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Opinião: O lado positivo da ascensão de Trump

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Michael Knigge
5 de maio de 2016

Com a desistência de seus adversários, magnata tem tudo para ser o candidato republicano. É difícil de engolir, mas pode ser bom para a democracia americana e o próprio partido, opina o jornalista Michael Knigge.

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Michael Knigge é jornalista da redação inglesa da DW e especialista em política americana.
Michael Knigge é jornalista da redação inglesa da DW e especialista em política americana.

Donald Trump é um demagogo. Ele joga as pessoas contra as outras apelando aos seus instintos mais baixos. Sua campanha tem sido uma longa bravata alimentada por uma constante difusão de medo e da crença de que a solução para todos os erros do país está em uma figura autoritária – como ele – com a vontade de corrigi-los. Por todas essas razões, uma pessoa como Trump nunca deveria ter a permissão de disputar cargos públicos, e muito menos a presidência do país mais poderoso do mundo.

Dito tudo isso, ainda assim, é bom e importante frisar que, após sua vitória em Indiana e desistência de seus dois últimos adversários, Trump é de fato o candidato do Partido Republicano à disputa pela Casa Branca.

Primeiro, no momento em que a confiança nos partidos estabelecidos, nos políticos tradicionais, no sistema político e no processo democrático têm erodido dramaticamente – como evidenciado pela ascensão de Trump e Bernie Sanders – é crucial que as regras do jogo democrático não sejam mudadas no meio do caminho.

Ao passar o rolo compressor sobre Ted Cruz em Indiana, Trump colocou um fim a qualquer esperança de seus rivais ou da liderança do Partido Republicano de talvez retirar, de alguma maneira, a sua nomeação como candidato republicano por meio de acordos de bastidores de última hora ou a mudança de regras em uma convenção de partido contestada.

Tal cenário teria sido um desastre para o processo democrático, por mais falho que ele possa ser, e só alimentaria o ressentimento e desconfiança de muitos eleitores americanos.

Dito de outra forma: Trump ganhou 28 primárias até agora em comparação com os 14 êxitos somados peles seus concorrentes mais próximos, Ted Cruz, John Kasich e Marco Rubio. Ele também superou seus rivais recebendo mais votos e mais delegados. Tudo isso faz de Trump o vencedor decisivo das primárias republicanas.

É difícil de digerir, mas ele recebeu o direito de ser o porta-bandeira do Partido Republicano nas eleições presidenciais deste ano. Negar-lhe o direito seria apenas provar o que Trump recentemente usou de forma hábil para marcar grandes pontos políticos, quando disse que o sistema político é "manipulado".

A vitória de Trump é também importante para o Partido Republicano – ou o que restou dele. Por muito tempo, a uma vez orgulhosa legenda de Abraham Lincoln conseguiu evitar um longo e duro olhar introspectivo no que ela se tornou desde que permitiu que radicais do movimento ultraconservador Tea Party fizessem dela o que bem entendessem.

Agora, o partido tem que enfrentar as consequências de seus próprios erros. Talvez uma primária em que seus dois principais candidatos, Trump e Cruz, tiveram sucesso ao insultar de forma explícita sua própria legenda daráfinalmente uma pausa ao Partido Republicano. Já é mais do que tempo para os republicanos conduzirem uma autópsia completa de sua história recente e mudar o curso.

A terceira razão para a importância da nomeação de Trump: ela dá aos eleitores americanos a chance de mostrar que o magnata não fala pela maioria deles na eleição geral.

É essencial para a saúde do sistema político que demagogos como Trump – que têm um forte apoio do barulhento, mas comparativamente menor segmento dos eleitores que votam em primárias – sejam colocados em seu lugar em novembro. A democracia americana é forte e vibrante suficiente para fazer isso.

Michael Knigge é jornalista da redação inglesa da DW e especialista em política americana.