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Opinião: Onde fica a frente na "vanguarda europeia"?

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
21 de julho de 2015

Presidente francês propõe uma velha ideia – de roupa nova – como solução para a crise da UE: formar um núcleo de vanguarda, com os países-membros mais fortes. Uma sugestão infeliz, opina a jornalista Barbara Wesel.

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Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel, jornalista política na sucursal da DW em BruxelasFoto: DW/G. Matthes

"Crises sempre deixaram a União Europeia mais forte" é um dos lugares comuns constantes do processo de unificação na Europa. O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, acaba de alertar contra essa crença infantil: ele não está certo de que dessa vez vá ser tão fácil.

E uma olhada na imprensa europeia mostra como a crise em torno da Grécia é estilizada como prova de fogo para a UE. Falta espírito de solidariedade, lamentam sobretudo os articulistas ingleses e franceses, os interesses nacionais triunfam, ficando expostos os profundos fossos nas questões econômicas e políticas.

Espanta que sejam em especial os blogs e jornais anglo-saxônicos a exigir, cheios de cólera e sarcasmo, solidariedade ilimitada da Alemanha para com a Grécia. Não são justamente os britânicos que se eximem de qualquer solidariedade? Isso mostra como os diferentes Estados-membros da UE são julgados com dois pesos e duas medidas.

Por um lado, é possível que seja simplesmente fruto de desapontamento essa raiva infinita contra os alemães, acusados, ao mesmo tempo, de uma política fiscal mesquinha e de um desejo de poder neocolonialista. Pois durante décadas valeu na UE a regra: em caso de dúvida, a Alemanha paga.

Durante um bom tempo o governo de Alexis Tsipras apostou nesse princípio. Onde quer que se precisasse de dinheiro na UE para eliminar problemas ou engendrar consensos, Berlim se mostrava generoso. Essa foi historicamente uma espécie de contribuição especial para "construir a Europa", e estava tudo certo. Economistas também denominam isso "custos do processo decisório". No entanto essa fase prolongada de pós-guerra passou.

Agora vem da França – que acusa o governo alemão de falta de visão europeia – uma velha ideia, com roupa nova: não precisamos de menos, mas sim de mais Europa, e devíamos fundar um tipo de aliança de vanguarda, disse François Hollande.

Há 20 anos essa discussão volta intermitentemente à tona, sob a noção de um "núcleo europeu": alguns Estados dispostos deveriam se unir mais fortemente e já partir para instituições comuns, enquanto os demais viriam mancando atrás. E aí o presidente francês entra numa verdadeira volúpia europeia, propondo "tomar a ideia de um eurogoverno e dotá-la de um orçamento e um parlamento próprios".

Continue sonhando, François! E diga logo se o ministro das Finanças deve ser alemão ou francês. O injustamente injuriado chefe de pasta alemão, Wolfgang Schäuble, deve estar tendo um déjà-vu bem estranho: na década de 90 ele não já via na Alemanha e França o "núcleo sólido" dessa vanguarda europeia?

Nesse novo debate sobre visões e metas europeias mistura-se tudo a bel-prazer: a história cultural do continente, ideais e tabelas de Excel, o corte de dívidas e o orgulho nacional dos povos. O resultado é um caótico novelo de ideologias e sonhos de um mundo melhor.

E então onde fica "a frente" ou, justamente, a vanguarda? A vida seria melhor se a Alemanha e a França estivessem mais fortemente atreladas uma à outra? Os vizinhos franceses estão diante de um acúmulo de reformas não realizadas, lutam com seu Estado social inflacionado e o eterno gene revolucionário de todos os franceses.

Na Alemanha há um certo excesso de neoliberalismo, há todo tipo de feridas sociais para se sarar, e dentro do cidadão alemão continua habitando um diabinho da poupança e da ordem. Então são esses dois que vão formar agora uma espécie de eurogoverno, para estabelecer regras comuns? Até o momento isso não funcionou, por que daria certo agora?

Fundamentalmente: será esta época de crises e distorções, insultos e conflitos explosivos o momento certo para mais um corajoso salto para o nada? Provavelmente não. E continua pairando o perigo de uma fragmentação da Europa em grupos geográficos, econômicos ou políticos, que poderá levar a uma dissolução total. Quem, enquanto "país de segunda classe", vai querer estar no grupo dos retardatários, dos endividados, inaptos a reformas?

Falta de coragem pode paralisar a Europa, mas o excesso pode matá-la. Não queremos cometer suicídio por medo de uma briga na família, mesmo tendo que admitir que há muito tempo o clima não era tão pesado. A próxima crise, porém, que não será grega, deverá chamar novamente a atenção para as vantagens de pertencer a esse conflituoso clã, apesar de tudo.