a montanha de tarefas que espera a nova "grande coalizão", formada pelo Partido Social-Democrata (SPD) e pelos conservadores da União Democrata Cristã e da União Social Cristã (CDU/CSU).

Deutsche Welle Henrik Böhme Chefredaktion GLOBAL Wirtschaft
Henrik Böhme, da editoria de Economia da DWFoto: DW

À primeira vista, as pré-condições para essa arrancada parecem boas. A economia alemã é a única da União Europeia a ter atravessado a crise sem maiores avarias. As exportações correm bem, o mercado de trabalho se mostra robusto e as arrecadações tributárias afluem. O êxito se deve à contribuição de muitos: tanto empresários inteligentes quanto sindicalistas flexíveis, e – também – ao governo anterior, composto pela CDU/CSU e os liberais do FDP.

Porém, quem folheia agora o contrato de coalizão entre conservadores e social-democratas tende a ficar preocupado que a história de sucesso da Alemanha dos últimos anos não tenha seguimento. O documento, que forma a base para o trabalho de governança nos próximos quatro anos, evoca mais estagnação do que arrancada. Em vez de sinalizar a intenção de fazer do país um pioneiro do progresso tecnológico – em oposição à concorrência, sobretudo da Ásia –, o contrato diz, antes: "Vamos continuar do jeito que está".

Basta mencionar quatro palavras-chave: mudança demográfica, infraestrutura, educação, reforma energética. Esta última – em si, uma iniciativa excelente, mas cuja implementação tem sido, até agora, um fiasco total – ficará a cargo de um "superministro", o líder do SPD Sigmar Gabriel. Ele assumirá simultaneamente as pastas da Economia e Energia.

Difícil perceber o que há de "super" nessa decisão. Pois parece improvável que o Ministério da Economia – associado ao setor industrial – se preste a ser o local onde os grandes conglomerados energéticos se converterão das fontes tradicionais de energia para as sustentáveis. Aqui, a primeira prova de fogo para Gabriel já se anuncia na próxima semana, caso a UE decida, de fato, abrir processo contra a Alemanha, por considerar seus subsídios à energia renovável uma forma de concorrência ilícita.

Nos demais campos problemáticos, a situação é semelhante. No tocante à infraestrutura, a Alemanha está consumindo suas próprias reservas. De fato, o novo governo está decidido a combater a situação, porém as verbas destinadas não bastam, de forma alguma, para tornar as rodovias, ferrovias e a rede digital aptas para o futuro.

Em relação à mudança demográfica, o seja, o envelhecimento da população, é preciso ação urgente, de forma a compensar a perda de milhões de trabalhadores. No entanto, em vez disso, o novo governo em Berlim começa por distribuir atos de beneficência que custarão milhões, como a aposentadoria integral aos 63 anos de idade.

Não há como se livrar da suspeita de que essa grande coalizão não promoverá o avanço da Alemanha. Há demasiada desconfiança em jogo, e sobretudo os social-democratas – atuais parceiros minoritários da coligação – estão excessivamente fixados em seus planos para 2017, ano das próximas eleições parlamentares. É preciso que muita coisa mude, caso se queira evitar que o balanço final seja: foram quatro anos perdidos para a Alemanha.