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EsporteAlemanha

O legado de Joachim Löw está manchado

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Matt Pearson
10 de março de 2021

Técnico transformou o futebol alemão e ganhou uma Copa. Mas ele se apegou ao cargo, e a seleção alemã estagnou. Löw tem a chance de redenção na Eurocopa, mas seu legado já está manchado, opina Matt Pearson.

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Joachim Löw marcou uma era na seleção alemã
Joachim Löw marcou uma era na seleção alemãFoto: Markus Gilliar/GES/picture alliance

Levando em conta seu sucesso ao reformar o futebol alemão e na conquista de uma Copa do Mundo, é lamentável que a primeira reação à planejada demissão de Joachim Löw seja a pergunta "por que só agora", em vez de simplesmente um "por quê"?

A resposta à segunda pergunta é clara.

Desde o terrível desempenho da Alemanha na Copa de 2018, o rebaixamento na Liga das Nações e a goleada de 6-0 sofrida contra a Espanha, o técnico foi perdendo apoio – entre público, mídia e até entre seus ex-jogadores. A Federação Alemã de Futebol (DFB) hesitou, mas nunca lhe virou totalmente as costas.

Em certo ponto, isso é compreensível. A lealdade e o compromisso com a estabilidade são até admiráveis. Mas isso foi há muito tempo. Então, por que agora?

Löw começou como assistente de Jürgen Klinsmann em 2004, em um vento de mudança, sacudindo o sistema do futebol alemão. Depois, ao se tornar técnico da seleção em 2006, introduziu uma marca, construída em torno de um núcleo jovem de jogadores fora do velho molde do futebol alemão. Isso rendeu à Alemanha a Copa do Mundo em 2014.

Mas nos últimos anos, ficou cada vez mais claro que ele se tornou aquilo que foi contratado para substituir: o homem da empresa.

Cada humilhação foi seguida por renovados pedidos de paciência – fosse durante uma fase de reconstrução ou durante grandes análises e planos sobre o que deu errado e o que poderia mudar.

O time em campo começou a mudar tarde demais, sobretudo quando Müller, Boateng e Hummels foram afastados depois de 2018. Mas os resultados não apareceram.

A recusa de Löw em reavaliar uma decisão sobre Müller em particular foi uma indicação da teimosia que lhe marcou nos últimos anos. Aos 31 anos, Müller tem sido uma peça importante para o Bayern de Munique, o melhor clube do mundo, mas somente nos últimos dias Löw deu a entender que poderia mudar de ideia sobre o jogador.

Essa teimosia também se manifestou taticamente, com Löw lutando para se adaptar do futebol de posse de bola para um tipo de jogo mais rápido e de contra-atacante em que muitos de sua nova geração de jogadores cresceram.

Seu assistente de 2014, Hansi Flick, mostrou que tal adaptabilidade é possível – mas não sob Löw.

Mas apesar de toda a desconfiança sobre a seleção alemã, o talento está, sem dúvida, lá. Neuer, Kimmich, Sané, Goretzka, Havertz, Gündogan e Gnabry jogariam em qualquer seleção do mundo. E embora a defesa não seja mais o que era, há o suficiente para ganhar um torneio, quem quer que seja o técnico.

E talvez a Alemanha ganhe essa Eurocopa adiada, onde quer que ela ocorra, e Löw encerre sua passagem pela seleção como o segundo a ganhar o torneio europeu e uma Copa do Mundo, após Helmut Schön nos anos 1970, com a Alemanha Ocidental.

Talvez os últimos três anos de reveses tenham sido apenas parte do processo, ou talvez o núcleo do Bayern de Munique que conseguiu a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes sejam simplesmente bons o suficiente para vencer partidas, independentemente do que aconteça.

Mas no provável caso de não ganharem, o sucessor de Löw terá que limpar as teias de aranha, assim como ele mesmo fez em 2004.

Löw sempre terá o Rio e o Maracanã, mas deixar as coisas da mesma forma como ele encontrou não será um grande legado.

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O jornalista Matt Pearson é repórter da redação em inglês da DW.