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O caminho certo para domar a China

Martin Fritz, Journalist in Tokio
Martin Fritz
16 de novembro de 2020

Ao fechar o maior tratado de livre-comércio do mundo, países asiáticos provam ter visão estratégica e confirmam que não há como deter a ascensão chinesa através de confrontação, como pretendem os EUA, opina Martin Fritz.

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Vietnam Hanoi | Abschluss virtueller ASEAN-Gipfel | Freihandelsabkommen
Premiê Li Keqiang (esq.) ministro do Comércio Zhong Shan, da China, na assinatura da RCEPFoto: Nhac NGUYEN/AFP

Como fazer que a China siga os princípios da ordem econômica mundial liberal? Os Estados Unidos sob Donald Trump apostam em sanções, proibições de investimentos e sobretarifas para determinadas empresas chinesas, e promovem um "desacoplamento" em relação à potência asiática.

A Ásia-Pacífico, em contrapartida, opta pela abordagem contrária, ou seja: redução de taxas alfandegárias dentro da maior zona de livre-comércio do mundo, a Parceria Regional Econômica Abrangente (RCEP, na sigla em inglês), com 2,2 bilhões de habitantes e quase 30% do desempenho econômico mundial. O tratado de criação foi assinado neste domingo (15/11), e esse caminho promete definitivamente mais sucesso para "domar" a China.

Os EUA tentam desacelerar o processo de sua substituição pela China como superpotência. A política anti-Pequim de Trump reflete o consenso da elite americana de manter a própria supremacia pelo maior prazo possível. Contudo não há mais como deter a ascensão chinesa. Parece perfeitamente realista que o país vá duplicar seu desempenho econômico até 2035, como indicam as metas de crescimento mais recentes. Desse modo, tomaria o lugar dos EUA como principal potência econômica mundial.

Ao contrário dos americanos, os vizinhos asiáticos da China aceitaram essa iminente troca de poder. Como pensam no longo prazo, uma guerra fria não é opção realista para eles. Em vez disso, optam pela cooperação, a fim de colocar correntes na China. Foi também a partir dessa perspectiva que os aliados dos EUA Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia assinaram o maior acordo de livre-comércio do mundo.

Ao participar da RCEP, eles se beneficiam do crescente poder econômico chinês, sem aceitar se transformar em vassalos de Pequim dentro de algumas décadas. Seul e Tóquio, em especial, têm larga experiência em cultivar relações econômicas intensas com a poderosa vizinha, mas mantendo a distância política.

Ásia, centro da economia mundial

Os cossignatários do tratado reconhecem que, por duas vezes, a China salvou a economia mundial: com seu gigantesco programa de investimentos após a crise financeira global de 2008-2009, e agora através de um rápido incentivo conjuntural após o combate ao coronavírus. Em vez de isolar Pequim, eles preferem manter o diálogo, a fim de influenciar os acontecimentos segundo seus interesses.

Mais uma vez, as nações asiáticas provam sua capacidade de visão política e raciocínio estratégico. Através do vertiginoso crescimento de sua classe média, a região impulsionará a economia mundial nas próximas décadas, tornando-se uma zona de comércio unificada, com a China no centro, como hoje é a Europa com a Alemanha, e a América do Norte com os EUA.

Em seus oito anos de mandato, o presidente Barack Obama orientou o país para a Ásia. Seu então vice e futuro presidente dos EUA, Joe Biden, deveria retomar esse curso, escolhendo o caminho da cooperação com Pequim. Nesse sentido, ao assinar o tratado da RCEP, os vizinhos asiáticos da potência também sinalizaram seu desejo de uma mudança de estratégia por parte de Washington. Pode-se interpretar isso como uma vitória para a China – e também classificar como realismo político.