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Campeão de exportações

9 de janeiro de 2010

A China assumiu o cobiçado título de "campeã mundial em exportações" ao bater a Alemanha em 2009 por 20 bilhões de dólares. Não há razão para preocupação, opina Rolf Wenkel, da redação de Economia da Deutsche Welle.

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Agora é oficial: a China ascendeu à posição de principal exportador do mundo, no ano passado. Entre janeiro e novembro, o país exportou mercadorias no valor total de 1,07 trilhão de dólares, segundo anunciou Pequim.

Conforme dados preliminares do Departamento Federal alemão de Estatísticas, no mesmo período as exportações alemãs tiveram um volume de 734,6 bilhões de euros (1,052 trilhão de dólares). A Alemanha, que durante décadas se orgulhou de ser "campeã mundial em exportações" tem de se dar por vencida por 20 bilhões de dólares.

Será que isso é razão para algum representante do setor econômico se jogar contra uma espada? Provavelmente não. Pois a comparação entre a Alemanha e a China não é nada mais do que uma bolha de dimensões exageradas criada pela mídia.

As pessoas adoram o mais alto, mais rápido, mais longe, mais caro – elas amam campeões do mundo. Histórias como essa sempre vendem bem – mesmo que tenham pouca relevância no mundo real.

Na realidade, há dois campeões de exportação: a Alemanha e a China. Ambas abastecem o mundo com os produtos que exportam – e de forma nenhuma se ferem mutuamente neste processo. Pelo contrário, os dois países são mestres na arte da divisão internacional do trabalho. Eles se complementam, em vez de concorrerem.

Isto se torna claro quando vemos de perto a estrutura e o destino dos fluxos de exportação da Alemanha e da China. A Alemanha abastece o mundo principalmente com bens de capital, como máquinas, equipamentos industriais e veículos. Já a China fornece ao mundo produtos de consumo, tais como equipamentos eletrônicos para entretenimento, produtos têxteis e brinquedos.

Considerando os destinos das exportações, pode-se exagerar um pouco e dizer que a Alemanha vende à China as máquinas e equipamentos necessários para a produção dos bens de consumo comprados a crédito nos Estados Unidos. Desta maneira, há dois campeões mundiais, e pelo menos um deles é financiado por um terceiro campeão mundial, ou seja, o campeão do consumo a crédito: Estados Unidos.

Especialmente a China se deixou levar nesse jogo de vida e morte. Pode-se dizer também que os dois países são refém um do outro. A China depende das exportações para os EUA e por isso, mesmo a contragosto, tem de assumir o risco de acumular reservas imensuráveis de dólares e de títulos de dívidas, cujo valor é questionável.

Os Estados Unidos, por sua vez, tornaram-se dependentes das importações provenientes da China e são agora o maior credor de Pequim. Uma desvalorização do dólar e uma valorização do iene chinês seriam bem acolhidas pelos norte-americanos, pois isso ajudaria a reduzir um pouco o enorme desequilíbrio na balança comercial entre os dois países. No entanto, os EUA precisam assistir passivamente como a China mantém o valor de sua moeda artificialmente baixo, protegendo sua indústria de exportação.

A posição da Alemanha é muito melhor, mesmo que tenha perdido o título de principal exportador do mundo. A rede de países que compram da Alemanha é muito mais diversificada – não há dependência de um único cliente. Portanto, vamos nos contentar tranquilamente com o título de vice-campeão – pois campeões do mundo nos corações nós já somos. Pelo menos no futebol. E isto é muito mais importante.

Autor: Rolf Wenkel (rw)
Revisão: Augusto Valente