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Opinião: Política nuclear de Obama fracassou

24 de maio de 2016

Em Hiroshima, o presidente do EUA pode falar o que quiser sobre seu comprometimento com um mundo sem armas nucleares – a verdade é bem outra, afirma o jornalista Miodrag Soric, de Washington.

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Miodrag Soric é correspondente da DW em Washington
Miodrag Soric é correspondente da DW em Washington

Do ponto de vista político, o ano de 2009 parece ter acabado há uma eternidade. Naquele ano, um jovem presidente prometia esperança e mudança, um novo pensamento: fim aos velhos modelos da Guerra Fria! Passos enérgicos rumo a um mundo livre de armas nucleares! Era isso que Barack Obama dizia.

Ele anunciou uma grande redução dos arsenais nucleares. Não é de se admirar, portanto, que pessoas de todo o mundo se sentissem atraídas pelo novo homem em Washington. Os europeus se adiantaram e deram para ele o Prêmio Nobel da Paz, pouco se importando se ele havia acabado de tomar posse.

Os fatos, hoje: o antecessor, George W. Bush, reduziu o número de armas nucleares estratégicas de 6 mil para 2 mil. Obama desativou meras 500. De lá para cá, o governo dele anunciou que pretende reavivar o programa de armas nucleares. Nos próximos 30 anos, os Estados Unidos vão investir a astronômica quantia de 1 trilhão de dólares na construção de novos sistemas de lançamento, mísseis de longo alcance, uma dezena de submarinos e no desenvolvimento das chamadas mininukes, ou armas nucleares com uma potência inferior a cinco quilotons.

As consequências disso são enormes. Principalmente o desenvolvimento de armas nucleares pequenas vai alterar a arquitetura de segurança global. Seu poder de destruição pode ser inferior ao da bomba de Hiroshima, mas elas atingem o inimigo com maior precisão, afirmam os militares. O escrúpulo para o uso delas se torna cada vez menor.

E, assim, o mundo se torna um lugar menos seguro, afirmam os pesquisadores do centro de estudos Union of Concerned Scientists, de Washington. Obama é de outra opinião. Ele apenas quer deixar aos seus sucessores, em caso de conflito, "opções adicionais na hora de tomar decisões".

Só que, com isso, a caixa de Pandora se abre pouco a pouco. Russos, chineses e outras potências nucleares também já estão trabalhando em armas desse tipo. É, portanto, apenas uma questão de tempo para que torne impossível controlar essa variedade de mininukes. Terroristas vão se aproveitar dessa situação, ou pelo menos tentar. Com a construção das mininukes, políticos como Obama estão na verdade jogando roleta-russa.

Há vários motivos para o fracasso da política nuclear de Obama. Um deles é o fracasso na retomada das relações com a Rússia. Além disso resta saber se o Irã vai renunciar permanentemente às armas nucleares. Israel e muitos países árabes duvidam.

Em 2009, aquele que era uma fonte de esperança para muitos tentou um recomeço na política de segurança, só que cercado pelo velho establishment: Robert Gates, Hillary Clinton e o vice-presidente Joe Biden. Isso foi, no melhor dos casos, ingênuo. No pior, excesso de autoconfiança. Afinal, esses políticos são representantes dos tempos da Guerra Fria.

Em Hiroshima, Obama vai escolher palavras untuosas para os perigos da guerra nuclear. Mas os ouvintes não devem se deixar enganar: não é pelas palavras, mas pelas ações que irão reconhecê-lo.