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Opinião: Puigdemont foi do heroico ao ridículo

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
3 de novembro de 2017

Grandes convicções exigem gestos apropriados dos líderes. Empurrar a responsabilidade para seus ministros e fugir para Bruxelas é queimar o filme, afirma a correspondente Barbara Wesel.

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DW-Karikatur von Vladdo - Puidgemont

Ninguém sabe quem foi o engraçadinho que teve a ideia de fazer uma montagem com a figura de Carles Puigdemont como vendedor de batatas fritas em Bruxelas. Mas a imagem acerta em cheio: do sublime ao ridículo é só um passo. Ontem agitando bandeiras nas barricadas de Barcelona, hoje segurando um saquinho de batatas fritas na capital da Bélgica e da União Europeia.

Outros colocaram Carles Puigdemont, em fuga, disfarçado de Tintim, e deve-se dizer que o caráter ingênuo-juvenil desse herói dos quadrinhos combina bem com o líder catalão. O eurodeputado belga Guy Verhofstadt, porém, não se furtou a fazer um comentário: "Enquanto Tintim sempre encontra soluções durante suas aventuras, Puigdemont deixou caos e destruição na Catalunha."

Barbara Wesel
Barbara Wesel é correspondente em Bruxelas

Ao menos os apoiadores frustrados, os correligionários irritados e os investidores e empresários inseguros ficaram para trás. E também uma região governada de forma provisória por Madri, que, na condição de "poder interventor", mostra ser extremamente pragmática. Puigdemont parece ter superestimado o potencial revolucionário de seus compatriotas, sempre tão fáceis de incitar. Protestar num dia de sol é divertido, mas sacrificar qualidade de vida e empregos por um sonho nacionalista em vez de viver confortavelmente e de forma autônoma dentro da Espanha soa ridículo.

Mas o grão-catalão deveria ao menos saber que grandes convicções exigem grandes gestos dos líderes. Disso faz parte manter a cabeça erguida e, cantando hinos catalães à liberdade, defender a causa diante do tribunal, em Madri. Empurrar a responsabilidade para os seus ministros e evaporar na neblina da noite é queimar o filme. Pior ainda é ser visto comendo batata frita em Bruxelas.

Esse teatro todo sobre a independência da Catalunha, com Carles Puigdemont no papel principal, sempre teve algo de comédia burlesca. Comparar o governo espanhol à ditadura de Franco é – dependendo do gosto – ridículo ou descarado. O constante apelo à democracia soa oco se os próprios líderes rebeldes desrespeitam as suas regras. E, no fim, o ex-presidente e os seus se revolvem no papel de vítima criado por eles mesmos. E isso sempre com um olho no público, para ver se alguém se impressiona.

Na Rússia, na Turquia ou em outros países, pessoas estão na cadeia por causa de suas posições políticas ou profissões. Em comparação com isso, esse teatro na Catalunha é apenas constrangedor. Esses heroicos paladinos da independência parecem estar sempre gritando: "Nós queremos ser oprimidos!" Tudo para justificar os próprios objetivos e garantir acesso a prebendas públicas, aos privilégios do poder provincial e a um lugar nos noticiários.

Também constrangedor é contar aos seus apoiadores a historinha da ajuda europeia e, na hora H, nada disso ser verdade. Pois nem a União Europeia nem a Bélgica, que de forma involuntária tornou-se o país anfitrião de Puigdemont, querem estender a mão para rebeldes secessionistas. Eles esperam pelos líderes catalães com a mesma ansiedade que se espera pela peste. Se os belgas tiverem sorte, a Justiça deles vai acolher o mandado de prisão europeu e não vai complicar a extradição de Puigdemont – o que também seria uma forma de conter as pretensões separatistas internas, dos flamengos.

O presidente no exílio, como ele se refere a si mesmo em tom magniloquente, se reencontrou na internacional dos radicais nacionalistas europeus, sob os aplausos da ala à esquerda. Como diz mesmo o ditado? Quem procura as más companhias nelas perecerá.