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Solução equivocada

17 de dezembro de 2008

Por medo de uma recessão mais forte, banco central dos EUA anunciou baixa histórica de juros, que atingem de fato o patamar de 0%. Rolf Wenkel questiona se o Fed não está, com isso, desperdiçando munição.

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Rolf Wenkel
Rolf Wenkel

Em Wall Street, a decisão história do banco central norte-americano desencadeou, de início, uma ascensão astronômica, com o índice Dow Jones subindo mais de 350 pontos ou 4,2%. No entanto, esta euforia pode levar rapidamente a uma desilusão, se não a uma nova queda vertiginosa. O que poderá acontecer quando os investidores norte-americanos perceberem porque o Fed (Federal Reserve) atirou pela janela sua política de juros conduzida até agora, bem como todos os seus receios.

Quando os juros-guia caem num corredor de 0 a 0,25%, isso significa que a corda está no pescoço. A economia norte-americana ameaça despencar numa crise deflacionária. O consumo privado, os investimentos e a produção industrial decaem há meses. A ameaça é a da pior depressão econômica dos últimos 80 anos. Numa situação como essa, o correto é facilitar ao máximo empréstimos e investimentos, já que o banco central, devido à queda na demanda e dos preços de matéria-prima e energia, não pode mais levar em consideração os perigos de uma inflação.

A questão é, contudo, o que o Fed vai realmente querer fazer, se esse ato de desespero não for suficiente. Pois com esse passo, sua munição já foi quase que desperdiçada por completo. Para abaixo de zero fica difícil descer. Parece evidente que o banco central norte-americano não acredita mais em sua própria política financeira, o que se percebe em outros indícios. O Fed não só injeta, há meses, liquidez no mercado, como quase assume o papel de uma máquina de imprimir dinheiro. Antes, os bancos precisavam entregar títulos de valores de primeira classe a fim de conseguir dinheiro do banco central. Hoje não é mais assim. O Fed está disposto a comprar títulos de dívidas, hipotecas que não valem nada ou empréstimos públicos de longo prazo – contanto que o mercado de crédito não seque totalmente.

As grandes economias estão agora ameaçadas de seguir um caminho como o do Japão? O banco central japonês, recordemos, conduziu, por quase uma década, uma política de juros zero. A economia do país, no entanto, precisou de quase uma década para se recuperar. Se a maior economia, que foi um dia motor da conjuntura mundial, for também agora precisar de dez anos para se recuperar, as previsões então serão realmente as piores.

De qualquer forma é difícil compreender por que o mesmo recurso que um dia possibilitou a crise financeira global seria agora o meio de salvação da economia, ou seja, as injeções quase ilimitadas de liquidez no mercado. A opção por este meio, depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, foram uma decisão correta, que protegeu os EUA de uma longa recessão. Agora, no entanto, o Fed perdeu a oportunidade de puxar novamente os freios na hora certa. Pois foi exatamente o excesso de liquidez que seduziu os bancos a convencer as classes de baixa renda a assumir empréstimos para a construção da casa própria, além de terem inventado cada vez mais novos produtos financeiros abstratos e arriscados. O que, no fim das contas, acabou levando à crise atual. O fato de que exatamente esse meio – ou seja, a injeção ilimitada de liquidez no mercado – deva levar ao fim da crise é correto, embora seja praticamente incompreensível para um leigo.

Para os europeus e para o resto do mundo resta ainda uma esperança: que os norte-americanos enfim compreendam, com a crise, que não podem continuar eternamente financiando o crescimento e o bem-estar através de injeções de capital. Pois aquele que educa seu povo com o estilo de vida do "buy now, pay later" (compre agora, pague depois) ou que quer enganar seus investidores afirmando que através de trabalho honesto é possível obter rendimentos de 25% ou mais a longo prazo, não está agindo de forma mais séria que o malabarista na esquina que tenta extorquir dinheiro de turistas desavisados. (sv)

Rolf Wenkel é redator da editoria de Economia da Deutsche Welle