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Treinos na Líbia

9 de abril de 2008

Um soldado e policiais alemães são acusados de terem treinado policiais líbios, sob mediação de uma empresa particular de segurança. Peter Philipp comenta as discrepâncias entre política e realidade.

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A indignação com a iniciativa particular de policiais alemães no treinamento de colegas líbios tem várias facetas e aspectos. Ela reflete condições intoleráveis e uma discrepância entre exigências morais da política e a prática cotidiana, da qual naturalmente se tinha conhecimento, mas que sempre se deixou de lado.

Peter Philipp

Assim, há tempos, serviços alemães de segurança mantiveram e mantêm contatos e relações também com regimes antidemocráticos, totalitários e repressivos no Oriente Médio e norte da África, enquanto a política critica oficialmente esses Estados e exige melhorias. Somente a tentativa de organizar a cooperação prática em nível privado – numa espécie de "Blackwater alemão" – chamou a atenção e provocou reações para o que já se deveria ter notado há muito tempo.

Onde se iria parar se policiais, membros de tropas de elite e outros peritos em segurança começassem a faturar por fora com treinamentos em países como a Líbia? Só que: tais cursos são melhores se organizados oficialmente e sancionados pela política?

Já antes do 11 de Setembro, fontes oficiais viam uma necessidade especial de se trabalhar com serviços secretos também de nações árabes, conhecidas por não se deixarem impressionar por objeções humanitárias ou de estado de direito.

No Iraque de Saddam Hussein, o BND [Serviço Federal de Informações] manteve sua maior filial na região e trabalhou com os serviços secretos da Argélia, da Tunísia e do Egito. Também houve "ajuda administrativa" do Líbano e da Síria – embora todos soubessem que nem tudo era legal. Mas o tema "combate ao terrorismo" dominou também aqui os postulados da moral política.

Tudo bem: não se pode escolher o parceiro de trabalho. E para evitar problemas ou riscos a para si próprio, é melhor não ver, não ouvir e, em caso de dúvida, nem saber sob que condições foi prestado um depoimento num país árabe. Certamente seria um mundo melhor se isso não existisse, um mundo onde a transparência fosse a regra.

Para aproximar-se ao menos em parte deste ideal, não basta esclarecer o escândalo dos cursos particulares a serviços de segurança na Líbia. É preciso tirar as conseqüências disso: em primeiro lugar, para que isso não se repita. Em segundo lugar, para que órgãos oficiais – inclusive ministérios e o BND – não continuem se escondendo por trás do "não sabíamos disso".

Mesmo que este argumento seja verdade: eles todos poderiam ter sabido e teriam que ter tomado providências. (rw)

Peter Philipp é chefe da equipe de correspondentes da Deutsche Welle e especialista em Oriente Médio.